Bombeiros que atuam em buscas por desaparecidos recebem atendimento psicológico contínuo
O trabalho deles não parou desde o dia 15, quando o temporal atingiu o primeiro distrito de Petrópolis. Em deslizamentos, nos rios, em helicópteros. São mais de 600 bombeiros militares atuando na cidade, entre cerca de 500 que atuam no estado do Rio de Janeiro e aproximadamente 120 que vieram de, pelo menos, 19 estados para apoiar o trabalho. E com a rotina de lidar com famílias de desaparecidos, pessoas que perderam tudo e fazendo a remoção de corpos nos escombros, a saúde mental desses profissionais têm sido motivo de preocupação. Por isso, militares recebem atendimento psicológico constantemente nas áreas de busca.
O porta-voz do Corpo de Bombeiros do Rio de Janeiro, Major Fábio Contreiras, explica que o trabalho psicológico com os militares é feito em três partes: antes, durante e depois dos desastres.
“Depois da tragédia de 2011, aprendemos o que não fazer e o que fazer de correto. Por isso, começamos a realizar sessões multiprofissionais, com bombeiros militares psiquiatras, psicólogos e assistentes sociais. Essa é a primeira parte, o antes, até porque o trabalho das equipes de primeira resposta é muito tenso, o que nos deixa mais suscetíveis à depressão ou outros transtornos mentais”, disse o Major.
O trabalho continua no momento de resposta, quando os militares estão nos locais de buscas ou socorro. São instaladas “zonas de descompressão” próximas às áreas de busca, com a presença dos bombeiros psicólogos e estrutura com barracas, cadeiras e colchões.
“Mesmo com o acompanhamento prévio, tudo se potencializa ao chegar em um desastre como esse, já que é um momento que difere do cotidiano tradicional do militar. De tempo em tempo, os grupos que estão nas buscas vão para essa zona e têm uma conversa em um grupo com o profissional de psicologia. Se for detectado algum militar com estresse exaltado ou alguma atitude atípica, é feito o atendimento particular”, destacou o porta-voz da corporação, que lembra que esse trabalho não se restringe aos militares.
“Nos locais de busca, acabamos atendendo também muitos familiares de vítimas encontradas, que ficam muito abalados. Além disso, muitas vezes é necessário ir até o ponto de busca e retirar aquele profissional. Tivemos o caso de um bombeiro que estava ajudando a buscar pessoas conhecidas, e ficou mais de 12 horas no local. Com apoio da psicóloga, ele aceitou ir descansar”, disse Contreiras.
A última parte desse trabalho é após o desastre, com o acompanhamento dos profissionais envolvidos nas buscas. A principal preocupação é que os militares apresentem Transtorno de Estresse Pós-traumático.
“Os efeitos de combater uma tragédia como essa podem aparecer lá na frente, e por isso já estamos planejando trabalhos quando as buscas sejam encerradas. O principal foco, no primeiro momento, vai ser nos profissionais que são da região, que são muito mais afetados. Um calendário vai ser elaborado e vamos realizar atividades em grupo. A previsão é de pelo menos quatro encontros, de duas horas cada, na unidade”, contou o Major Contreiras.
Trabalho segue com apoio de maquinário
O trabalho dos militares continua nos pontos afetados pelo temporal. O foco continua em seis regiões de deslizamentos e nos leitos dos rios da cidade. Até o momento, 58 cães farejadores já apoiaram nas buscas.
“Temos tido uma boa evolução nos últimos dias, conseguindo encontrar desaparecidos e chegar cada vez mais perto de zerar essa lista, dando o mínimo de conforto às famílias. Se não tivesse chovido por tantos dias, teríamos avançado ainda mais. Esse momento é de usar o maquinário, que acelera o processo, e o apoio dos cães também é essencial, já que indicam um raio de busca mais efetivo”, disse o porta-voz do Corpo de Bombeiros.
O efetivo de aproximadamente 620 militares, contabilizando profissionais do Rio de Janeiro e de outros estados, deve continuar até o fim das buscas pelos desaparecidos. Mas a corporação pede o apoio da população.
“Precisamos da colaboração de todos. Nesse momento a orientação é só sair em caso de extrema necessidade, pois a cidade ainda está cheia e o deslocamento continua demorando muito. Outro fato importante a destacar é o respeito pelas sirenes. Se ouviu uma sirene, é pra desocupar áreas de risco”, pediu o Major, lembrando que é importante confiar na capacitação dos militares.
“Dentro das equipes, temos líderes treinados, especializados, que sabem exatamente o que fazer em emergências que desabam ou deslizam. Esse treinamento é atualizado todo ano e é essencial que a população se lembre que pode confiar nos bombeiros”, concluiu.