• Merenda sem frutas, legumes ou verduras

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  • 27/11/2017 12:10

    A promessa de merenda nutritiva nas escolas municipais parece não estar sendo cumprida em algumas unidades da rede municipal de ensino. Pais e alunos denunciam falta de verduras, legumes e frutas. No Centro de Educação Infantil Professora Graça Costa, em Pedro do Rio, na última semana houve dia em que no prato servido a crianças da Educação Infantil havia apenas arroz e feijão. Depois de reclamações, o frango chegou no fim do dia, mas os legumes, verduras e frutas ficaram na promessa. Foram os pais que, mobilizados, levaram doações à escola.

    “É um absurdo. Desde o início do mês estamos percebendo que faltam verduras, legumes e frutas. Quando chegam, vêm em quantidade insuficiente para todos. Na última semana, depois de uma mãe reclamar, entregaram uma abóbora e uma melancia. A direção diz que a questão está sendo resolvida, mas quando? Entregar uma abóbora e uma melancia não resolve nada. Muitas crianças são de famílias muito humildes e passam o dia todo no colégio. É lá que fazem as refeições. As crianças comem. É verdade. Não passam fome. Mas ver propaganda dizendo que a merenda é super nutritiva chega a ser uma piada. Se estão comprando, onde estão? Porque na escola não está chegando”, criticou uma mãe.

    A explicação para o problema pode estar na relação entre o governo e os produtores rurais locais. Muitos estão enfrentando problemas porque plantaram itens contando com a venda para a Secretaria de Educação, mas a saída não tem sido a esperada. Os produtores foram procurados pela Tribuna mas, em negociação com a Prefeitura, preferiram não se pronunciar, mas em regiões como o Jacó e o Caxambu, o assunto não é segredo entre os moradores. Hoje, acontece uma reunião para tentar resolver a questão e o clima, ao menos entre os produtores, é de otimismo. 

    A Prefeitura diz que não há qualquer problema nessa relação. Alega que investiu R$ 1.212.376,12 em itens hortifrutigranjeiros só este ano e que os produtores têm um saldo do contrato em vigor de aproximadamente R$ 23 mil reais em produtos, que deverão ser entregues nas unidades escolares na próxima semana “Esperamos que a situação se resolva. Desde o dia 7 de novembro estamos percebendo problemas. A falta, que antes era esporádica, de repente ficou permanente”, lamentou a mãe. 

    Olhando as agendas das crianças é possível comprovar os relatos das mães. Do dia 7 ao dia 21 o almoço incluía apenas arroz, feijão, carne, frango ou ovo. No dia 17 o prato também tinha farofa e no dia 21, havia apenas arroz e feijão (sem carne, feijão ou ovo). As frutas, que também costumavam ser servidas como sobremesa ou no lanche, também sumiram da mesa dos pequenos. Em substituição foram servidos achocolatado, rosquinha e biscoito. “A Secretaria de Educação tem nutricionistas para orientar o cardápio das crianças, mas de que adianta ter um profissional para definir o que deve ser servido se não há itens para o preparo da merenda? Os funcionários fazem o que podem, mas não são mágicos”, criticou outra mãe. 

    As denúncias em relação à falta de itens no CEI Graça Costa são semelhantes às de alunos de outras unidades. Adolescentes que estudam na Escola Municipal Celina Schechner, em Santa Mônica, Itaipava dizem que os problemas têm sido recorrentes. “Esses dias não teve almoço para todos os alunos! Não comemos mais frutas há meses, no máximo bolachas de água e sal no lanche. Isso nos prejudica, pois, com fome, não conseguimos prestar atenção nas aulas. Ficamos quase o dia inteiro na escola e não estamos tendo o que comer. No meu caso, minha mãe está comprando lanche e levo de casa, mas muita gente depende das refeições da escola para comer, pois não tem condições financeiras para comprar um lanche ou comer bem em casa”, contou, em tom de lamentação, contou uma jovem de 14 anos.

    O mesmo se repete no Centro Educacional Frei Leão, no Alto da Serra. “Meu filho de 6 anos tem chegado em casa faminto. Como isso não era comum, perguntei o que estava acontecendo e ele disse que tem comido quase a mesma coisa todos os dias: macarrão com feijão. Sem frutas, as professoras estimulam as crianças a dormirem até mais tarde para que não precisem fazer o lanche da tarde. Um absurdo!”, lamentou a cozinheira Daniele Dutra.


    Nutricionista alerta sobre riscos

    Especialistas apontam que as necessidades de vitaminas na infância são determinadas por idade, peso, velocidade de crescimento, metabolismo, atividade física e processos infecciosos agudos. De acordo com o nutricionista Yuri Viveiros, a alimentação adequada é fundamental para a prevenção das deficiências nutricionais específicas.

    “A falta de legumes, verduras e frutas compondo a merenda escolar dessas crianças e adolescentes pode resultar em desnutrição, o que causará problemas á saúde delas. É importante que os pais não se enganem com o peso dos filhos. Isso porque eles podem apresentar sobrepeso e, ainda sim, estar com carência de vitaminas importantes. No caso dessas crianças que estão comendo em sua maioria macarrão, arroz e feijão, está ocorrendo muita ingestão de “calorias vazias”, como carboidratos e amidos, e baixa oferta de nutrientes”, explicou o especialista.

    Ainda segundo ele, a falta de uma alimentação adequada pode contribuir para déficit de atenção nos alunos, irritação e até doenças. Os problemas mais frequentes no público infantil que ingere poucas vitaminas são diarreia e doenças respiratórias, piorando ainda mais o “estoque” de vitamina A já baixo. 

    “A pouco ingestão de vitaminas afeta a saúde de qualquer pessoa, mas crianças e adolescentes precisam ainda mais de uma alimentação equilibrada. É justamente por isso que as escolas têm um programa específico para a alimentação”, lembrou.


     

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