Palácio de Cristal: arqueólogos encontram vestígios do jardim original que pode ter sido criação do “Paisagista do Imperador”
O trabalho de investigação sobre os vestígios arqueológicos da história do Palácio de Cristal continua e a equipe, que busca desvendar este mistério, começa a revelar mais evidências de que o requinte da construção do século XIX, não se resumia apenas à imponente estrutura construída nas oficinas de St. Sauver-les-Arras, na França, por encomenda do Conde D’Eu, então Presidente da “Sociedade Agrícola de Petrópolis”.
Debaixo de anos de aterro na Praça da Confluência, já foi revelada, recentemente, a localização do cruzeiro original (uma estrutura anterior ao próprio palácio). Agora, os arqueólogos encontraram também o passeio público original da época em que foi construído o palácio e que pode ter sido uma criação do francês Auguste François Marie Glaziou, também conhecido como “O Paisagista do Imperador”, o mais importante paisagista na época da construção do palácio.
“Há uma possibilidade real, já que Glaziou desembarcou no Rio de Janeiro (em 1858) a convite do então imperador Dom Pedro II e permaneceu no país até depois da construção do Palácio (o que aconteceu em 1889)”, destaca Giovani Scaramella, diretor da empresa de arqueologia Grifo, contratada pelo município (à pedido do Instituto Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – IPHAN) para a execução do trabalho de investigação histórica no Palácio de Cristal.
Desde que chegou ao país, Glaziou acumulou os cargos de Diretor dos Parques e Jardins da Casa Imperial e Inspetor dos Jardins Municipais, além de integrar a Associação Brasileira de Aclimação. Seus postos, e sua ligação com o imperador, lhe permitiram estar ligado à maior parte de projetos paisagísticos acontecidos na Corte durante o Segundo Império. “Entre essas reformas esteve a do Passeio Público da Quinta da Boa Vista e do Campo de Santana”, lembra Scaramella.
Em Petrópolis, Glaziou foi o responsável pela criação do jardim da famosa Casa Petrópolis, que também é conhecida como Casa dos 7 Erros ou Casa da Ipiranga, uma das mais belas construções históricas da cidade. Agora, enquanto os arqueólogos seguem na busca de desvendar o passado, caberá à equipe de historiadores da empresa confirmar o que pode ser uma importante descoberta histórica. “Temos ainda que confrontar com a documentação histórica, que está sendo levantada, assim como melhorar o registro dos dados arqueológicos”, revela o diretor da Grifo.
“O Paisagista do Imperador”
Nascido em Lannion, na Bretanha, França, em 1833, Auguste François Marie Glaziou era formado em engenharia civil. Ele também estudou botânica no Museu de História Natural de Paris, aprofundando seus conhecimentos em agricultura e horticultura. Participou ainda da reforma do Jardim Público da cidade de Bordeaux (Bordéus), na França.
Além da relevante atuação em projetos de jardins, praças e parques, que teve enorme impacto no paisagismo brasileiro na segunda metade do século XIX, Glaziou também é o responsável pela descoberta e catalogação de diversas espécies de plantas nativas da Mata Atlântica. Algumas, inclusive, receberam o seu nome, como a Glaziovia Bauhinioides, da família das bignoniáceas, descrita na Flora Brasiliensis, e a Manihot glaziovii (maniçoba), bem como a adoção de plantas brasileiras em praças e ruas do país.
Além dos jardins e parques públicos, Glaziou realizou também obras para particulares, como os jardins da residência das princesas imperiais, da família do Barão de Nova Friburgo, do Barão de Mauá, no Rio de Janeiro, e de Tavares Guerra, em Petrópolis. Agraciado com a Ordem de Cristo e a Ordem da Rosa, Glaziou permaneceu no Brasil até 1897, quando se aposentou e retornou à França, onde morreu em 1906.