Países árabes têm interesse em ampliar exportação de fertizantes para Brasil
Os países árabes têm interesse e potencial em ampliar a exportação de fertilizantes para o Brasil, avalia a Câmara de Comércio Árabe-Brasileira. “Sem dúvidas, há interesse da indústria árabe em vender mais para o Brasil. São países que podem abastecer o mercado brasileiro”, disse o secretário-geral da Câmara, Tamer Mansour, em entrevista exclusiva ao Broadcast Agro, sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado. Estes países podem atender o Brasil com o fornecimento dos três principais nutrientes: nitrogenados, fosfatados e potássicos. “Não acredito que estes países consigam substituir 100% o volume que a Rússia fornece ao Brasil, porque o mundo vai olhar para os árabes como o Brasil está olhando, mas uma fatia grande eles conseguem atender”, avaliou Mansour, sem detalhar qual seria o volume dessa fatia.
Entre os países que poderiam exportar maior volume que o fornecido atualmente ao Brasil, Mansour cita, especialmente, Marrocos, Egito, Jordânia, Omã e Catar.
“Eles possuem produção que seria suficiente para atender o Brasil. Se trabalhar o mercado com estes países, o País consegue compensar parte do volume que você perde ou que seria difícil de receber da Rússia no curto prazo”, apontou Mansour. “Em potássio, vemos muito potencial do Marrocos e Jordânia pode ser um player novo também no fornecimento de cloreto de potássio”, pontuou.
Na opinião de Mansour, o volume que os países do bloco árabe poderão fornecer ao Brasil vai depender de o País sair na frente para negociações. Ele avalia que é preciso haver agilidade do Brasil na busca dos fornecedores árabes, já que outros países tendem a recorrer ao bloco por causa das incertezas quanto à oferta russa de fertilizantes, em decorrência da guerra da Rússia com a Ucrânia. “Entendo que precisamos entrar agressivamente porque certamente essa falta de fertilizante não será somente da Rússia para o Brasil, mas sim da Rússia para o mundo. Europeus também devem se ressentir essa falta. Vejo que precisamos sair na frente para poder negociar com esses países”, afirmou o secretário-geral da Câmara de Comércio Árabe-Brasileira.
No ano passado, o Brasil importou 9,979 milhões de toneladas de adubos dos países da Liga Árabe, com desembolso de R$ 4,21 bilhões. O volume representa 24% do total importado pelo Brasil. A principal origem é o Marrocos, que ocupa o quarto lugar no fornecimento total de adubos ao País em volume, atrás de Rússia, China e Canadá.
A Câmara entregou um estudo completo na última sexta-feira à Secretaria de Comércio e Relações Internacionais do Ministério da Agricultura sobre o cenário atual de produção de adubos dos 22 países do bloco e sobre o potencial de exportação da Liga Árabe para o mundo e para o Brasil. “O documento mostra alguns países importantes, onde essa fatia da Rússia pode ser substituída rapidamente. Estamos mobilizados e trabalhando junto com as próprias embaixadas”, explicou.
O estudo faz um diagnóstico da oferta dos países árabes, oportunidade de tipos de fertilizantes que o País pode importar do bloco que ainda não importa, quais nutrientes pode aumentar a importação, quais países árabes podem incrementar a exportação para o Brasil e até mesmo uma comparação de adubos importados da Rússia que poderiam ser adquiridos nos países árabes.
Uma reunião com a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, é cogitada pela Câmara para abordar o assunto. Em paralelo, a entidade acionou as embaixadas árabes a fim de promover um diálogo com as empresas estatais fornecedoras de fertilizantes. Mansour considera importante uma eventual missão da ministra ao bloco para tratar do tema. “Enxergo um relacionamento muito bom do Brasil com estes países. Hoje, existe uma boa relação governamental entre o Brasil e o mundo árabe. Confio plenamente na estratégia da ministra e a Câmara Árabe é parceira nisso”, afirmou.
Outros reflexos
Em cenário de efetivação das sanções econômicas sobre a Rússia e consequente redução no fluxo importador e exportador ao país, a Câmara de Comércio Árabe-Brasileira avalia que pode haver um incremento na exportação de carne bovina do Brasil à Liga Árabe. “Vejo um possível aumento de exportação de carne bovina do Brasil que seria comercializada à Rússia para países árabes”, comentou.
Uma preocupação dos países árabes em decorrência do conflito é com o abastecimento de trigo do bloco. “Enxergamos que haverá uma dificuldade muito grande em como os países árabes irão abastecer seu mercado pelo produto principal que é o trigo. Teremos um problema muito sério, uma vez que os países que mais consomem trigo no mundo são os árabes”, disse Mansour.
Ele lembra que o Egito anunciou que tem estoque suficiente para o consumo local por nove meses. “A Rússia e a Ucrânia sempre foram os países que abasteceram esse mercado com o trigo. Nesse mercado, vemos a Argentina como possível fornecedor, além da substituição do cereal por outros produtos, como quinoa”, observou.