Aluguel Social de R$ 500 e especulação imobiliária deixará mais de 1,1 mil famílias sem moradia segura
A tragédia pela qual o município passa deixou, até agora, pouco mais de 1,1 mil famílias desabrigadas e, ao que tudo indica, esse número vai dobrar, já que muitas pessoas ainda não conseguiram se deslocar até o ponto de apoio onde é feito o cadastro para ingresso no programa Aluguel Social. Na outra ponta existem ainda os desalojados, número não estimado, abrigado em casa de parentes. E em Petrópolis, a especulação e o monopólio imobiliário, somados ao valor irrisório que é concedido nos benefícios de auxílio emergencial para moradia, vão empurrar essas pessoas mais uma vez para áreas de risco.
Atualmente o valor concedido pelo Governo do Estado é de R$ 500. Defasado para os parâmetros imobiliários do município desde a sua regulamentação, em 2013. Já em relação ao benefício Auxílio Aluguel concedido pelo município, desde as chuvas de 2002, a realidade é ainda pior, com 308 pessoas na fila de espera (dados de dezembro de 2021), o valor de R$ 550 – reajustado no ano passado, garantiu um aumento irrisório por um lado, e a redução no número de beneficiários por outro, o que engrossou a fila de espera por moradia.
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De acordo com o balanço da Secretaria de Desenvolvimento Social e Direitos Humanos do Estado, até este domingo, 1.117 pessoas solicitaram o cadastro no Aluguel Social. O governador Cláudio Castro flexibilizou as regras para concessão do benefício, ampliando para 60 dias o prazo para apresentação do laudo de interdição da Defesa Civil. Mas sem um reajuste que siga minimamente os parâmetros do mercado imobiliário do município, as famílias vão continuar sem ter como alugar uma nova casa.
“O valor de R$ 500 é quase que um deboche. Pela minha visão, pelo meu radar, entre 60 e 70% (dos desabrigados) depende só disso. Outros não, outros estão se redesenhando em questão de estrutura familiar: o marido, a mulher, o filho, estão puxando a sogra, porque a sogra também perdeu a casa, então a união dessas rendas, conseguem com complemento dos quinhentos reais, ir para uma área razoável. Agora, quem depende exclusivamente do município, do benefício do auxílio aluguel, essas famílias realmente vão fazer a migração, vão fazer a permuta de uma área de risco para outra área de risco”, explica Murilo Maciel, corretor de imóveis em Petrópolis, há 11 anos.
Desde a terça-feira, dia da tragédia, Murilo tem atendido em média 20 pessoas por dia em busca de aluguel. Antes da chuva havia muitos apartamentos disponíveis, e agora, segundo Murilo, não há oferta. “O mercado já estava com escassez de casas, embora tivesse muita oferta de apartamento. E num período agressivo de algumas horas, muitos senhorios congelaram o valor, outros não flexibilizaram e outros até aumentaram o valor por conta da demanda. E não estou conseguindo operar negócios, estou até abrindo mão da minha comissão para colocar consciência na cabeça do proprietário para flexionar, subtrair, diminuir o valor pra poder encaixar as intenções dele alugar e do interessado em ir para o imóvel urgente”, explica.
“Já vi crise por causa do impeachment, vi crise por conta da pandemia, e agora estou assistindo essa que é especificamente na nossa cidade, mas jamais vi tamanha especulação imobiliária como está acontecendo agora”, relata Murilo.
Na última quarta-feira, dia seguinte à tragédia, o governador Cláudio Castro se comprometeu em agilizar a inclusão e liberação do benefício para as vítimas sobreviventes ao desastre. Ele reconheceu que o programa fracassou enquanto benefício emergencial e se comprometeu em construir moradias definitivas para as famílias.
“O principal é o ‘Casa da Gente’, é dar uma moradia digna para essas pessoas fora da área de risco. E a prioridade da prioridade, que foi dito no dia do lançamento, (em relação) às pessoas no aluguel social é analisar que o montante já gasto já daria para construir muitas residências e muita gente já estaria fora do aluguel social. Aluguel social não é uma política pública, não é e não será uma política pública. Ela é um paliativo para esse momento, infelizmente o que era paliativo virou permanente. A gente tem que mudar esse peso para mudar esse paliativo e as pessoas tenham a sua residência”, disse Castro.