Ex-servidores resgatam lembranças do Palácio Imperial
Já pensou no quão incrível seria se pudéssemos aprender história de uma maneira diferente? Ir além do que é dito nos livros e, de fato, vivenciar o que um dia estudamos? Bom, algo parecido aconteceu com filhos de ex-servidores do Museu Imperial que, por muitos anos, tiveram a oportunidade de ter como quintal de suas casas, o jardim do Palácio. Sim, eles moraram em edificações, algumas delas ocupadas hoje por funções técnicas e administrativas, localizadas na mesma propriedade em que membros da família real haviam vivido anos antes. Detentores de memórias únicas a respeito do local, eles foram convidados a participar de um bate papo na 14ª Edição do evento Fale-me de Petrópolis, que aconteceu na última quinta-feira (21), na biblioteca do Museu.
O projeto, gratuito e aberto ao público, acontece a cada última quinta-feira do mês e tem como intuito abordar aspectos relacionados à cidade a partir de convidados que dominem o tema, indo de historiadores a moradores antigos, por exemplo. Esta edição ganhou uma dimensão ainda maior em função do tema “Memória Institucional”, definido pelo Instituto Brasileiro de Museus como parte da programação da 11ª Primavera dos Museus. Maurício Ferreira, diretor do Museu Imperial, dá mais detalhes sobre a ação e explica o porquê do nome do projeto.
“O nome Fale-me de Petrópolis vem de uma fala de Dom Pedro II que, quando em exílio após a Proclamação da República, escrevia cartas e as finalizava com esse comentário. Em nosso caso, representa um momento de troca de ideias, de tardes agradáveis para falarmos sobre aspectos de nossa vida na cidade. Este mês, devido ao tema “Memória Institucional”, decidimos trazer petropolitanos que viveram na casa do Imperador, no complexo do Palácio Imperial de Petrópolis para falar sobre suas experiências. Afinal, eles fizeram parte da história da instituição”.
A reunião contou com a presença de ex-moradores, ex-funcionários e um dos ex-servidores, Sebastião Mendes Teixeira, de 97 anos, que trabalhou como guarda no Museu por 36 anos. Quem também compareceu à ocasião foi sua sobrinha de 77 anos, Iracy Teixeira Lins. Tendo morado no Museu por pouco mais de 30 anos, Iracy compartilhou reminiscências de um período feliz e agradável de sua vida, chegando, inclusive, a contar algumas de suas aventuras como o dia em que se deparou com o príncipe. Ela ressalta seu amor pelo Museu citando um trecho de uma poesia que escreveu em 1978 para homenagear a cidade. “Como posso me sentir pobre, se nasci na realeza?”, brinca Iracy.
Muitos dos presentes aproveitaram a oportunidade para levar antigas fotografias e, inclusive, documentos de importância histórica, como foi o caso de Vera Ribeiro, neta de Fortunée Levy, que trabalhou no Museu Histórico Nacional. Ela levou a pasta funcional de sua avó contendo um pedido de cessão provisória do Museu Histórico para o Museu Imperial assinado pelo Presidente da República Getúlio Vargas e pelo Ministro da Educação e Saúde da época.
“Minha mãe faleceu há dois anos e, enquanto eu arrumava sua casa, encontrei uma foto de minha tataravó. Decidi vir ao Museu para descobrir se eles poderiam me ajudar com relação à conservação e à preservação do registro. Nisso, comentei sobre os documentos de minha avó e acabei sendo convidada a participar do Fale-me de Petrópolis. Por nunca ter vindo, eu não tinha nenhuma expectativa, mas achei o evento muito bom e importante no resgate e construção da memória do Museu e da própria cidade”.
Fátima Argom, pesquisadora e arquivista do Museu Imperial ressalta a importância das contribuições feitas pelos próprios petropolitanos para o arquivo do Museu. “As contribuições complementam o arquivo institucional do Museu Imperial porque o museu também tem em seu arquivo histórico uma parte dedicada à própria instituição. Nós temos processos de cada um dos funcionários que trabalharam aqui. Hoje, por exemplo, recebemos doações de fotos. Com isso, teremos a imagem dos ex-servidores. Assim, o acervo do Museu vai sendo ampliado e enriquecido. Às vezes, as pessoas têm em casa materiais considerados irrelevantes, mas que são fundamentais para a história. Mesmo situações simples como fotografias que mostram prédios que já foram demolidos, por exemplo, têm seu valor”, explica Fátima. Os interessados em contribuir com fotografias ou documentos podem procurá-la no setor de arquivo do Museu Imperial que funciona de segunda a sexta, das 9 às 18 horas.
(Iracy Teixeira Lins e Maurício Ferreira)