• Crise na Assistência Social: CRAS reabrem após três semanas da tragédia

  • Continua após o anúncio
  • Continua após o anúncio
  • 10/03/2022 14:55
    Por Luana Motta

    Três semanas. Esse foi o tempo que a Secretaria de Assistência Social levou para reabrir os oito Centros de Referência de Assistência Social (CRAS) do município. Em meio à tragédia, a pasta acumulou críticas, reclamações e troca de coordenadoria. No dia 24 de fevereiro, menos de 10 dias do ocorrido, e em meio às críticas, a advogada Karoline Cerqueira deixou o cargo de secretária de Assistência Social para assumir uma nova coordenadoria que foi criada pelo prefeito Rubens Bomtempo, e em seu lugar, entrou Fernando Araújo que, até então, era assessor técnico da Defesa Civil. E ainda que tenha havido esforço na contratação e reforço das equipes, em alguns casos acabou sendo o Estado quem tomou à frente da assistência às vítimas. 

    Desde o início dos trabalhos de resposta, a Secretaria de Assistência Social vem divulgando que todas as equipes foram remanejadas para assistência às vítimas que estão nos abrigos sob a responsabilidade da Prefeitura. A Prefeitura ainda anunciou a contratação de 60 psicólogos e 60 assistentes sociais em caráter emergencial para reforçar as equipes dos abrigos, que até então, tinham a média de 800 pessoas por dia. 

    No entanto, depois que o Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MPRJ) abriu o cadastramento de abrigos voluntários para que recebessem auxílio também dos governos municipal e estadual, a Assistência do município anunciou que iria fazer um mapeamento desses locais. Em 1º de março, treze dias após as chuvas, eram 18 abrigos administrados pela Prefeitura e outros 15 voluntários que, até então, nem haviam sido reconhecidos oficialmente pela Assistência Social do município.

    Além disso, com os CRAS fechados, quem estava desabrigado ou desalojado, mas que não estavam nos abrigos ficou sem o atendimento. A Tribuna questionou a Prefeitura por duas vezes, sobre como estava sendo feito o atendimento dessas pessoas, mas não recebemos resposta. 

    Sem CadÚnico, sem benefícios

    Até o momento, não foi divulgado quantas pessoas foram cadastradas no CadÚnico após a tragédia. O cadastramento no sistema do Governo Federal é obrigatório para o acesso a programas sociais, como o Aluguel Social, Cartão Imperial, Supera RJ e Auxílio Brasil. A Tribuna também perguntou à Prefeitura por duas vezes sobre esses dados, mas não fomos respondidos. 

    De acordo com o levantamento da Secretaria estadual de Desenvolvimento Social e Direitos Humano  até sábado mais de 2,9 mil pessoas fizeram o cadastro para o benefício do Aluguel Social. Desse total, pelo menos 400 pessoas não tinham o cadastro no CadÚnico. Embora seja expressivo o número de novos benefícios, muitos não terão acesso neste momento, devido à demora no cadastramento das famílias no sistema federal e o andamento das vistorias e liberação dos laudos técnicos de interdição das casas, que é feito pela Defesa Civil. Até esta ontem 1.245 laudos foram concluídos. 

    Conflito político e apagão na primeira semana 

    A primeira semana de resposta às vítimas foi marcada por dificuldade de locomoção, de diálogo e divergências políticas. E muito da crise que a Assistência Social enfrenta, neste momento, é consequência da dificuldade de diálogo com o governo do Estado. No Alto da Serra, por exemplo, onde as ações se concentraram, o Colégio Estadual Rui Barbosa foi palco de vários episódios de confusão e desinformação entre os assistidos. 

    No bairro, um dos mais atingidos pela chuva, o único ponto de apoio era a Escola Municipal José Fernandes da Silva, que foi atingida por um deslizamento. Algumas crianças ficaram feridas, e a barreira tirou a vida da menina Evelyn Luiza Netto Silva, de 11 anos. Sem muitas opções, os desabrigados procuraram o Rui Barbosa, a Igreja Santo Antônio, salões e igrejas evangélicas próximas ao local. 

    No dia 17, a Secretaria de Desenvolvimento Social do Estado montou um ponto de apoio às vítimas, e acolheu mais de 100 desabrigados no Colégio Rui Barbosa. No dia 21 de fevereiro, as ações foram transferidas para o Colégio Estadual Princesa Isabel, no Quitandinha, e por lá ficaram até o dia 05 de março. 

    A assistência social do município só assumiu o ponto de apoio do Alto da Serra, seis dias após a chuva. Fontes da Tribuna, ligadas ao município, confirmaram que havia desorganização no direcionamento das equipes do município para o atendimento nos abrigos. 

    Duas crises em gestões seguidas

     A Secretaria de Assistência Social vem fragilizada desde o ano passado, na gestão interina, de interino Hingo Hammes, quando houve a primeira troca de cadeiras entre Rosane Borsato e Hugo Bento, que ficou apenas dois meses e meio no cargo.

    No dia 18 de dezembro, com a troca de gestão, quem assumiu a pasta foi a advogada Karoline Cerqueira, que só ficou 68 dias no cargo, menos do que o antecessor. Antes mesmo da tragédia, a advogada já vinha sofrendo críticas em relação à condução da pasta. Fontes da Tribuna que atuam na assistência social do município confirmaram os problemas de gestão da antiga secretária. Quem assumiu foi Fernando Araújo, no último dia 24, em meio às ações de resposta. E Karoline, assumiu a Coordenadoria de Direitos Humanos, recém- criada por Bomtempo.

    Últimas