• Investigado, governador do Acre atribui aumento do patrimônio à inflação

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  • 15/01/2022 13:45
    Por Estadão

    Investigado pela Polícia Federal sob suspeita de desvios em contratações públicas, o governador do Acre e pré-candidato à reeleição, Gladson Cameli (PP), rebateu nesta sexta-feira, 14, os questionamentos levantados contra sua gestão. Em entrevista ao UOL News, ele negou irregularidades e disse que tem interesse em esclarecer, ‘o quanto antes’, o que chamou de ‘pontos de dúvida’.

    “Quem é gestor público hoje, quem está a serviço, como eu como governante, nós temos que estar preparados, prontos, para situações como essa”, afirmou. “As instituições, a Polícia Federal, a Controladoria Geral da União e os demais órgãos, têm todo o direito de esclarecer onde há dúvidas.”

    As suspeitas vieram a público em dezembro, quando a PF abriu a Operação Ptolomeu e prendeu a chefe de gabinete do governador.

    Ao UOL, Cameli disse estar ‘pronto para colaborar com os órgãos de investigação’. “Eu tenho procurado ficar em silêncio, porque às vezes uma palavra, um gesto, podem interpretar que eu queira atrapalhar”, declarou. “A partir do momento que eu não crio nenhum tipo de problema que venha a querer atrapalhar as investigações é o mínimo que eu posso fazer.”

    Os investigadores desconfiam que o governador tenha agido para prejudicar a Operação Dose de Valores, que foi aberta em junho do ano passado e acabou arrastando Cameli para o centro das suspeitas de irregularidades apuradas na Ptolomeu. A suspeita é que a ação tenha sido vazada, o que teria permitido ao Executivo decretar ponto facultativo justamente no dia em que a Polícia Federal cumpriria mandados de busca e apreensão. Na ocasião, a justificativa da medida foi a redução da circulação em razão da pandemia, mas onze dias depois o governo autorizou a reabertura do comércio.

    “Eu estou aguardando que se conclua essas investigações para que eu possa me defender e mostrar para a sociedade que eu não compactuo, eu não aceito qualquer tipo de irregularidade”, sintetizou Cameli. “Eu confio nas instituições. Eu preciso, o quanto antes, que essa situação seja passada a limpo.”

    Ao comentar sua evolução patrimonial desde que assumiu o cargo, um dos pontos centrais usados para justificar a tese de enriquecimento ilícito, o governador atribuiu o crescimento à ‘inflação’. O Ministério Público Federal (MPF), que acompanha as investigações, calcula que o enriquecimento ilícito do governador seja de, no mínimo, R$ 2 milhões. Seu patrimônio saltou de R$ 2,9 milhões em 2018 para R$ 6,4 milhões, segundo o inquérito.

    “Teve o aumento, até porque você sabe: o que custava 80 está 160. Aí é natural essa questão do aumento patrimonial. Mas tudo tem origem e está declarado. É notório. Por exemplo, um carro antes da pandemia que custava R$ 100 mil, hoje está R$ 200 mil, está R$ 300 mil. O que eu posso te falar, te garantir, é que esse aumento é devido a essa questão de inflação”, justificou.

    Ao ser questionado sobre o motivo da investigação, Cameli afirmou que seu nome foi arrastado para o inquérito por empresários.

    “Houve um processo de investigação de um determinado assunto. Dois empresários, quando citaram o meu nome, automaticamente o foco veio todo para o chefe do Executivo”, disse.

    A investigação foi estruturada a partir de um relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) que apontou vinte comunicações de movimentações financeiras suspeitas envolvendo o governador. As transações notificadas ultrapassam a marca de R$ 828 milhões. São depósitos fracionados em espécie, uso de pessoas interpostas para pagamento de contas pessoais, compra de veículos de luxo subfaturados com cessão de créditos, contratações imobiliárias com uso de laranjas e repasses de empresas fictícias. De acordo com o documento produzido pelo Coaf, contabilizando apenas depósitos em dinheiro vivo, as contas do governador receberam R$ 956 mil entre agosto de 2018 e novembro de 2021.

    “São transações que o Coaf identifica. Tudo o que eu venha a pagar, seja de cartão de crédito, boleto bancário, com dinheiro vivo, eu tenho que ter a origem. Isso será tudo esclarecido. Porque e partir de um momento que eu vou pagar um boleto, eu não iria pagar jamais se eu não tivesse a origem desses recursos. Isso as equipes das empresas da minha família e minhas estão cuidando”, afirmou. “Os servidores do meu gabinete, na época que eu era senador da Pública, dois tinham uma procuração para tratar dos assuntos pessoais”, emendou sobre os pagamentos.

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