“Muitas casas e vidas ainda estão ameaçadas”, relatam moradores que temem novos deslizamentos
A noite do dia 15 de fevereiro ainda é um filme que não terminou para moradores dos bairros afetados pela tragédia. Na 24 de Maio e na rua Nova, localidades do centro, muitos deixaram às pressas os lugares onde moram, mesmo os que não tiveram as residências atingidas. É que ali, rochas, algumas do tamanho de casas, podem ainda oferecer risco de novos deslizamentos. A região conta, segundo estimativa dos próprios moradores, com 270 famílias que podem estar no trajeto de um novo deslizamento. Em outro bairro, Caxambú, rochas no alto da montanha também tiram o sono dos moradores, que já sofreram com deslizamentos que destruíram casas e tiraram vidas na rua Barão de Águas Claras.
“Eu estava em casa, era muita chuva, mal deu para ouvir o momento em que as rochas desabaram”, conta o Marcelo Fernando da Silva, de 61 anos, aposentado, morador da rua Nova. Ele revela ainda que a intensidade da chuva também não permitiu ouvir a sirene, que fica a cerca de 100 metros do local onde mora. “Eu não ouvi tocar no dia”.
Na hora do deslizamento foi a esposa quem viu e o chamou. A vizinha, uma senhora de 71 anos, foi soterrada, mas resgatada com vida por outros vizinhos. A casa onde o Marcelo vive não foi atingida, mas mesmo assim ele teve que deixar o imóvel no dia seguinte da tragédia. “Ainda tem umas rochas lá em cima e todo mundo está com medo de que elas desçam. Mandaram a gente sair e poucas pessoas ficaram”, afirma o morador da rua Nova, que retornou à casa nesta quarta-feira (23) para buscar alguns pertences. “Vou para a casa do meu filho e depois procurar algum outro lugar para morar. São 15 anos aqui. Conheço muita gente que perdeu a vida. É uma tragédia. Eram muitas casas em uma área de risco. E muitas casas e vidas ainda estão ameaçadas. Muitas famílias vão perder o pouco que ainda restam. Alguns perderam pais, irmãos, avós, filhos”, lamenta.
Também seguem sob ameaça os moradores da rua Barão de Águas Claras, no Caxambú, um endereço considerado mais “nobre” onde imóveis de alto padrão foram atingidos pelas pedras que se deslocaram do alto do morro. Hoje, uma equipe da Prefeitura realizou a desobstrução da via, que está interditada para trânsito. O acesso só é permitido a moradores. Em uma das casas atingidas, um pai, uma mãe e um filho perderam a vida. A filha desta família está internada na UTI.
Há um contraste social grande entre a rua Barão de Águas Claras e a rua Nova. A primeira é bem menos populosa que a segunda. São poucas casas e nenhuma delas são construções em áreas de alto risco, conforme os mapeamentos contratados pelo município nos últimos anos. Em comum, os dois locais tem neste momento a ameaça de novos deslizamentos de pedras, ainda que o impacto possa ser sentido de forma diferente nas duas localidades. “Ainda há pedras no alto do morro. Elas precisam ser analisadas. Precisam ser desmontadas para não deslizarem novamente”, disse um morador da rua Barão de Águas Claras, que preferiu não se identificar. “Estamos sem dormir direito há dias, todo dia que chove é um pesadelo”, completa.