A caminhada que tornou Gloria Groove em uma força do streaming
“Sempre sonhei com tudo isso.” Foi com esse tom de satisfação que a nona artista mais executada atualmente no Spotify Brasil, Gloria Groove, desabafou em seu Twitter, semanas atrás. O sentimento não poderia ser outro. A drag queen que nasceu e cresceu na Vila Formosa, em São Paulo, lançou em fevereiro o seu segundo álbum de estúdio, Lady Leste, e agora colhe os frutos dos mais de vinte anos de carreira artística que a sua verdadeira persona construiu, o talentoso Daniel Silveira.
No fim de semana de estreia, o novo disco foi o mais reproduzido no Spotify mundial e bateu 3,9 milhões de plays acumulados em 24 horas. Em duas semanas, entrou para o top 15 dos álbuns mais ouvidos da plataforma (em 2022) e reúne mais de 130 milhões de streamings na soma das 13 faixas.
Com seu potente vocal, Groove se tornou um titã digital da indústria musical e se aproxima dos nove milhões de seguidores. Segundo a plataforma Crowdtangle, que mede o nível de engajamento de perfis em redes sociais, a sua interação teve um salto de 70 mil pessoas para mais de 500 mil, por publicação.
São números dignos de uma popstar internacional e que, se depender da artista, devem crescer ainda mais nos próximos meses. “Sinto que tenho algo que me representa, que fala sobre mim. O Lady Leste tem pop, funk, samba, pagode e hip-hop. O meu alter ego é fiel à minha essência”, comenta a compositora, diretamente do seu estúdio.
Casamento
“A GG surgiu por volta dos meus 16 e hoje já estou perto dos 30 anos, por isso estou sempre correndo para me ressignificar, para garantir que Gloria continue fazendo sentido na minha vida. Se Daniel e Gloria Groove fossem um casamento, estaríamos vivendo nossa lua de mel”, observa.
Em um país preconceituoso, como um artista LGBT como Gloria conseguiu atingir a grande massa? O ano de 2021 foi repleto de viradas de chave na sua carreira e essas importantes transições fizeram com que seu talento se tornasse o único holofote.
Mesmo furando diversas bolhas sociais com vários projetos em alta, como Bonekinha e o Lud Session com Ludmilla, foi a partir de setembro que a história de GG atingiu território nacional. Ela foi uma das participantes do Show dos Famosos, quadro popular do programa dominical apresentado por Luciano Huck.
De setembro ao final de dezembro, celebridades duelaram entre si interpretando cantores conhecidos e quem decidia o campeão era um júri especial da Rede Globo com o apoio do voto popular.
Não deu outra. Gloria foi a vencedora do quadro ao apresentar performances arrebatadoras encarnando Justin Timberlake, Marília Mendonça e até Jennifer Lopez.
“Foi uma faculdade. Você tem de entrar em outra linguagem corporal, outro registro vocal e isso elevou o nome da Gloria para outro patamar. Hoje, a mãe, a avó e a tia sabem quem eu sou por conta do Show dos Famosos, o Brasil conhece a minha história. Sinto que a minha presença entrou de vez na casa das pessoas”, afirma GG.
Como se tamanha exposição não fosse suficiente, a escolha do segundo single do Lady Leste, A Queda foi crucial para que ela entrasse no hall da música contemporânea.
A música é considerada um divisor de águas. A letra destrincha a tão presente cultura do cancelamento mesclada a um pop rock agressivo.
Circo
“Extra! Extra! Melhor do que a subida só mesmo assistir à queda” – a mensagem da canção junto ao audiovisual chamativo de um circo de horrores fez com que a produção se tornasse um sucesso instantâneo. Influencers comentaram, gringos reagiram, tiktokers a viralizaram e a classe artística enalteceu.
O vídeo acumula mais de 105 milhões de visualizações (é o de categoria pop brasileiro mais visto em 2021), e tal sucesso não foi premeditado. O lançamento aconteceu em outubro somente para ganhar um visual condizente com a data do Halloween, assim como o terceiro single, Leilão, foi programado para ser divulgado na época da Black Friday, em novembro.
A artista estava na boca do grande público e, segundo ela, Lady Leste foi lançado em seu melhor momento.
Anitta
“É a maior do Brasil neste momento e é outro nível de artista” – foi assim que Anitta a definiu, momentos antes de elas cantarem juntas durante um show no Rio de Janeiro, em fevereiro deste ano.
“Esse projeto é a consagração do meu eu artístico, pincelada em variados estilos musicais, mas direcionada para a estética da zona leste de São Paulo. É um movimento”, define.
O título do álbum e a escolha do quarto single, Vermelho, foram homenagens diretas ao funkeiro MC Daleste, assassinado em 2013.
“O MC Daleste é o Daniel da Penha e a Lady Leste é o Daniel da Vila Formosa. Ele é o último Daniel da ZL que colocou nossa área no foco, que trouxe a arte para frente de tudo, como faço com o nome do meu álbum. Ele merece a minha homenagem. É sobre saber quem veio antes da gente e plantou a semente”, explica a cantora.
Gloria faz uso do sample de Mina de Vermelho, sucesso de Daleste, no refrão de sua nova música de trabalho – que já acampa o top 10 dos principais serviços digitais de música.
Cor
“A cor vermelha tem uma importância gigante na minha vida e no disco. Vermelho veio da junção da música do MC Daleste, que marcou os rolês da minha adolescência, à obsessão dos meus fãs por todas as aparições que Gloria fez uso dessa cor.”
Carregada de aclamação, hits e confirmada em grandes festivais deste ano (Lollapalooza e Rock In Rio), Gloria vive o sonho que o jovem Daniel sempre teve, quando ainda cantarolava Alicia Keys na sua juventude, mas ela mantém os pés no chão antes de voar mais alto.
“Quero me aprimorar. Quero estudar e farei isso assim que tiver um hiato na minha carreira. Tenho vontade de me internacionalizar, entender como posso fazer as pessoas se conectarem com o meu trabalho em outros países. É a minha maior vontade”, conta a paulistana.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.