• Arqueólogos concluem fase de investigação do Cruzeiro no Palácio de Cristal

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  • 05/01/2022 17:04
    Por Vinícius Ferreira

    O trabalho arqueológico no jardim do Palácio de Cristal chegou nesta semana a mais uma descoberta histórica. A empresa contratada para investigar os resquícios do passado do monumento e seu entorno, localizou a base original do Cruzeiro. Desde setembro, os arqueólogos vêm investigando o que as fotos e gravuras do passado já indicavam, que o cruzeiro, que ainda existe no espaço, ficava em um local diferente. 

     “Esse cruzeiro ficava na frente do palácio, pelo que mostravam as fotos do início do século passado. Aproximadamente, a cinco metros de distância. Nós reproduzimos a mesma foto, que foi tirada a partir do que hoje é a entrada do espaço, e conseguimos, com um trabalho de sobreposição de imagem e mapeamento a laser, identificar o provável ponto onde ele ficava. As escavações nessa área revelaram a base onde estava fixado esse ponto, que tem uma história anterior à do próprio Palácio e nos diz um pouco sobre como os imigrantes utilizavam a praça da Confluência”, revela Giovani Scaramella, diretor da empresa Grifo Arqueologia.

    A base do Cruzeiro encontrada pelos arqueólogos. (Foto: Divulgação)

    História do Cruzeiro 

    A gravura, feita pelo artista Otto Reimarus, em 1854, a partir do palácio, em direção à rua Alfredo Pachá (onde se dá o acesso atual ao ponto turístico), já havia indicado aos arqueólogos que o cruzeiro, era um ponto de adoração de fiéis católicos, que vieram para a cidade a partir da colonização alemã.

    “Nessa época, ele contava ainda com uma espécie de oratório e uma cerca. Na frente (na gravura) há uma pessoa com os braços erguidos. Nas nossas pesquisas, especialmente voltadas para os hábitos religiosos do povo alemão, que migrou para a cidade neste período, chegamos às Flurkreuz (cruz de piso, no alemão). Elas eram comumente instaladas em países da Europa como a Alemanha, em caminhos de peregrinação de fiéis católicos”, conta o diretor da empresa de arqueologia.

    A gravura que mostra o Cruzeiro no terreno onde o Palácio foi construído. (Foto: Divulgação)

    A Praça da Confluência, que ficava no lugar onde se encontravam os rios Quitandinha e Piabanha, surgiu em 1846 e a primeira notícia de uma atividade oficial na praça foi uma missa em homenagem à vinda dos colonos alemães. “Antes do Palácio de Cristal já existia o uso social desse espaço”, contextualiza a historiadora e educadora patrimonial da Grifo, Roselene Martins, que lembra que só a partir de 1870 o espaço começou a receber as primeiras exposições de hortícolas.

    “Essas exposições, que ocorriam uma vez por ano, faziam tanto sucesso que, a partir da ideia de Pedro II de um espaço permanente para elas, o Conde d’Eu, marido da Princesa Isabel e presidente da Sociedade Agrícola de Petrópolis, inspirado no Crystal Palace de Londres, encomendou o palácio pré-fabricado, que representa um momento em que a monarquia estava se mostrando atual para o século XIX. Trazer esse prédio de vidro e ferro inspirado nos ingleses, que eram o suprassumo da revolução industrial, simbolizava uma monarquia moderna, o que deveria ser a marca do Segundo Reinado”, afirma Roselene, que lembra que o palácio só foi inaugurado em 1884.

    Investigações arqueológicas

    Desde o dia 28 de setembro, uma demarcação de escavações foi feita na frente do Palácio de Cristal. Antes, na primeira etapa do trabalho, foi realizado o peneiramento dos 324 metros de trincheiras no aterro que compõe o jardim. Desde maio, mais de duas mil peças, entre pedaços de louças inglesas usadas pela elite do século XIX e de stoneware, foram encontradas. Algumas já estão expostas na entrada do que hoje é um ponto turístico. A maior parte, no entanto, foi encaminhada para análise em laboratório no sul Fluminense.

    Prefeitura anuncia retorno das atividades no espaço

    Ainda em dezembro, poucos dias após assumir o governo, o prefeito Rubens Bomtempo visitou o Palácio de Cristal, acompanhado por secretários municipais e representantes da empresa responsável pela obra, e estipulou a meta de reabrir ao público o atrativo, que está fechado há dois anos. Uma reabertura que aconteceria em tempo para a realização da Bauernfest, em junho. Além disso, o município anunciou ainda uma nova licitação para melhorias no palácio em si.

    Também em dezembro, ainda na gestão interina, a prefeitura já havia anunciado o retorno das obras de melhorias nas instalações elétricas no jardim do Palácio, que foram paralisadas no início de 2020, quando as escavações para esse serviço foram interrompidas pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – IPHAN, sob a descoberta de objetos que remetiam ao passado do espaço.

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