• Escritores lamentam morte e exaltam obra de Lygia Fagundes Telles

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  • 03/04/2022 15:23
    Por Redação, O Estado de S. Paulo / Estadão

    Lygia Fagundes Telles morreu na manhã deste domingo, 3, aos 98 anos de idade, em São Paulo. Autora de uma vasta e cultuada obra, influenciou diversos escritores e recebeu homenagens e elogios ao longo da vida.

    O Estadão colheu o depoimento de alguns nomes importantes da literatura nacional a respeito da perda.

    Ignácio de Loyola Brandão relembra: “Era alegre. Sempre morri de inveja dos títulos que criava. Gosto de uma definição dela sobre nossos ofício: ‘Vocação, sim acredito em vocação, sortilégio e magia, que nos puxa pelos cabelos e nos empurra nesta direção, e não naquela, a fatalidade'”. Para Milton Hatoum, “Lygia exerceu com pleno domínio a arte do romance e das narrativa breve. Era uma iluminada”.

    “Lygia era a grande dama não só da literatura mas da elegância e do carinho. Carinho esse totalmente insubstituível”, lamentou Luiz Schwarcz. Silviano Santiago destacou que o País “perdeu uma de suas maiores autoras”, que era “sincera sem ser agressiva com ninguém”. Sobre sua obra, Nélida Piñon avaliou: “Seus contos têm uma transparência e uma concretude raras. Também tinha as metáforas refinadas e importante participação nas campanhas cívicas: nunca deixou de se manifestar em eventos humanísticos.”

    A agente literária Lucia Riff relembrou encontros com a autora, e ressaltou: “Lygia foi uma mulher de vanguarda, uma feminista, forte e corajosa e deixou uma obra extraordinária.” Eduardo Saron, diretor do Itaú Cultural, comentou: “Se, por um lado, perdemos mais uma mente generosa, inteligente e humanista, por outro, mantemos todas as palavras que nos ofereceu durante sua longa vida e nos deixou.”

    Em nota oficial, a Academia Brasileira de Letras, da qual Lygia fazia parte desde outubro de 1985, ocupando a cadeira 16, destacou que a escritora foi “considerada uma das grandes referências no pós-modernismo, tendo escrito obras que abordam temas diversos, como a morte, o amor, o medo e a loucura, além da fantasia”. Já Daniel Munduruku, em postagem no seu Twitter, destacou que o legado de Lygia “viverá para sempre”.

    Confira a íntegra dos depoimentos abaixo.

    “Lygia estava com seus oitenta e tantos anos e enfrentava viagens aos lugares mais malucos deste País, com um entusiasmo inaudito. Não podíamos sair para fazer uma compra sem ela, morria de ciúmes. Canetas, lapiseiras cadernetas, postais. Tinha de ter o que tínhamos. Era alegre. Sempre morri de inveja dos títulos que criava: A Noite Escura e Mais Eu, As Horas Nuas, A Estrutura da Bolha de Sabão, O Seminário dos Ratos. Este tanto podia ser sobre a ditadura, como sobre os dias de hoje, Centrão, e adjacências. Gosto de uma definição dela sobre nossos ofício: ‘Vocação, sim acredito em vocação, sortilégio e magia, que nos puxa pelos cabelos e nos empurra nesta direção, e não naquela, a fatalidade'” – Ignácio de Loyola Brandão, escritor e jornalista.

    “Lygia exerceu com pleno domínio a arte do romance e das narrativa breve. Era uma iluminada. Sua obra permanecerá como uma das grandes da nossa literatura contemporânea.” – Milton Hatoum, escritor.

    “Lygia era a grande dama não só da literatura mas da elegância e do carinho. Carinho que marcava sua relação com os leitores e leitoras, e também comigo e com todos na Companhia das Letras. Carinho esse totalmente insubstituível.” – Luiz Schwarcz, editor e escritor

    “Foi uma figura nacional. Grande escritora, grande brasileira, deixou exemplos positivos em tudo que participou. Foi grande no mundo contístico, no mundo romanesco. Seus contos têm uma transparência e uma concretude raras. Também tinha as metáforas refinadas e importante participação nas campanhas cívicas: nunca deixou de se manifestar em eventos humanísticos. Por fim, era generosa com seus colegas de ofício.” – Nélida Piñon, escritora.

    “Perdemos uma das nossas maiores autoras. Lygia, entre outras belas qualidades, era sincera sem ser agressiva com ninguém” – Silviano Santiago, escritor e crítico.

