• A Morte

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  • 31/07/2017 13:00

    Às vezes, não precisamos de muito esforço para mover uma lágrima, basta uma saudade. Quando esta vem pela partida eterna, buscamos explicações para a irreversibilidade que a morte física oferece. A alma é o nosso vínculo com a eternidade, pois o corpo é perecível e deteriora com o passar do tempo. 

    É possível, no plano metafísico, acreditar em outra vida após a morte, em uma dimensão não limitada pela matéria. E, por acreditar na existência da alma, encontro várias razões para ter fé em Deus. E aqui recorro, mais uma vez, a Fernando Pessoa em “Prece”:

    “Senhor, que és o céu e a terra, que és a vida e a morte! O sol és tu e a lua és tu e o vento és tu. Tu és os nossos corpos e as nossas almas e o nosso amor és tu também. Onde nada está tu habitas e onde tudo está – (o teu templo) – eis o teu corpo.

    Dá-me alma para te servir e alma para te amar. Dá-me vista para te ver sempre no céu e na terra, ouvidos para te ouvir no vento e no mar, e mãos para trabalhar em teu nome.

    Torna-me puro como a água e alto como o céu. Que não haja lama nas estradas dos meus pensamentos nem folhas mortas nas lagoas dos meus propósitos. Faze com que eu saiba amar os outros como irmãos e servir-te como a um pai. […]”

    Ter uma vida digna aqui na Terra começa por “amar os outros como irmão” e servir a Deus como a um pai. É nesse passo e neste espaço que temos que caminhar. São pelas nossas ações que alcançamos a Paz Eterna. É por isso que, à medida que praticamos o bem, menos tememos a morte.

     Pela dor da partida de alguém, podemos mensurar o amor que sentíamos, uma vez que é difícil sofrer por quem não se ama. Soren A. Kierkegaard, no livro “As Obras do Amor” difere o amor que temos por um amigo do amor que temos pelo próximo, sem o vínculo afetivo da amizade:

    "Não é o próximo que te segura, mas sim é o teu amor que segura o próximo, se o teu amor para com o próximo se mantiver inalterado, então o próximo permanecerá inalteradamente presente. E a morte não pode roubar-te o próximo, pois se ela te tirar um, a vida em seguida te dará de novo um outro. A morte pode roubar-te um amigo, porque no amor do amigo tu estás unido com ele; mas no amor ao próximo tu estás unido com Deus, e por isso a morte não pode roubar-te o próximo. 

    Este texto surgiu pela frequência das notícias de falecimento nos últimos meses, principalmente de professores que marcaram a história da Educação de Petrópolis: o Professor Roberto Francisco e a Professora Albertina C. Nunes da Cunha, Membros do Quadro de Eméritos da Academia Petropolitana de Educação; o professor Paulo Roberto da S. Barbosa, Membro Titular da referida Academia, ocupava a Cadeira nº 28, patronímica de Meinrado Mattaman. A professora Maria José Trindade Negrão, que pertencia ao Quadro de Membro Honorário do referido sodalício. Essa tristeza também se acentuou pelo falecimento do Professor Otto de Alencar de Sá-Pereira e da professora Mauriza Pedroso Mazza. 

    É humanamente explicável essa dor que faz crescer no peito um vazio diante da ausência de um ente querido. Mas a vida tem que continuar. Concordo com a compositora Ana Vilela, quando diz: “Segura teu filho no colo/ Sorria e abrace teus pais enquanto estão aqui/ Que a vida é trem-bala, parceiro/ E a gente é só passageiro prestes a partir.”

    E, nesta passagem por este mundo, não devemos perder a oportunidade de encontrar a humildade, porque ela é o passaporte para o descanso eterno. O orgulho, a vaidade impedem ninguém de tornar-se cinzas. 


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