• O som do silêncio

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  • 31/07/2017 12:50

    "Um rei enviou seu filho para estudar no templo de um grande mestre com o objetivo de prepará-lo para ser um grande homem. Tivera informações que este mestre ouvia o som do silêncio, e com tamanha sabedoria era capaz de superar as mais difíceis provações da vida. Quando o príncipe chegou ao templo, o mestre enviou-o para a floresta, e mandou que permanecesse lá, sozinho, por um ano. Ele deveria voltar um ano depois, com a tarefa de descrever todos os sons da floresta detalhadamente. Meio assustado, lá foi o jovem com esta grande missão, prestar a máxima atenção a todos os sons da floresta por um ano inteiro. Quando o príncipe retornou ao templo, após um ano, o mestre lhe pediu para descrever todos os sons que conseguira ouvir. Então disse o príncipe: "Mestre, pude ouvir o canto dos pássaros, o barulho das folhas, o alvoroço dos beija-flores, a brisa batendo na grama, o zumbido das abelhas, o barulho do vento cortando os céus, a chuva nas folhas…" O mestre ouviu tudo atentamente, e percebeu que o discípulo ainda não estava pronto. Ainda precisava aprofundar na percepção do sutil silêncio perene que envolve todos os sons, todos os eventos… 

    Ao terminar o seu relato, o mestre pediu que o príncipe retornasse a floresta, para apurar sua escuta. Apesar de intrigado, o príncipe obedeceu a ordem do mestre, pensando: "Não entendo, eu já distingui todos os sons da floresta…" mas seguiu seu caminho… Por muitos dias e noites ficou sozinho ouvindo, ouvindo, ouvindo…, mas não conseguiu distinguir nada de novo além daquilo que havia dito ao mestre. Porém, certa manhã, começou a distinguir sons vagos, diferentes de tudo o que ouvira antes. E quanto mais prestava atenção, mais claros os sons se tornavam. Viu nascer no seu coração uma divina sensação de encantamento que logo tomou conta de seu ser…

     Pensou: "Esses devem ser os sons que o mestre queria que eu ouvisse…" E sem pressa, ficou ali ouvindo e ouvindo, pacientemente. Queria desfrutar desse momento mágico, que sutilmente lhe revelara a perfeita harmonia entre tudo e todos… Quando retornou ao templo, o mestre lhe perguntou o que mais conseguira ouvir. Paciente e respeitosamente o príncipe disse: "Mestre, quando prestei atenção pude ouvir o inaudível som das flores se abrindo, o som do sol nascendo e aquecendo a terra e da grama bebendo o orvalho da noite…

    Pude desfrutar da brisa da manhã e beber da fonte de água pura, senti as gotas de chuva refrescando meu rosto e os pássaros bailavam sua dança em meio as flores e as borboletas… O mestre, sorrindo, acenou com a cabeça em sinal de aprovação, e disse: "Ouvir o inaudível é ter a paz necessária para deixar o silêncio interior aflorar e revelar sua natureza essencial. Agora vá, siga seu caminho, seu Dharma… O inaudível revelou-se a você, todo o Universo dança e canta esta canção. O inaudível exterior e o inaudível interior são o mesmo, o mesmo silêncio perene, cantante, dançante… manifesto… Já não há mais nada a aprender…O Buda despertou…" – Conto Zen. 

    Lembre-se sempre: quando nos abstraímos do meio e nos voltamos para o nosso interior, o silêncio absoluto nos leva para o vazio, ao equilíbrio e a paz. "Um monge aproximou-se de seu mestre, que se encontrava em meditação no pátio do templo à luz da Lua,  com uma grande dúvida: "Mestre, aprendi que confiar nas palavras é ilusório; e diante das palavras, o verdadeiro sentido surge através do silêncio. Estou certo? O velho sábio respondeu: "As palavras são como um dedo apontando para a Lua; cuida de saber olhar para a Lua, não se preocupe com o dedo que a aponta." Medite sempre. A luz e o som do silêncio te iluminarão.

    achugueney@gmail.com 

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