• Cidade ainda tem 179 pessoas em abrigos; estimativa é de 4 mil desabrigados e desalojados após chuvas

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  • São nove abrigos espalhados pela cidade; prédio na Floriano Peixoto será novo abrigão

    10/04/2022 15:17
    Por João Vitor Brum, especial para a Tribuna

    **Matéria atualizada às 09h02 desta segunda-feira (11)

    Quase dois meses após a tempestade de 15 de fevereiro, a vida de muitas famílias de Petrópolis ainda não voltou ao normal. Enquanto há pessoas vivendo na casa de parentes ou até mesmo em imóveis que foram interditados pela Defesa Civil, outras 179 pessoas permanecem em abrigos, que nas últimas semanas foram transferidos de escolas municipais para outros espaços para garantir que as aulas nas unidades possam ser retomadas.

    Neste momento, há pelo menos nove abrigos em funcionamento, de acordo com a Secretaria de Assistência Social, e a estimativa é que cerca de quatro mil pessoas tenham ficado desabrigadas ou desalojadas após as chuvas.

    Entre os abrigados, 51 estão no Sítio São Luís, no Retiro. No local, estão 28 adultos, 10 crianças, sete idosos, cinco adolescentes e uma pessoa com deficiência motor. Já no abrigo da Paróquia do Rosário, na localidade de Santa Isabel, no Caxambu, são 28 pessoas abrigadas, entre elas 11 crianças, três idosos e dois adolescentes, em um total de seis famílias. O total de pessoas nos outros sete abrigos não foi informado.

    Na última semana, o Estado atualizou o número de famílias cadastradas no Aluguel Social. Antes, o total ficava em torno de 2.900, e, agora, já está em 3.700. Porém, entre estes cadastros, cerca de mil possuem inconsistências, como falta de informações, duplicações ou mais de uma pessoa do mesmo núcleo familiar solicitando o benefício.

    Segundo o secretário municipal de Assistência Social, Fernando de Araújo, o cruzamento de dados ainda está em andamento.

    “Ainda temos uma dificuldade em chegar a um número total de pessoas que precisaram deixar suas casas, porque, além de muitos cadastros duplicados entre a Prefeitura e o Estado, muitas famílias foram embora da cidade depois das chuvas e só agora estão voltando. Algumas não tinham condições psicológicas de ficar por aqui e agora estão buscando o apoio do poder público, então o número continua crescendo”, explicou o secretário.

    Neste sábado, o juiz da 4ª Vara Cível, Jorge Luiz Martins, pediu que Prefeitura e Estado entrem em consenso para definir estratégias de atendimento à população. Na decisão, o fato de que as administrações municipal e estadual não possuem o mesmo entendimento quanto a quem tem direito ao aluguel social é motivo de preocupação.

    Enquanto o Estado garante que o benefício não será pago a famílias locatárias e não proprietárias, o decreto municipal assegura o auxílio àqueles que ostentavam a posição de locatários nos imóveis perdidos ou interditado.

    Outro problema é o fato de que os decretos publicados falam apenas em famílias atingidas pela chuva de fevereiro, sem menção ao temporal de 20 de março. Porém, o secretário de Assistência garante que todos serão incluídos.

    “Entendemos que o decreto do dia 15 de fevereiro vale, também, para o dia 20 de março, pois se trata de uma mesma tragédia com duas chuvas diferentes. Por isso, o benefício com o valor de R$ 1 mil vale para famílias atingidas pelos dois temporais”, garantiu Fernando.

    A Defensoria Pública também tem acompanhado de perto toda a crise do Aluguel Social, como destaca Luciana de Almeida Lemos, defensora pública, coordenadora regional e em atuação no 8º Núcleo Regional de Tutela Coletiva.

    “A Defensoria Publica está atenta à situação. Há casos em que o benefício foi indeferido e, oficiaremos solicitando o motivo do referido indeferimento, já que não consta na listagem recebida, de modo a que possamos atuar coletiva ou individualmente. Em relação à falta de implementação por ausência ou inconsistência de dados, estamos em tratativas com Estado e Município na busca de solução célere. De igual modo, recomendaremos no sentido de que os laudos individuais dos 817 comtemplados sejam elaborados pela Defesa Civil no prazo de 15 dias, evitando, assim, corte do benefício”, explicou.

    Secretário confirma que imóvel na Floriano Peixoto será novo abrigão

    O prédio na Rua Floriano Peixoto, no Centro, que foi comprado pela Prefeitura para funcionar como um lar temporário para famílias que estavam em abrigos públicos, deve ser transformado em um novo abrigo público. Neste momento, o espaço está passando por adequações para que possa receber 32 famílias que estão abrigadas e buscando imóveis no Aluguel Social.

    “Nossa ideia é que a cidade tenha dois abrigos públicos, e o prédio da Floriano Peixoto será um deles. Nesse momento estamos fazendo reformas necessárias para que as famílias possam ficar temporariamente por aqui, mas ele vai ficar disponível para que vítimas de novas tragédias possam ser abrigadas sem que escolas sejam desmobilizadas”, explicou Fernando de Araújo.

    O imóvel custou R$ 3,5 milhões aos cofres públicos e foi pago com parte da verba de R$ 30 milhões enviada pela Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro. O espaço conta com 20 kitnets e 12 apartamentos, mas ainda não há previsão de data para que os abrigados se mudem para o local.

    Dificuldades em conseguir o aluguel social continuam

    Entre os afetados pelas chuvas, também há famílias que não deixaram seus imóveis mesmo após interdições da Defesa Civil. É o caso da Luciane, que mora na Rua do Túnel a vida inteira e está enfrentando dificuldades para encontrar um imóvel pelo Aluguel Social. O pai dela, inclusive, se mudou da região Norte do país para Petrópolis exatamente para trabalhar na construção do túnel extravasor. A casa dela fica ao lado do imóvel onde dois homens foram engolidos por uma cratera. Pra ela, toda chuva é sinônimo de desespero.

    “Quando chove, a gente não dorme com medo de ser engolido pelas crateras que estão abrindo na rua. A pressão psicológica tá grande e só piora, porque ninguém imaginava que estava tudo oco por dentro. Na chuva dessa sexta-feira, eu só ficava torcendo pro pior não acontecer, mas, por enquanto, são apenas sustos. Temos que ficar de olho em tudo, se tá igual, se algum novo buraco se abriu, tudo pra garantir que vamos poder voltar pra casa no fim do dia”, desabafou Luciane Cristina, contando, ainda, que as principais dificuldades com o Aluguel Social são os valores e os animais de estimação.

    “Eu consegui o benefício, mas não consigo encontrar um imóvel, porque ninguém aceita. Por um lado, tem casas que estão muito caras, acima de R$ 1.200. Do outro, os que estão em um valor que podemos pagar e aceitam o Aluguel Social não deixam levar animais de estimação, e eu tenho duas cachorras. Não vou abandoná-las, elas são parte da minha família, não posso deixar para trás. Enquanto isso, fico aqui, torcendo para aparecer alguma coisa, se não for engolida antes”, disse.

    Sobre as dificuldades relatadas pelas famílias, a Assistência Social garantiu que todos conseguirão novos imóveis em um prazo curto de tempo, mas sem estipular datas.

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