Patrimônio submerso: órgãos de preservação fazem vistorias nos prédios tombados
A chuva do dia 15 de fevereiro deixou marcas profundas em Petrópolis. A mais grave delas é a perda das vidas que foram soterradas nos morros e levadas pelos rios. São 232 mortos e ainda há seis desaparecidos, além de mais de 2 mil famílias desabrigadas ou desalojadas. A cidade histórica, viu ainda seu patrimônio imaterial debaixo do lixo e da lama. As águas da chuva inundaram o Palácio de Cristal, a Casa da Princesa Isabel, o Theatro Dom Pedro II, além de praças e monumentos que são cartões-postais e atraem turistas do mundo todo. Desde a última quarta-feira (23), o Instituto Estadual do Patrimônio Cultural – Inepac vem percorrendo os bens tombados da cidade. Mesmo procedimento adotado pelo Instituto Municipal de Cultura – IMC.
O Palácio de Cristal, tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – IPHAN ficou submerso em lama. Parte da estrutura pré-fabricada na Europa, no século XIX, trazida para o Brasil pelo Conde d’Eu, marido da Princesa Isabel e presidente da Sociedade Agrícola de Petrópolis, inspirado no Crystal Palace de Londres, também foi atingida pela inundação vinda do Rio Piabanha. O ponto turístico fica na antiga Praça da Confluência que, ao longo de mais de um século, foi sendo aterrada para evitar os alagamentos. O que não impediu, no entanto, que o temporal sem precedente histórico na cidade voltasse a inundar o espaço.
Fechado desde o início de 2020 e passando por escavações arqueológicas desde maio do mesmo ano, o espaço não estava aberto ao público. No local, importantes descobertas arqueológicas vinham sendo realizadas, como as mais de duas mil peças, entre pedaços de louças inglesas usadas no século XIX e de stoneware, algumas expostas na entrada do ponto turístico.
Na semana passada, o Governo do Estado iniciou vistorias nos prédios históricos tombados pelo Inepac, em ação conjunta com a Empresa de Obras Públicas do Estado do Rio de Janeiro – EMOP/RJ, avaliando os imóveis, buscando dimensionar os danos causados pelas fortes chuvas que atingiram a cidade. “Petrópolis é o município com mais bens imóveis tombados pelo Inepac. Desde que o temporal diminuiu, nosso Escritório Técnico se mobilizou para começar o levantamento nas áreas mais afetadas”, disse Ana Cristina Carvalho, diretora do Inepac.
Algumas casas com fachadas tombadas, o Theatro D. Pedro e o Cine Petrópolis foram invadidos pela lama. “O Governo do Estado está se mobilizando com todos os seus setores, seja o Inepac, a EMOP ou mesmo o DER/RJ, para estabilizar o que está instável. Após a avaliação inicial, faremos um monitoramento e vistoria mais detalhada para termos um diagnóstico mais preciso do que será necessário restaurar”, contou Patrícia Hugueney, chefe do Escritório Técnico Regional Serrana do Inepac.
Segundo o Estado, não houve imóveis tombados pelo Inepac que vieram a baixo, o caso mais grave foi uma ponte próxima ao Palácio de Cristal, que perdeu o seu guarda-corpo e precisará ser reconstruída. O Inepac fez o diagnóstico dos imóveis afetados e de possíveis áreas de risco, assessorando os responsáveis pelos imóveis nas obras que serão necessárias. Já a EMOP/RJ colocou arquitetos da empresa à disposição da ação conjunta com o Inepac nas vistorias nos prédios históricos. Outra medida foi o envio de quatro engenheiros de Geotécnica da empresa, para atuar no levantamento técnico de áreas de riscos na cidade.
Monumentos submersos
Recentemente, a Prefeitura abriu um processo licitatório para a recuperação do monumento da Águia, na praça Visconde de Mauá (conhecida como Praça da Águia), localizada ao lado do Centro de Cultura e em frente ao Palácio Amarelo, a Câmara Municipal de Vereadores de Petrópolis. A obra estava orçada em R$ 96 mil e não atraiu interessados nos processos licitatórios abertos no fim do ano passado. Resta saber se a enchente aumentou o estado de degradação do monumento.
Na Praça Dom Pedro II, a estátua do monarca que dá nome à cidade teve a base inundada, mas a limpeza do local já foi realizada. Na Casa da Princesa Isabel, na Avenida Koeler, a mureta e a grade foram derrubadas pela correnteza, alguns documentos foram molhados, mas ainda não foi possível calcular o prejuízo.
IMC busca recuperar inventário patrimonial e cultural perdido na inundação
Nesta quarta-feira (2), a presidente do IMC, Diana Iliescu, se reuniu com os funcionários do Instituto e da Fundação de Cultura e Turismo para alinhamento de estratégias para a recuperação do Centro de Cultura Raul de Leoni, que foi afetado pelo temporal. Entre as ações está o levantamento dos processos que estavam tramitando na secretaria; inventário do que foi salvo para posterior recomposição do patrimônio e levantamento da documentação arquivada que foi perdida.
De acordo com o IMC o andar térreo do Centro de Cultura Raul de Leoni foi tomado pela água e parte do acervo armazenado no local foi danificado. Além de livros, processos e documentos, o Instituto Municipal de Cultura perdeu mobiliário e equipamentos eletroeletrônicos. “Montamos uma força tarefa para fazer o levantamento de tudo que conseguimos salvar. Mesmo diante de um cenário de caos, nossas equipes tiraram alguns documentos da água e remanejaram os processos para o segundo andar”, diz a presidente do IMC.
No dia 24 de fevereiro uma equipe do Arquivo Nacional esteve na cidade para apoio técnico sobre os procedimentos corretos para recuperação do acervo. “Nossas equipes foram orientadas sobre as ações de salvaguarda emergenciais e quais as etapas necessárias para o tratamento dos objetos que foram salvos da lama”, disse Iliescu.