O Banco Mundial consolidou em 2012 um amplo documento sobre a tragédia das chuvas do ano anterior que afetaram sete cidades da região, total de 918 mortos e 30 mil desalojados. O estudo levantou um prejuízo de R$ 1,6 bilhão no setor privado e Petrópolis, agora em 2022, com a catástrofe de 15 de fevereiro, pode, sozinha, superar em perdas este valor. Nesta conta entram perdas em patrimônio, gastos em reconstrução de imóveis, reequipagem de empresas e recuperação de produção, entre outros itens.
O levantamento do Banco Mundial estimou, entre perdas e danos, custos totais da ordem de R$ 4,7 bilhões para toda a área atingida pelas chuvas de 2011. Dentre estes custos, aproximadamente R$ 3,1 bilhões correspondiam ao setor público e R$ 1,6 bilhões recaíram sobre a propriedade privada.
“Vai ser uma conta alta em 2022 e Petrópolis, que já tem uma estimativa de R$ 655 milhões em impacto direto, anunciado pela Federação das Indústrias do Estado do Rio, pode triplicar este valor somando todas as perdas”, afirma o consultor de investimentos, Felipe Abib.
Um levantamento como o do Banco Mundial, no entanto, pode levar meses. “Estes dados demoram muito a ser consolidados. Então, o que temos hoje, por uma visão de área atingida, que é bem maior do que a do Vale do Cuiabá, com 2011 e tendo repercussões das chuvas em vários bairros, é um prejuízo maior em infraestrutura pública e também nos negócios particulares”, afirma o consultor de investimentos.
Abib menciona um prejuízo pulverizado em toda a economia que vai desde o microempreendedor até as grandes empresas. “É um varejo imenso de prejuízo. E temos um agravante de uma alta no preço do material de construção com o índice que regula o setor, o INCC (Índice Nacional da Construção Civil) tendo explodido nos últimos 12 meses ainda em função da pandemia. Então é material caro e isso impacta do pequeno, que precisa fazer um muro, a uma grande empresa que com área maior a ser recuperada”, enumera.
Outros preços também vão influenciar um prejuízo maior, segundo o consultor de investimentos, como o preço do carro seminovo que virou ‘artigo de luxo’ com a falta de zero quilômetro no mercado. Em Petrópolis já ultrapassam 400 carros sinistrados pelas chuvas e que podem estar inutilizados em sua maioria. “Também há preços subindo para equipamentos, então a reposição de maquinário será cara”, avalia Abib.
Tragédia de 2011 deixou prejuízo de R$ 4,7 bilhões
Em 2011, o Banco Mundial apurou que o setor habitacional foi o que registrou custos privados (perdas) mais relevantes (R$ 647 milhões). Os setores sociais foram os que mais sustentaram perdas e danos, com um custo total estimado em R$ 2,6 bilhões. Em segundo lugar, o setor de infraestrutura foi impactado em cerca de R$ 1 bilhão. Os setores produtivos tiveram custos diretos e indiretos estimados em R$ 896 milhões, enquanto os impactos ambientais foram estimados em R$ 71,4 milhões.
Com perdas (impactos diretos) superiores aos danos (impactos indiretos), destaca-se o setor de habitação, com perdas de quase R$ 2 bilhões em função dos elevados custos das obras de contenção de encostas, orçadas em aproximadamente R$ 1,3 bilhões.
Outros setores como transporte (sem levar em conta dados de interrupção de atividades) e saneamento também foram impactados com custos de R$ 620 milhões e R$ 418 milhões, respectivamente. O estudo lista ainda o setor produtivo do comércio como o segundo mais impactado, com custos totais estimados em R$ 469 milhões em perdas.
Habitação, com contenção de encostas, teve prejuízo de R$ 1,3 bilhão em 2011
Em 2012, o levantamento do Banco Mundial estima que a habitação havia sido um dos setores mais fortemente atingidos. Os custos privados mais relevantes ficam na faixa de R$ 647 milhões. Na responsabilidade do poder público, seriam perdas de quase R$ 2 bilhões em função dos elevados custos das obras de contenção de encostas, orçadas em aproximadamente R$ 1,3 bilhão.
Em 2011, o governo federal anunciou recursos de R$ 2,27 bilhões e oito mil casas populares para toda a região afetada pela tragédia. Onze anos depois, a realidade é que a metade apenas foi reservada. Dos R$ 987,6 milhões empenhados pelo Ministério do Desenvolvimento Regional na ocasião para obras de manejo de águas pluviais, apenas R$ 53 milhões foram pagos até hoje – e R$ 11,6 milhões só foram repassados nos últimos três anos para obras de drenagem urbana.
Já o governo do estado em balanço no ‘aniversário’ de 10 anos da tragédia reconheceu que um terço da verba (cerca de R$ 500 milhões) destinada à construção de moradias, contenção de encostas e limpeza do leito dos principais rios não havia sido ainda aplicada.
Pelas contas do governo, mais de R$ 1 bilhão havia sido investido na entrega de mais de 4 mil casas, no reassentamento de 2,9 mil famílias, em 93 obras de contenção de encostas, na reconstrução de 24 pontes e na limpeza de leitos de 8 rios. Mesmo assim, faltavam cerca de mil moradias e dez contenções e desassoreamentos.