Uma iniciativa criada em 2015 com o intuito de incentivar a participação de mulheres nas ciências vem quebrando barreiras, desfazendo estereótipos e colhendo vitórias num setor que tem o predomínio de homens: Tecnologia da Informação (TI).
Intitulado de Mulher(Ada), o projeto da Faeterj Petrópolis, unidade de Educação Superior da Fundação de Apoio à Escola Técnica (FAETEC), tem como proposta uma abordagem multidisciplinar, que envolve todo o coletivo institucional e busca despertar o interesse de mulheres jovens na carreira. Para isso, as cientistas contam com o laboratório de robótica, o (Sir Lab) da unidade.
Para a professora Lucimar Cunha, idealizadora do projeto, o objetivo é incentivar e atrair a participação das alunas para as diversas áreas de TI, e inspirar na região serrana fluminense uma nova geração de talentos, liderada por mulheres interessadas numa carreira profissional na área das TIC.
“Este projeto se justifica por inserir num ambiente acadêmico, voltado para ciência e tecnologia, reconhecidamente como um ambiente ‘mais masculino que feminino’. Trata de questões sobre a naturalização de estereótipos cristalizados na sociedade, incentivando a discussão de gênero na comunidade acadêmica e ampliando os espaços de trocas e experiências, de uma política institucional sólida de defesa dos direitos humanos, respeito à diversidade, destinada a combater o sexismo, o racismo, a homofobia, o assédio moral, o preconceito social e quaisquer outras formas de discriminação”, disse Lucimar Cunha.
Ainda de acordo com Lucimar, o sucesso do projeto se deu graças ao empenho dos idealizadores durante a divulgação, que incluiu até mudança da logomarca. “Para incorporar mais participações de alunos, alunas, professores e professoras, no ano de 2017, iniciamos uma série de palestras e eventos no município, sempre com foco na atração de meninas e mulheres para área de tecnologia. No ano de 2018, a logo do projeto foi reformulada pela professora Sicília Judice”, concluiu.
O Mulher(Ada) planeja, para este ano, o lançamento de história em quadrinho, tendo a inglesa Ada Lovelace (a primeira mulher a contribuir significativamente para os programas de computadores atuais) como personagem principal. Produzida pela designer gráfica Clara Gomes, a ideia será convertida em animação, com apoio dos próprios alunos, numa conexão com as atividades desenvolvidas no laboratório de audiovisual da Faeterj Petrópolis, a ser inaugurado ainda em 2022. A trilha sonora desta animação será produzida por Rosane Gonçalves, secretária acadêmica da unidade.
Todo este trabalho conta ainda com o apoio da pedagoga Vanderléa Moussa. Para ela, com o Mulher(Ada), as estudantes conseguiram se tornar protagonistas de suas histórias quando o assunto é ciência.
“A importância de projetos, como a Robótica e o Projeto Mulher(Ada), visa dar espaço para as meninas/mulheres atuarem de forma mais direta na área de tecnologia, um espaço ainda essencialmente masculino. Mas acredito que, com projetos como este da nossa faculdade, nós já estamos conseguindo ser protagonistas e até estimular outras meninas/mulheres para a área de tecnologia”, disse Vanderléa.
Para a ex-integrante do projeto, Bianca Guaravi, de 20 anos, por muito tempo, mulheres foram negligenciadas. Eram impedidas até de frequentar uma faculdade, entre outras coisas. Ela acredita que, assim como o projeto Mulher(Ada) transformou sua vida, também pode mudar a de muitas mulheres.
“Muitas vezes as mulheres não acreditam que podem chegar ao patamar de estudar numa faculdade, ou de fazer mestrado, ou doutorado. Participar de projetos ou fazer parte da tecnologia. Esse tipo de projeto como o Mulher(Ada) traz para nossa realidade essa visão de que nós mulheres podemos sim estar nas ciências. Eu aprendi a ter uma visão de que eu podia mais, podia alcançar mais, fazer mais a partir do momento que comecei a participar do projeto”, disse a ex-bolsista do Mulher(Ada) e atual estudante de engenharia da computação.
A excelência dos programas fez com que, em 2021, o “Meninas na Robótica Para a Participação em Olimpíadas Científicas” fosse contemplado pelo programa “Meninas e Mulheres nas Ciências”, incentivo oferecido pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj), cujo edital está em fase de conclusão.
Esse grande “guarda-chuva”, que cobre vários projetos chamado Mulher(Ada), prevê ainda a integração de alunas da Faeterj Petrópolis, com alunas do Cefet Petrópolis e do Liceu de Itaipava, já em vias de execução, estando agora na fase final de disponibilização da documentação de outorga no SisFaperj para prospecção e vinculação das alunas.