    “Conheci a Lygia em 1984, na Editora Nova Fronteira, no início da minha carreira, e logo nos tornamos próximas. Quando a agência foi criada, em 1991, Lygia foi uma das primeiras autoras que passamos a representar. Em 2005, vivemos um momento lindo, quando estivemos em Portugal para a cerimônia de entrega do Camões. Toda vez que ia a São Paulo, nos encontrávamos e era sempre uma inspiração para mim que tive o privilégio de conviver com ela. Lygia foi uma mulher de vanguarda, uma feminista, forte e corajosa e deixou uma obra extraordinária.” – Lucia Riff, agente literária.

    A agente literária Lucia Riff em seu escritório, a Agência Riff, no Rio de Janeiro, em 23 de fevereiro de 2022 Foto: Marcelo Martins/Estadão

    “Se, por um lado, perdemos mais uma mente generosa, inteligente e humanista, por outro, mantemos todas as palavras que nos ofereceu durante sua longa vida e nos deixou. Recordo com carinho, ações nossas em que ela participou, tendo como guia seu livro Invenção e Memória, que escreveu aos 85 anos e tanto nos impactou com seus contos e dimensões diversas da realidade” – Eduardo Saron, diretor do Itaú Cultural.

    “Dia de luto. Perdemos a gigante Lygia Fagundes Telles, uma das maiores referências da nossa literatura. Meus sentimentos aos familiares e amigos. Seu legado viverá para sempre.” – Daniel Munduruku, escritor, em seu Twitter.

    LEIA A ÍNTEGRA DA NOTA DIVULGADA PELA ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS NA TARDE DESTE DOMINGO, 3.

    “A Acadêmica e escritora Lygia Fagundes Telles morreu de causas naturais na manhã do dia 3 de abril, aos 98 anos,em São Paulo. Uma das maiores representantes da literatura brasileira, Lygia era a quarta ocupante da Cadeira nº 16 da Academia Brasileira de Letras, tendo sido eleita em outubro de 1985, na sucessão de Pedro Calmon.

    Lygia Fagundes Telles recebeu vários prêmios ao longo da carreira, tais como o Camões (2005), Jabuti (1966, 1974 e 2001 e o Guimarães Rosa (1972). Possui obras traduzidas para o alemão, espanhol, francês, inglês, italiano, polonês, sueco, tcheco, português de Portugal. Contribuiu para diversas áreas da cultura, com adaptações para o cinema, teatro e TV. Escreveu, por exemplo, “Ciranda de pedra”, obra publicada em 1954. O livro foi adaptado para televisão em 1986, pela TV Globo, em formato de novela escrita por Janete Clair, com a colaboração de Dias Gomes. Foi também uma das autoras do manifesto dos intelectuais contra a censura.

    É considerada uma das grandes referências no pós-modernismo, tendo escrito obras que abordam temas diversos, como a morte, o amor, o medo e a loucura, além da fantasia. Seu primeiro livro de contos, “Porões e sobrados”, foi publicado em 1938.

    A Acadêmica

    Lygia Fagundes Telles nasceu em São Paulo no dia 19 de abril de 1923. Foi casada com o crítico de cinema, professor e ensaísta Paulo Emílio Salles. Considerada por acadêmicos, críticos e leitores uma das mais importantes e notáveis escritoras brasileiras do século XX e da história da literatura brasileira. Graduada em Direito pela Universidade de São Paulo (USP) e, em 1939, cursou o pré-jurídico e a Escola Superior de Educação Física na mesma universidade. Além de advogada, romancista e contista, tem grande representação no pós-modernismo.

    Alguns de seus livros mais importantes são “Antes do Baile Verde” (1970), cujo conto que dá título ao livro recebeu o Primeiro Prêmio no Concurso Internacional de Escritoras, na França. “As Meninas” (1973), romance que recebeu os Prêmios Jabuti, Coelho Neto, da Academia Brasileira de Letras, e “Ficção” da Associação Paulista de Críticos de Arte. “A Disciplina do Amor” (1980) recebeu o Prêmio Jabuti e o Prêmio da Associação Paulista de Críticos de Arte. O romance “As Horas Nuas” (1989) recebeu o Prêmio Pedro Nava de Melhor Livro do Ano. A consagração definitiva veio com o Prêmio Camões, distinção maior em língua portuguesa pelo conjunto de obra, em 2005.

    Foi procuradora do Instituto de Previdência do Estado de São Paulo, cargo que exerceu até a aposentadoria, e presidente da Cinemateca Brasileira, fundada por Paulo Emílio Sales Gomes. Além da Academia Brasileira de Letras, foi membro da Academia Paulista de Letras. Participou de feiras de livros e congressos realizados não só no Brasil, mas também em Portugal, Espanha, Itália, México, Estados Unidos, França, Alemanha, República Tcheca, Canadá e Suécia, países nos quais foram publicados seus contos e romances.”

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