• Profissionais da saúde contam como a força feminina fez a diferença no socorro às vítimas de Petrópolis

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  • 08/03/2022 20:18
    Por Redação/Tribuna de Petrópolis

    Elas enfrentaram chuva forte, lama, venceram barreiras, obstáculos e trabalharam no limite para que as vítimas do temporal que atingiu Petrópolis, em 15 de fevereiro, recebessem a assistência que precisavam. São profissionais da Subsecretaria de Vigilância e Atenção Primária à Saúde (SVAPS), médicas, enfermeiras e técnicas do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), além de gestoras que deixaram suas rotinas e famílias para apoiar a força-tarefa da Secretaria de Estado de Saúde (SES) no município. Nesta terça-feira(08), no Dia Internacional da Mulher, mulheres guerreiras lembram momentos de um trabalho que marcou suas vidas.

     “A primeira dificuldade foi o deslocamento até a cidade, pois as vias estavam interditadas. Atuamos em locais de difícil acesso, com risco de novos desabamentos, com a população desesperada atrás de notícias de parentes, amigos e pessoas da família desaparecidas. Foi uma situação muito complexa ver a tristeza no olhar das pessoas. Sabíamos que éramos o socorro essencial naquele momento”,  conta Camila Rodrigues da Silva, 34 anos, uma das socorristas que percorreram a cidade de motolância.

    Camila foi uma das condutoras de motolâncias que atuaram em Petrópolis (Foto: Divulgação/SES)

     Dirigindo o veículo, Camila – a primeira mulher a compor a equipe de motolâncias do Samu – conseguiu levar atendimento a locais de difícil acesso para ambulâncias e outros veículos.

    “A motolância foi imprescindível nessa missão. Havia muitos lugares onde só a moto conseguia chegar para prestar socorro e levar suprimentos básicos. Fiquei impactada com tudo o que presenciei. Lembro de um senhor que havia perdido cinco pessoas da família. Ainda assim estava ali, ajudando a quem buscava notícias sobre desaparecidos. Nesse tipo de cenário refletimos muito sobre nossas vidas”, contou Camila.

    Aos 38 anos, Ediglauce Schenck, enfermeira socorrista do Samu, também pilotou uma motolância por becos estreitos, íngremes e cheios de lama.

     “Tive que enfrentar o medo, pois chegávamos em pontos onde havia lama na altura da moto e tínhamos que passar por pistas escorregadias, estreitas, com fios elétricos que não sabíamos se estavam ainda ligados à rede de energia, árvores tombadas em meio aos fios. Tivemos muita ajuda dos motoboys e moradores, que subiam, desciam e nos direcionavam a determinados pontos.  Andar de moto na lama com fios expostos no chão irregular foi extremamente difícil. Trabalhamos à noite e na chuva, levando alimentos, água e medicamentos, entre outros insumos para famílias isoladas”, disse Ediglauce, acrescentando ao seu depoimento um relato emocionado: “Tenho em minha memória a visão das pessoas chorando e se abraçando, as doações chegando de diversos lugares e todos se unindo para fazer cordões de apoio à distribuição. Foi uma experiência que levarei para toda a vida”, conclui.

    No Samu, as mulheres atuaram nas motolâncias, nas Unidades de Suporte Avançado (USA) e nas Unidades de Suporte Intermediário (USI) do serviço. Ao todo, 12 profissionais integraram a equipe que atuou na operação do Samu: três médicas, seis enfermeiras e três técnicas de enfermagem, que atenderam vítimas de trauma, crises de hipertensão, escoriações e vítimas de mal súbito, entre outras. A técnica de enfermagem Estela Rutledge, de 35 anos, também integrou a equipe das motolâncias. Mãe de um casal de gêmeos de 4 anos de idade, Guilherme e Letícia, Estela passou dez dias em Petrópolis, longe dos pequenos. A lembrança mais difícil foi o trabalho no Morro da Oficina, um dos locais com maior concentração de buscas. 

    Com o uso da moto, Estela conseguiu chegar em locais de difícil acesso e superou obstáculos. (Foto: Divulgação/SES)

    “O maior desafio é presenciar o sofrimento, em uma proporção muito grande. As vítimas perderam pessoas e bens. Encontramos pacientes que tinham problemas anteriores, que se agravaram, e uma cidade colapsada. Cidadãos foram removidos das áreas de risco, mas outros ficaram isolados. Era um ambiente inseguro em todos os sentidos. A fonte de coragem foi o olhar de gratidão das pessoas ao nos ver chegar. Além da esperança e da generosidade da população, nos oferecendo água e comida. Saímos de lá pessoas diferentes, tanto profissional quanto pessoalmente”,  comenta Estela, que auxiliou na coordenação da operação, na organização das viaturas e equipes, no contato com outros órgãos, na assistência às áreas afetadas mais remotas e no atendimento realizado em abrigos.

     Liderança feminina

    A maior parte da equipe da SVAPS, que atuou nas ações de resposta ao desastre de Petrópolis, é constituída de mulheres. A enfermeira de saúde pública Silvia Carvalho, de 51 anos, superintendente de Informações Estratégicas de Vigilância em Saúde da Secretaria, conta o que presenciou:

    “No dia a dia, vimos que todas elas abriram mão de estarem cuidando de suas famílias, muitas, inclusive, com filhos pequenos, para se colocarem a serviço da SES”. Com 29 anos de profissão, 20 deles dedicados à Vigilância do estado, Silvia trabalhou em 2011 na Região Serrana como técnica. Em 2022, retornou coordenando as ações de Vigilância.

     “Episódios como este requerem técnica e controle emocional, uma vez que a equipe local de forma direta ou indireta foi abalada. Em Petrópolis não foi diferente. Há necessidade de apoiar as ações sem tirar a autonomia técnica local, pois eles conhecem o território. Participei ativamente durante o período de mobilização do gabinete de crise, onde as decisões são tomadas de forma tripartite, pois há representantes das três esferas de governo”, esclarece.

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