• Programa quer dar ‘forcinha’ para acelerar carreiras de jovens músicos

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  • 04/01/2022 08:00
    Por Daniel Silveira / Estadão

    O que um músico em início de carreira precisa para despontar? As respostas podem ser muitas. Então, a União Brasileira de Compositores (UBC) resolveu dar uma forcinha para alguns e criou o Impulso, um programa de aceleração de carreiras que está na segunda edição. O Impulso 2.0, que recebe inscrições até 7 de janeiro, será realizado ao longo de 2022 em formato digital. Inicialmente, os 675 artistas já inscritos (e aqueles que ainda forem se inscrever) respondem um quiz; depois, quem se der melhor terá workshops com nomes de importantes áreas da vida artística: gestão, marketing, direito, finanças… E, finalmente, os finalistas passarão por mentorias com esses especialistas.

    O cantor Romero Ferro, vencedor da primeira edição, em 2019, será um dos mentores. “Eu devo falar sobre a questão do mercado no interior, de como fazer para estar lá e, ao mesmo tempo, estar conectado”, conta. Ele lembra que o primeiro passo para ter a carreira “acelerada” é o artista saber qual seu objetivo. “O mais importante é o quanto você está certo do trabalho que tem e onde quer chegar”, explica.

    ENTENDENDO O MERCADO

    Um dos nomes à frente do Impulso é o presidente da UBC, Marcelo Castelo Branco. Ele é realista, sabe que muitos artistas sonham com estrelato, mas também é assertivo em avisar que não há lugar para todo mundo. “Não existe justiça no mercado, você tem que acreditar muito no seu trabalho, estudar muito o mercado, música, entender o que você quer falar e com quem para ter alguma chance.”

    Ao contrário de gerações anteriores, Marcelo destaca que a facilidade de acesso a meios digitais ajudou artistas a encontrarem seu público. “Existe um processo seletivo natural, mas hoje tem muito mais do que antes e o mundo digital deu esse acesso”, pontua Marcelo.

    A forma como artistas podem lidar com as possibilidades do mundo digital também é um assunto para os mentores, como o uso de redes sociais ou como lidar com serviços de streaming, dois dos principais responsáveis pelo aumento do alcance dos artistas mais novos. Para se ter uma ideia, dá para gravar um álbum inteiro dentro de casa, usando um computador, subir tudo no Spotify e YouTube, fazer divulgação usando Instagram e ainda realizar shows e lives nas redes sociais.

    Ao mesmo tempo em que a democratização dos meios facilitou a vida dos artistas, ela também criou desafios. Para Marcelo, não basta criar conteúdo e subir nos serviços. “Para ser um artista, é preciso carisma, originalidade, personalidade.” Esses são alguns requisitos, mas nem mesmo isso é o bastante. “A atenção do consumidor é limitada, ele tem uma concorrência grande”, diz. Por isso é preciso conquistar seu público e isso pode demorar um tempo. “Não é só um trabalho, é quase um sacerdócio, uma doação ingrata e insólita durante muitos momentos”, continua.

    MUITO TRABALHO

    O cantor Victor Mus, que também participou do Impulso em 2019 e se prepara para a nova edição, é uma mostra disso. Com 30 anos, se dedica à música desde os 13. Com tantos anos de “estrada”, já sabe que o caminho que precisa seguir para despontar e viver plenamente de sua arte não é tão fácil. “Para construir uma carreira você precisa de tempo, saber onde está, para onde vai”, diz.

    Outro ponto importante é o investimento financeiro. “Tem uma fábula que diz que se for muito bom, você estoura, mas não é bem assim”, comenta Victor. Ele conta que começou a trabalhar aos 17 anos para ajudar nas despesas de casa e hoje se divide entre um trabalho formal e a carreira musical.

    “Seria ideal o artista poder ter uma segurança para trabalhar, viver de arte.” No entanto, Marcelo lembra que, mesmo com muito dinheiro, não há garantia do sucesso. “Você pode disponibilizar todo dinheiro do mundo, mas se não emocionar as pessoas, todo investimento é artificial”, afirma Marcelo.

    FOCO

    Depois de vencer o Impulso em 2019, Romero usou o conhecimento adquirido para reorganizar sua carreira. Gravou singles com nomes como Lucy Alves, Luiz Caldas e Teago Oliveira. Antes da pandemia limitar eventos, estava com shows agendados pelo Brasil, Europa e Estados Unidos. Em 2020, como a grande maioria dos artistas, voltou sua carreira para o meio digital.

    “Nosso foco era crescer digitalmente mesmo antes da pandemia”, lembra. E depois do coronavírus, “o que me sustentou nesse último ano foi o digital”. A forma como passou a estar nas redes sociais foi um aprendizado do projeto.

    Para Romero, o artista precisa seguir uma cartilha se quiser viver de sua arte, como entender um pouco de cada coisa, pensar no seu público e estudar. “Estudo engloba tudo, desde faculdade, curso online, ler artigos. Buscar conhecimento é a melhor forma de se encontrar”, comenta Romero Ferro.

    Além de resistir e insistir. “Sou sempre a favor de que quem trabalha com arte tem que persistir, é um processo de maturação, quanto mais estofo botar nessa base, vai criando mais solidez”, finaliza Romero.

    As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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