União para frear crise na construção civil
A construção civil continua em retração em este ano e seu desempenho segura a recuperação da economia brasileira. Dados do Caged apontam que nos últimos três anos a desaceleração do setor é preocupante. Em 2015 foram foi registrado saldo negativo de 414 trabalhadores atuando com carteira assinada no ramo, em 2016 esse número chegou a 460, e este ano 340, contra 709 de saldo positivo (novos empregos gerados) em 2014. Um levantamento do Sindicato Nacional da Indústria da Construção Pesada (Sinicon) em parceria com a LCA Consultores mostra ainda que a construção é o componente do Produto Interno Bruto (PIB) com a queda mais intensa entre todos os setores em 2017.
Desde 2007 o setor havia registrado apenas saldo positivo. Em 2007 fechou com 15 positivo, 2008 foram 362, em 2009 o número chegou a 466, e em 2010 foi ainda maior marcando 556 de saldo positivo. Em 2011 foram 76, 2012 um pouco menos, 72. Apenas em 2013 houve uma breve retração no ramo que registrou saldo negativo de 78 vagas de emprego. Os dados mostram que a construção caiu mais do que a média da economia nos últimos três anos e tem sentido a crise de forma mais profunda. Desde o 2º trimestre de 2013, a queda acumulada é de 14,3%, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), enquanto que o PIB total recuou 5,5% nos últimos 4 anos. Neste período, quase 1 milhão dos 2,7 milhões de vagas formais que deixaram de existir no país foram na construção.
Retração do setor em Petrópolis
Em Petrópolis, o presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil de Petrópolis (Sinduscon Petrópolis), Ricardo Francisco, afirmou que nos últimos três anos dos mais de 3.500 trabalhadores no setor de construção civil que possuíam carteira assinada, sobraram atualmente pouco menos de 2 mil. Ainda segundo ele, diversos fatores, além da crise nacional, são responsáveis pelo enfraquecimento do setor. “Juros da Selic altos, e no caso de Petrópolis a burocracia surreal para conseguir licenciar um empreendimento/ construção prejudicam consideravelmente o setor, e a cidade”, afirmou.
Petrópolis possui APA Ambiental Federal, e inúmeras restrições do IPHAN e INEPAC por ser uma cidade histórica, e possuir a maior parte do território incluso em área de preservação ambiental e/ou tombada pelo patrimônio histórico. “Os empresários e construtoras acabam optando em fazer esses imóveis em outras cidades, onde a burocracia é muito menor. Hoje se espera no mínimo mais de um ano para conseguir licenciar até mesmo uma obra particular, ou seja, que não são empreendimentos habitacionais. Para esses a espera é ainda maior e o investidor não pode esperar esse tempo, senão perde dinheiro”, explicou.
Recentemente Ricardo contou que perdeu um trabalho justamente por conta da quantidade de exigências dos órgãos reguladores (IPHAN/INEPAC), e até mesmo deficiências do município. “Meu cliente queria construir um depósito na Estrada União e Indústria, altura de Pedro do Rio, e por isso providenciei toda a documentação necessária e apresentei ao município e órgãos competentes, mas diante de tantas exigências descabidas meu cliente desistiu da construção e optou em alugar um galpão em um bairro vizinho”, disse insatisfeito.
Outro fator para a crise no setor é encolhimento de construtoras e esfriamento do mercado imobiliário. “Outro exemplo claro de burocracia prejudicando novos empreendimentos é o caso do Hotel Ibis, na Rua Dr. Paulo Hervê. “Eles precisaram fazer três blocos de prédio na horizontal, porque não puderam fazer um único edifício verticalizado de acordo com as normas do IPHAN”, salientou.
Grupo de empresários busca soluções
Na tentativa de encontrar soluções que parem a retração do setor em petrópolis, e façam com que ele volte a crescer, um grupo de empresários, engenheiros, construtores, urbanistas, arquitetos, investidores, e representantes do governo têm se reunido há cerca de um ano.
“Realizamos essas reuniões em busca de solução! Queremos a mesma coisa que a economia volte a girar, e o setor da construção civil a crescer. Até o momento conseguimos uma vitória time junto ao poder público, mas é uma vitória. O município contratou dois novos profissionais para auxiliar no departamento responsável pela análise e emissão de licenciamento. Existe atualmente um deficit muito grande de pessoal nessa área, e principalmente de pessoas especializadas. Somos cerca de 50 pessoas e acredito que vamos conseguir mais resultados”, disse confiante.
Recuperação em 2018
Apesar de todo o quadro Ricardo afirma que está otimista com relação a melhoras no setor de construção civil em 2018. Um dos principais motivos foi a queda no juros Selic que no início do ano marca 14,25%, e atualmente se encontra em 8,25%. “Isso é fundamental para incentivar as vendas, porque quanto maior os juros maior o valor final do imóvel, antes chegava a ficar cinco vezes mais caro para o consumidor que em muitos casos desistia, ainda mais diante da crise. Então essa redução expressiva beneficia o consumidor que busca novos imóveis, e consequentemente acelera a construção de outros empreendimentos para que a nova demanda possa ser atendida”, afirmou.
Um exemplo destacado por ele, é que apenas este ano, após a queda nos juros, 22 novos empreendimentos habitacionais Minha Casa Minha Vida deram entrada na prefeitura de Petrópolis em busca de licenciamento. Mas devido a burocracia aguardam há quase um ano por uma possível liberação. “Outro fator positivo foi a legalização da Lei da Terceirização, que serviu para legalizar o que na verdade já ocorria no setor da construção civil. Sempre contratamos profissionais segmentados para realizar etapas distintas de uma obra/empreendimento. Isso agiliza o processo de finalização, e traz mais qualidade ao trabalho pois se trabalha apenas com os especialistas de cada setor. Além disso, quem trabalhava de informalmente no formato de terceirização agora tem os direitos trabalhistas garantidos por lei”, afirmou.