Mercado abre espaço a novo gênero: a música para quem tem insônia
Quando Daniel Sander começou a produzir, sob o pseudônimo de ‘colours in the dark’, músicas para os amantes de lo-fi (gênero com notas simples e sons pouco agressivos), não imaginou que chegaria tão longe.
Após alcançar a marca de 311 mil curtidas em sua playlist no Spotify ‘lofi sleep, lofi rain’, que é atualizada toda segunda-feira com músicas suas e de outros artistas que o procuram pelo alcance que ganhou e ter que dobrar o número de músicas nela contida – de 100 músicas para 200 -, Daniel assinou um contrato de distribuição com a ADA Warner, braço internacional da Warner Music.
A playlist nasceu a partir de um grande problema do mundo moderno: a insônia. Segundo a Associação Brasileira do Sono, 73 milhões de pessoas sofriam por não conseguir dormir direito em 2018. Após o início da pandemia, 70% da população pode ter sido afetada, segundo outra pesquisa, feita pelo Instituto do Sono, de São Paulo. “Não sei se foi por coincidência ou por ser meu tipo de expressão por causa da insônia o fato de elas saírem assim. Mas as canções começaram a sair de uma forma que pensei serem boas para dormir”, afirma Daniel.
A partir daquele momento, julho de 2020, a playlist começou a crescer e ganhar seguidores. Entre eles, artistas independentes que viram nela uma forma de se divulgar. Cresceu tanto que, ao passar de 100 músicas para 200, a playlist totalizou 8 horas. O tempo ideal para uma boa noite de sono.
“Atualizar uma playlist com 200 músicas toda segunda-feira não é fácil. Eu lanço canções desse tipo, faço uma curadoria de antemão antes de adicionar na lista e ainda procuro e coloco músicas independentes porque gosto de ajudar a promover artistas independentes.”
Para se organizar, Daniel tem um banco de títulos e uma comunidade ativa no Discord, no qual os artistas mandam suas músicas e ele as escuta em grandes chamadas para avaliar o trabalho recebido. Ali, ele dá o aval para as canções entrarem ou não em seu banco e consequentemente, na playlist.
Com o sucesso, no começo de 2021, Daniel começou a fazer experimentos lançando artistas independentes, mas ainda sob o guarda-chuva ‘colours in the dark’, seu nome artístico. “Foi uma oportunidade que vi para ajudar os artistas e as pessoas que estavam tentando dormir”, explica.
Retorno
Daniel então começou a receber muitos feedbacks dos dois lados. Por parte dos ouvintes, agradecimentos e até doação de dinheiro pelo trabalho feito. Dos artistas, depoimentos ressaltando a melhora na autoestima por ver seu trabalho finalmente sendo reconhecido pelo público.
Para se organizar e ainda manter seu lado artístico, Sander criou o selo Sleep Tales em outubro de 2021, quando a playlist já estava em seu auge. E o surgimento foi grande: o selo já nasceu como o maior de lo-fi não europeu e o terceiro maior do mundo. Com tal dimensão, e apesar de tão recente, foi um caminho natural para Daniel procurar uma “casa grande” que pudesse abrigar tais dados. Chegou na ADA Warner, que topou imediatamente, abraçando o projeto. E o primeiro fruto da parceria chegou no dia 7, com o lançamento do álbum Cosy Dreams.
O álbum traz uma compilação com 20 canções inéditas de artistas independentes de todo o mundo, com curadoria do próprio Daniel e de Yuri Bastos, também artista do lo-fi e A&R do selo.
Agora, os planos são mais ousados. Segundo Daniel, a cada dois meses a Sleep Tales pretende lançar o álbum de um artista diferente, justamente para dar mais espaço aos independentes. Além disso, o selo pretende trazer três ou quatro compilações por ano, como faz o Cosy Dreams. “Todo o trabalho de seleção e busca por artistas será nosso, já que isso faz parte do DNA da Sleep Tales, enquanto a Warner ficará responsável por conversar com as plataformas e divulgar todo o nosso trabalho de curadoria”, finalizou.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.