Fonte da verdadeira alegria e não à tristeza
Aproximando-se o dia de Natal, a Liturgia faz um convite à alegria! Exorta São Paulo: “Alegrai-vos sempre no Senhor; eu repito, alegrai-vos” (Fl 4, 4-7). Estamos celebrando lll Domingo do Advento, também conhecido como o “Domingo Gaudete”, “alegrai-vos”. Lemos no Profeta Isaías: “Exulto de alegria no Senhor…” (Is 61, 10). Nossa alegria está no Senhor! A fonte da alegria cristã é a certeza de que Deus nos ama e está no meio de nós com uma proposta de salvação e de felicidade.
O Advento é precisamente um tempo de expectativa, de esperança e de preparação para a visita do Senhor. Para este compromisso convidam-nos também a figura e a pregação de João Batista, como lemos no texto do Evangelho de João 1,6-8.19-28. João retirou-se no deserto para levar uma vida muito austera e para convidar, inclusive com a sua vida, as pessoas à conversão; ele confere um batismo de água, um rito de penitência singular, que o distingue dos múltiplos ritos de purificação exterior das seitas dessa época. Portanto, quem é este homem, quem é João Batista? A sua resposta é de uma humildade surpreendente. Não é o Messias, não é a luz. Não é Elias que voltou para a Terra, nem o grande profeta esperado. É o precursor, simples testemunha, totalmente subordinado Àquele que ele anuncia; uma voz no deserto, como também hoje, no deserto das grandes cidades deste mundo, de profunda ausência de Deus, temos necessidade de vozes que simplesmente nos anunciem: “Deus existe, está sempre próximo, embora pareça ausente”. É uma voz no deserto e uma testemunha da luz; e isto toca o nosso coração, porque neste mundo, com tantas trevas e obscuridades, todos somos chamados a tornar-nos testemunhas da luz. Esta é precisamente a missão do tempo de Advento: ser testemunhas da luz, e somente o podemos ser, se tivermos a luz em nós, se tivermos a certeza não só de que a luz existe, mas de que vimos um pouco de luz. Na Igreja, na Palavra de Deus, na celebração dos Sacramentos, no Sacramento da Confissão, com o perdão que recebemos; na celebração da Sagrada Eucaristia, onde o Senhor se entrega nas nossas mãos e corações, tocamos a luz e recebemos esta missão: ser hoje testemunhas de que a luz existe, transmitir a luz ao nosso tempo.
São Paulo (1Ts 5,16-22) lembra-nos precisamente a missão de bondade e de alegria confiada aos cristãos: “Irmãos, vivei sempre na alegria… Avaliai tudo, mantendo o que é bom. Afastai-vos de toda espécie de maldade”. Não são reprováveis apenas as más ações, mas também a omissão de tantas obras boas que não se concretizam por egoísmo, por frieza ou indiferença para com o próximo necessitado. Mas, para se estar sempre disposto a fazer bem a todos, é preciso viver em comunhão com Jesus, deixando-se arrastar pelos Seus sentimentos de bondade, de amor e de misericórdia. E a oração é o momento culminante desta comunhão, como afirma o Apóstolo: “Orai sem cessar” (1Ts 5,17).
A alegria do Advento e a alegria de cada dia é porque Jesus está muito perto de nós. A alegria cristã não é uma atitude passageira de festas humanas, mas um estado permanente, de quem confia que a vida cristã é uma caminhada ao encontro do Senhor que vem. A alegria é um dos sinais da presença de Deus no coração de uma pessoa. O verdadeiro júbilo não é fruto do divertir-se, entendido como isentar-se dos compromissos da vida e das suas responsabilidades. A verdadeira alegria está ligada a algo de mais profundo. Sem dúvida, nos ritmos diários, muitas vezes frenéticos, é importante encontrar espaços de tempo para o descanso, para a distensão, mas a alegria autêntica está ligada à relação com Deus. Quem encontrou Cristo na própria vida, sente no coração uma serenidade e uma alegria que ninguém e nenhuma situação podem tirar. Santo Agostinho compreendeu-o muito bem; na sua busca da verdade, da paz, da alegria, depois de ter procurado em vão em múltiplas situações, conclui com a célebre expressão, que o coração do homem está inquieto, não encontra tranquilidade e paz, enquanto não descansar em Deus(cf. Confissões, l, 1, 1). A verdadeira alegria não é um simples estado de espírito passageiro, nem algo que se alcança com os próprios esforços, mas é um dom, nasce do encontro com a Pessoa viva de Jesus, do fazer-lhe espaço em nós, do acolher o Espírito Santo que guia a nossa vida. É o convite que faz São Paulo, que diz: “Que o próprio Deus da paz vos santifique totalmente, e que tudo aquilo que sois – espírito, alma, corpo – seja conservado sem mancha alguma para a vinda de Nosso Senhor Jesus Cristo” (1Ts 5, 23).
“Alegra-te, cheia de graça, porque o Senhor está contigo”, diz o Anjo a Maria. A causa da alegria na Virgem é a proximidade de Deus. E o Batista, ainda não nascido, saltará de alegria no seio de Isabel ante a proximidade do Messias. E o Anjo dirá aos pastores: Não temais, trago-vos uma boa nova, uma grande alegria que é para todo o povo, pois nasceu-vos, hoje, um salvador…” (Lc 2, 10-11). A alegria é ter Jesus, a tristeza é perdê-Lo.
