Itens reajustados pela Petrobras contribuíram com 0,56 ponto porcentual do IPCA
Os combustíveis reajustados nas refinarias pela Petrobras em 11 de março foram responsáveis juntos por 0,56 ponto porcentual da taxa de 1,62% registrada pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) no último mês. No entanto, as elevações nesses preços costumam afetar os demais produtos e serviços da economia, contaminando a inflação como um todo através de diferentes componentes, explicou Pedro Kislanov, gerente do Sistema de Índices de Preços do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
A gasolina subiu 6,95% nas bombas, impacto individual de 0,44 ponto porcentual no IPCA de março. O óleo diesel aumentou 13,65%, uma contribuição de 0,03 ponto porcentual. O gás veicular ficou 5,29% mais caro, contribuição de 0,004 ponto porcentual. O gás de botijão aumentou 6,57%, impacto de 0,09 ponto porcentual.
Os aumentos influenciaram diretamente itens como transporte por aplicativo (7,98%) e etanol (3,02%), mas também outros componentes, como os alimentos consumidos no domicílio (3,09%), através do encarecimento do frete.
“A gente tem diversos outros componentes do IPCA (contaminados pelos combustíveis), não tem como especificar, porque o custo do frete acaba afetando todos os outros itens da economia”, disse Kislanov. “De fato, o que acontece quando você tem uma alta do diesel e da gasolina é que tem um efeito em toda a economia. Todos os preços acabam sendo afetados, e isso acaba sendo repassado ao consumidor final”, afirmou.
Kislanov lembra que a inflação do mês de março foi muito marcada pela alta nos preços dos grupos Transportes (3,02%) e Alimentação e bebidas (2,42%), que responderam juntos por cerca de 72% do IPCA.
“Os alimentos também são afetados por condições climáticas, sem dúvida, mas os combustíveis encarecem o custo do frete”, disse o gerente do IBGE.
Nos alimentos comprados em feiras e mercados, os destaques negativos foram tomate, cenoura, frutas, cebola, açaí e leite.
“A gente observou altas bastante expressivas. Essas altas são explicadas não só por questões climáticas, mas muito provavelmente também pelo aumento do custo do frete, aumento do diesel”, disse Kislanov. “No geral, esse aumento de preços está atrelado a problema climático e custo do transporte para levar esse produto até o consumidor final”, completou.
No entanto, houve aumentos também em derivados de commodities agrícolas pressionadas no mercado internacional pela invasão da Ucrânia pela Rússia, como o óleo de soja e o pão francês. A coleta de preços para o IPCA de março abrange exatamente o primeiro mês de guerra, de 25 de fevereiro a 30 de março.
“O impacto mais claro que a gente teve foi nos preços dos combustíveis, como a Petrobras segue uma política de preços que segue o preço do barril de petróleo”, lembrou. “As altas de alguns preços de commodities agrícolas podem estar relacionadas à guerra, mas a gente não tem como cravar que o resultado A ou B é resultado direto da guerra”, ponderou.
A gasolina foi disparada a maior pressão, mas os aumentos permanecem disseminados entre os bens e serviços investigados. O índice de difusão do IPCA, que mostra o porcentual de itens com aumentos de preços, teve ligeira alta de 75% em fevereiro para 76,13% em março, maior porcentual desde fevereiro de 2016.
“A difusão mostra a inflação mais espalhada do que no ano passado”, disse Kislanov.
A difusão de itens alimentícios estava em 74% em fevereiro e assim permaneceu em março, enquanto a difusão de itens não alimentícios passou de 75% em fevereiro para 78% em março.
“O que aconteceu nos itens alimentícios é que as altas foram mais fortes do que no mês anterior. O número de produtos com aumentos foi o mesmo”, explicou Kislanov.
A inflação de serviços – usada como termômetro de pressões de demanda sobre a inflação – passou de uma alta de 1,36% em fevereiro para elevação de 0,45% em março. Já os preços de itens monitorados pelo governo saíram de uma elevação de 0,12% em fevereiro para um aumento de 2,65% em março.
Para Kislanov, ainda não há sinais de pressão de demanda sobre a inflação no País, que permanece turbinada pelos itens monitorados pelo governo, em particular os combustíveis. Ele acredita que seja preciso esperar uma melhora mais contundente na renda da população, que possa aumentar a demanda a ponto de influenciar os aumentos de preços.
“O cenário continua o mesmo. A gente tem cenário com alguns indicadores um pouco mais favoráveis, como redução do desemprego, uma renda que ficou estável, mas é um rendimento que não tem acompanhado a inflação. As pessoas ainda estão com a renda deprimida em termos reais, o que continua comprimindo o consumo”, justificou. “Inclusive alguns aumentos de serviços foram influenciados por custo de produção”, acrescentou.
No acumulado em 12 meses, a inflação de serviços passou de 5,94% em fevereiro para 6,29% em março, a maior desde dezembro de 2016, quando estava em 6,50%.
Já a inflação de monitorados em 12 meses saiu de 15,02% em fevereiro para 14,84% em março.