Shame
No seriado para a televisão “Game of Thrones”, uma cena chocante – dentre as muitas da obra – ficou marcada em minha retina e sensibilidade: a punição à cruel rainha Cersei Lannister, interpretada pela atriz Lena Headey, obrigando-a a percorrer longo trajeto, de seu tribunal até o castelo, sob ofensas e detritos jogados pela população e ela, nua, cabelos cortados, sob a sombra de mulheres em repetitivo insulto com a palavra “shame” – vergonha – , experimentando o horror da repulsa e do ódio de quantos sofriam no seu reinado marcado pela violência, roubo, cruentas mortes, assassinatos, adultérios, incestos… Vergonha total…
Gostaria de transplantar a triste cena para uso da realidade política brasileira.
Sim, creiam todos, necessitamos de um grande impacto, um choque monumental, como se possivel fosse remeter a classe política para a rua, despida integralmente de seus bordados, jóias e bolsos cheios, todos borrados, sob o estribilho “shame”, repetido ad nauseam por uma nação apodrecida nas ruas, envergonhada, em trapos, pela falência financeira, e, principalmente, decadência absoluta dos mínimos preceitos morais, a que tais bandidos conduzem o infeliz e manipulado eleitor brasileiro.
Estamos cansados de ver “triunfarem as nulidades”, no dito do grande Rui Barbosa, diante da podridão epidêmica, crescendo sem freios, nas mãos da mais abjeta classe política que já assaltou o País. O rombo moral é tamanho, envergonhante, injusto para um povo que não recebe adequada instrução, vê comprometida a sua cultura de valores sãos, enegrecido o país nas mãos inescrupulosas do bando político que nos assalta e envergonha.
Vivo há pouco mais de oito lustros, acompanhei e vivi momentos incríveis do vai-e-vem da política, passei por crises, começando minha vida em plena ditadura Vargas e percorrendo as trilhas do exercício equivocado e indecente dos representantes do povo, passando por ditadura militar e por aberturas de enganos e mentiras, No caminho suicídios da vida e políticos, deposições, eleições fraudulentas, promessas, promessas, promessas e mãos impuras chafurdadas no chorume do poder financeiro. Coisa de uma insanidade absoluta e cruel.
E o momento que vivemos, abrindo esse infeliz século XXI, é de um surrealismo inacreditável, quando a classe política – pouquíssimas exceções – mete a mão na honra e na dignidade, sem o mínimo pudor e deveria – sim – marchar em massa informe e deletéria pelas ruas do país, nus, sem a possibilidade de, na caminhada oprobriosa, comprimirem os botins nos bolsos. Mas o brasileiro mordaz até já criou uma frase: “nú com a mão no bolso” porque o perverso político há de sempre arranjar seu jeitinho para casquinhar a honra alheia, como tem feito até aqui.
Os gritos de : Fora este ! Fora aquele ! Fora ! Fora! – estão sendo usados por todos: os que desejam de fato a depuração ou por aqueles que querem tirar seus companheiros antigos porque desejam estar no lugar deles.
E, grande vergonha recente, senadoras ocuparam a nobre mesa do Senado Federal, devoraram quentinhas, para impedir a realização da sessão e só capitulando quando a luz foi cortada ; flagrante ofensa ao decoro parlamentar ; deviam ter sido exemplarmente punidas com o rigor da legislação. Porém, estamos no estágio de quem pode punir, támbém delinque, e precisa receber voz de prisão.
O momento é das cobras comendo as cobras ! Butantã, neles ! Shame !