• Com atraso e aos poucos, atacarejos se rendem às vendas pela internet

  • 03/12/2021 17:00
    Por Márcia De Chiara / Estadão

    Seguindo o comércio varejista, o setor de atacado começa a se digitalizar, de olho em regiões mais distantes do País. A iniciativa ainda é tímida, mas é apontada por especialistas como uma tendência irreversível, já que a aposta é que, mesmo com o fim da pandemia, as pessoas continuem a comprar pela internet.

    Prova disso é que a Associação Brasileira de Atacadistas e Distribuidores (Abad) iniciou, na semana passada, um marketplace batizado de AbasteceBem. O shopping virtual é voltado a venda a empresas, e não ao consumidor final. “A demanda de um marketplace veio dos próprios atacadistas”, conta Leonardo Severini, presidente da Abad. Por enquanto, sete atacadistas participam do marketplace, mas há 150 empresas interessadas.

    O e-commerce entre os atacadistas é algo relativamente novo. Pesquisa da consultoria Nielsen para a Abad revelou que, em setembro do ano passado, quase metade dos atacadistas (48,4%) não estava no comércio online, 19,7% estavam em fase de construção desse canal e 31,9% já usavam o e-commerce. Destes, só um terço estava em marketplaces.

    É uma realidade que começa a mudar. Em agosto, o Atacarejo Raiz ingressou no Mercado Livre. A empresa faz parte do grupo Lopes, de Guarulhos (SP), que tem 29 lojas de supermercados e três atacarejos. A companhia viu a possibilidade de chegar aos 70 milhões de clientes ativos do gigante da internet. “É uma plataforma de vendas muito forte, com um potencial de negócio fantástico”, afirma José Osvaldo Leivas, diretor-presidente do Lopes Supermercados.

    Custos

    German Quiroga, consultor técnico do projeto da Abad, diz que o baixo custo de acesso ao marketplace é o grande atrativo. “É óbvio que a loja física continua super-relevante, mas o consumidor mudou. Temos de pensar numa forma mais inteligente e barata para atender os clientes”, diz.

    No marketplace da Abad, cada atacadista administra as suas entregas ou as mercadorias vendidas podem ser retiradas pelos clientes nas lojas. O objetivo é ter em três anos o marketplace consolidado, prevê o presidente da associação.

    Já no caso do Raiz, os estoques ficam nos centros de distribuição do Mercado Livre pelo Brasil, que garantem a realização da entrega em até dois dias. “Se o cliente compra da indústria ou de outro distribuidor, demora de cinco a seis dias para receber o produto”, explica Leivas. Uma parte do custo do frete é subsidiada pelo atacarejo e a outra, pelo consumidor.

    O Raiz já negocia a entrada do atacarejo em um segundo marketplace e planeja ter o próprio site no ano que vem, além de manter a presença nas plataformas de entrega rápida.

    Devagar

    Enquanto atacadistas e atacarejos menores avançam no online, os gigantes do atacarejo caminham em marcha lenta. O Assaí, que pertence ao gigante francês Casino (também dono do Grupo Pão de Açúcar), não tem e-commerce próprio nem está em marketplaces. No momento, no entanto, o atacarejo tem um projeto ousado de abertura de lojas físicas.

    Em setembro, a companhia fechou parceria com o aplicativo de entregas Cornershop by Uber. O Assaí informa que, por enquanto, a melhor estratégia para atender seu cliente é usar aplicativos de última milha (chamado de “last mile”). A companhia tem intenção de fechar acordos com outros aplicativos desse segmento nos próximos meses.

    Faz um ano que o concorrente Atacadão, que pertence ao grupo Carrefour, comprou a CotaBest, uma startup referência no mercado de atacado online. Com isso, montou um marketplace onde estão presentes 300 vendedores parceiros. A empresa informa que os clientes desse marketplace são outras empresas, e não o consumidor final. A companhia também firmou parcerias com aplicativos de entrega, como Rappi e Cornershop.

    “Assaí e Atacadão estão mais atrasados na digitalização, estão entrando de forma mais experimental”, afirma Quiroga, da Abad. A razão, segundo o consultor, é que essas redes de atacarejo têm uma posição muito interessante no mercado com lojas tradicionais. Por isso, optam por explorar outros canais de vendas apenas quando atingem uma posição consolidada no varejo físico.

    As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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