• Escolha sorrir

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  • 04/11/2017 12:00

    É melhor ser alegre que ser triste, a alegria é a melhor coisa que existe, afirmou Vinícius de Moraes. A alegria evita mil males e prolonga a vida, disse Shakespeare. O coração alegre é um bom remédio, escreveu o Rei Salomão. Alegrai-vos sempre no Senhor, repete o Apóstolo Paulo. Mas como cultivar alegria em meio às tempestades que nos cercam?

     Conheci certa pessoa que ria em velórios. Era estranho. A dor da perda, o luto, às vezes tragédia… E aquela pessoa rindo? Alegre na tristeza? Até que me flagrei nos velórios de meu pai e depois de minha irmã frente a uma escolha. Ficar ali me debulhando à beira dos corpos que não eram mais meu pai ou minha irmã, ou viajar com eles em doces memórias de coisas boas que suas vidas me trouxeram. Fiz a segunda opção. E me vieram incidentes hilários, acidentes divertidos, amorosas brincadeiras. Sorri, entre as lágrimas. As perdas não apagaram os rosais de alegria que eles plantaram em mim. 

     Assim, a alegria pode ser um exercício. Ato de vontade, prática de bem viver. Olhar o copo meio cheio e esquecer as sombras do meio vazio. Não é ser bobo alegre, bufão da corte, inocente Polyana ou patético Dr. Pangloss. É, em meio à tempestade, dotar-se da capacidade de buscar sorrisos de fundo da alma e com eles clarear o dia. Jean Commerson diz que o sorriso é o arco-íris do rosto. Linda aliança de Deus com a Humanidade, colocada no rosto, aliança do coração com a alma, aclarando a existência. 

     Da prática do sorriso constante resulta uma coleção de alegrias. E isso é sinônimo de felicidade. Bom sorriso é chave. Abre portas, jardins e segredos. A cara sombria, carrancuda, canaliza energias sujas, ásperas, pegajosas. Já o sorriso resplandece, faz energias lâmpadas, energias gorjeios, energias ninho, energias canteiro. Sorriso, exercício muscular, melhora o tônus da face, dá encanto à juventude e juventude ao ancião. Aos quase 90 anos meu avô tinha um sorriso de moleque travesso que nos encantava. 

     Sorriso é rascunho, véspera do riso. Como Carpinejar diz que é preciso se apaixonar pelo riso do outro antes de namorar, entendo que a atração, o flerte, a paquera, nasceram do sorriso. É um quadro evolutivo. Que evidencia ser essencial, antes de casar, aprender a rir muito a dois. Quem bem riu acompanhado, em melhor posição estará para partilhar lágrima, lustre inevitável dos relacionamentos saudáveis. Como o sorriso que é antessala do riso, que prepara essa apoteose da alegria que é a gargalhada, o riso a dois é um carinho que prepara o abraço que permite o mais pleno aconchego, o encontro de almas por intermédio dos corpos.

     Como exercitar esse plantio do riso, que propõe a gargalhada, expressa a alegria e atapeta os dourados salões da felicidade? Se te vier uma sombra à mente, expulse-a com a memória de um crepúsculo. E sorria! Se descerem corvos à lembrança, afogue-os nos ecos da tarde de praia em que as gaivotas brancas mergulhavam no verde luzente. E sorria! Lembre um bebê querido. E sorria! O canteiro de roseiras. O cãozinho que pulou no teu colo. A criança que te ensinou a dançar. Uma piada boa. E deixe o sorriso fluir! Exercite-o no espelho, até ficar solto, largo, desprendido. Saia ao mundo sorrindo, exercitando alegrias. Pois, como o bocejo, o sorriso sincero é contagiante, ajuda a fazer sorrisos nos outros. Isso põe o mundo mais luminoso. Gandhi libertou a Índia com a não-violência. Mas não é à toa que tinha um invencível sorriso.

     denilsoncdearaujo.blogspot.com

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