• Áreas de risco têm adensamento de famílias pobres e em extrema pobreza: as favelas de Petrópolis

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  • 27/02/2022 08:19
    Por Estela Siqueira, especial para a Tribuna

    Em dezembro de 2009, os números oficiais eram alarmantes: 10 mil famílias em áreas de risco, dados divulgados pela própria prefeitura, o equivalente a 40 mil pessoas. O estudo, iniciado em 2007, pela Theopratique, contratada pelo município, mapeou 102 regiões, mas apenas do primeiro distrito, onde as áreas de risco eram consideradas as mais expressivas até então.

    Em 2011 as chuvas que deixaram 73 mortes no Vale do Cuiabá, em Itaipava, desmentiram que os distritos não registravam problemas. A tragédia na localidade, no entanto, atingiu do rico ao pobre passando por uma maioria de classe média mostrando que as águas não fazem distinção. Porém, chuvas anteriores e a deste ano mostram que as famílias menos favorecidas, evidentemente, estão expostas a mais riscos em função da moradia precária em áreas vulneráveis.

    Dez anos depois do primeiro estudo, em 2017, a mesma empresa, de novo contratada pela prefeitura, ampliou o trabalho para toda a área da cidade. E o resultado foi ainda mais assustador: 27.704 casas em áreas de risco. No Morro da Oficina, o palco da tragédia deste ano, foram 80 deste total que vieram abaixo.

    Não que o intervalo de uma década tenha ampliado em mais 17 mil residências em encostas com risco de deslizamento, mas eram áreas que ainda não haviam sido diagnosticadas por meio do estudo. O levantamento de 2017 é um retrato mais fiel do tamanho do problema que aponta para a falência do poder público em controlar o uso do solo e promover moradia digna para famílias.

    O adensamento, no entanto, passou a ganhar definição correta e mais detalhes com o censo de 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgado no ano seguinte. O estudo mostrou 15 comunidades carentes sendo denominadas como favelas com infraestrutura precária reunindo uma população de pouco mais de 25 mil habitantes. Estudos seguintes e mais recentes mostram que esta precariedade está, logicamente, diretamente ligada à pobreza.

    Em Petrópolis, de acordo com dados do Ministério da Cidadania, até abril de 2021, 27.254 famílias estavam inscritas no CadÚnico, cadastro de acesso para os programas sociais do governo como o Bolsa Família.
    São mais de 2,9 mil famílias que ingressaram no CadÚnico em menos de dois anos, porque em dezembro de 2019 eram 24.329 famílias. E também subiu a quantidade de famílias que vivem com menos de R$ 89 por mês per capita, a chamada extrema pobreza. Há dois anos seriam em torno de 10 mil e hoje são 12.519.

    Essas quase 24 mil famílias que recebem algum benefício como o Renda Brasil perfazem quase as 27 mil casas em áreas de risco mapeadas em 2017, então os estudos se confirmam e complementam.

    Petrópolis tem 48 “grupamentos subnormais”, segundo o IBGE

    Em 2010, no último censo, o IBGE considerava 15 “aglomerados subnormais” em Petrópolis. Há dois anos, no entanto, na pesquisa “Aglomerados Subnormais: Classificação preliminar e informações de saúde para o enfrentamento à Covid-19”, divulgada em maio de 2019, o mapeamento apontava 48 “aglomerados subnormais” em Petrópolis, entre eles o Morro da Oficina, o palco principal da tragédia 2022.

    A denominação “aglomerados subnormais” é a classificação do IBGE para áreas como favelas, invasões e loteamentos irregulares. São áreas com poucos e precários serviços públicos e com construções frágeis e que são ocupadas por famílias pobres ou em extrema pobreza. A situação ficou ainda mais agravada com a pandemia e o custo de vida como o preço do gás que colocou o fogão à lenha improvisado como recurso para essas pessoas.

    “A pobreza não diminui. Ao contrário, ela vem aumentando”, afirma Carla Carvalho, coordenadora do Centro de Defesa dos Direitos Humanos, criado em Petrópolis em 1979, uma das entidades que mais de perto conhece a realidade das famílias petropolitanas, fazendo um trabalho que vai desde a assistência mais básica, com alimentos, até a jurídica, com amparo legal para questões dos moradores e posicionamento em combate a injustiça sociais. O CDDH atende uma média de 120 (diferentes) famílias por mês com cestas básicas, a maioria não inscrita em benefícios sociais.

    “Mesmo os benefícios sociais para quem recebe não são o suficiente. Podem ajudar a colocar alimento em casa, mas não transformadores da realidade, de melhoria de vida”, afirma Carla Carvalho.

    O CDDH que conhece de perto a realidade de comunidades carentes na cidade visualiza os cidadãos que não conseguiram benefícios porque sequer sabem onde se dirigir. “A tecnologia não é a realidade para centenas e centenas, principalmente idosos, aqueles vivem isolados da tecnologia, que nem sabem usar ou mesmo tem um celular”, completa a coordenadora.

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