Jesus, após a Ressurreição, aparecerá aos seus discípulos em diversas ocasiões. E o evangelista irá sublinhando repetidas vezes que os Apóstolos “se alegraram vendo o Senhor” (Jo 20,20). Eles não esquecerão nunca esses encontros em que as suas almas experimentaram uma alegria indescritível.
Poderemos estar alegres se o Senhor estiver verdadeiramente presente na nossa vida, se não o tivermos perdido, se não tivermos os olhos turvados pela tibieza ou pela falta de generosidade. Quando, para encontrar a felicidade, se experimentam outros caminhos fora daquele que leva a Deus, no fim só se acha infelicidade e tristeza. Fora de Deus não há alegria verdadeira. Não pode havê-la. Encontrar Cristo, ou tornar a encontrá-Lo, é fonte de uma alegria profunda e sempre nova.
O cristão deve ser um homem essencialmente alegre. Mas a sua alegria não é uma alegria qualquer, é a alegria de Cristo, que traz a justiça e a paz, e que só Ele pode dar e conservar, porque o mundo não possui o seu segredo.
A alegria do mundo procede de coisas exteriores: nasce precisamente quando o homem consegue escapar de si próprio, quando olha para fora, quando consegue desviar o olhar do seu mundo interior, que produz solidão porque é olhar para o vazio. O cristão leva a alegria dentro de si, porque encontra a Deus na sua alma em Graça. Esta é a fonte da sua alegria! Não nos é difícil imaginar a Virgem Maria, nestes dias do Advento, radiante de alegria com o Filho de Deus no seu seio. A alegria do mundo é pobre e passageira. A alegria do cristão é profunda e capaz de subsistir no meio das dificuldades. É compatível com a dor, com a doença, com o fracasso e as contradições. “Eu vos darei uma alegria que ninguém vos poderá tirar” (Jo 16,22), prometeu o Senhor. Nada, nem ninguém, nos arrebatará essa paz gozosa, se não nos separarmos da sua fonte.
A nossa alegria deve ter um fundamento sólido. Não se pode apoiar exclusivamente em coisas passageiras: notícias agradáveis, saúde, tranquilidade, situação econômica desafogada, etc., coisas que em si são boas se não estiverem desligadas de Deus, mas que por si mesmas são insuficientes para nos proporcionarem a verdadeira alegria.
O Senhor pede que estejamos sempre alegres! Só Ele é capaz de sustentar tudo na nossa vida. Não há tristeza que Ele não possa curar: “Não temas, mas apenas crê” (Lc 8,50), diz-nos o Senhor.
Fujamos da tristeza! Uma alma triste está à mercê de muitas tentações. Quantos pecados se têm cometido à sombra da tristeza! Por outro lado, quando a alma está alegre, abre-se e é estímulo para os outros; quando está triste obscurece o ambiente e faz mal aos que tem à sua volta.
A tristeza nasce do egoísmo, de pensarmos em nós mesmos esquecendo os outros. Quem anda excessivamente preocupado consigo próprio dificilmente encontrará a alegria da abertura para Deus e para os outros. Em contrapartida, com o cumprimento alegre dos nossos deveres, podemos fazer muito bem à nossa volta, pois essa alegria leva a Deus.
A Igreja tem razão de alegrar-se neste tempo do Advento por “estar revestida das vestes da salvação, envolvida com o manto da justiça”. Mas isto não é suficiente; ela deve fazer germinar a salvação diante de todos os povos “como um jardim faz germinar as sementes”; deve ser fermento de vida entre os homens. É nosso dever de cristãos. O Advento nos faz recordar e a Eucaristia nos renova a certeza, para que saibamos proclamá-la aos irmãos que estão vivendo na tristeza, “sentados à sombra da morte”.
Neste tempo de Advento revigoremos a certeza de que o Senhor veio ao meio de nós e renova continuamente a sua Presença de consolação, amor e alegria. Confiemos n’Ele; como ainda afirma Santo Agostinho, à luz da sua experiência: “o Senhor está mais próximo de nós, do que nós de nós mesmos” (Confissões, lll,6,11)
“Dentro de pouco, de muito pouco, Aquele que vem chegará e não tardará” (Hb 10,37), e com Ele chegarão a paz e a alegria; em Jesus encontraremos o sentido da nossa vida.
Que a nossa alegria seja um testemunho muito forte de que Cristo já está no meio de nós.
“Irmãos, estai sempre alegres!” (1Ts 5, 16). Este convite à alegria, dirigido por São Paulo aos cristãos de Tessalônica, naquela época, caracteriza também o domingo de hoje, tradicionalmente chamado “Gaudete”. Ele ressoa desde as primeiras palavras da Antífona de Entrada: “Alegrai-vos sempre no Senhor: repito-vos, alegrai-vos, o Senhor está próximo!”; assim escreveu São Paulo, da prisão, aos cristãos de Filipos (Fl 4, 4-5), e diz isso, inclusive a nós. Sim, alegremo-nos, porque o Senhor está próximo de nós e, daqui a poucos dias, na noite de Natal, celebraremos o Mistério do seu Nascimento.
Maria, Aquela que foi a primeira a ouvir do Anjo o convite: ”Salve, ó cheia de Graça, o Senhor está contigo” (Lc 1, 28), indica-nos o caminho para alcançar a verdadeira alegria, aquela que provém de Deus. Confiemos o nosso caminho à Virgem Imaculada, cujo espírito exultou em Deus Salvador. Ela guie os nossos corações na espera jubilosa da vinda de Jesus, uma expectativa rica de oração e de obras boas.
Mons. José Maria Pereira