• ‘Assassinato para Dois’ exige muita versatilidade de dois atores

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  • 02/11/2021 08:00
    Por Ubiratan Brasil / Estadão

    Mais que uma peça, é um desafio: apenas dois atores representam vários personagens em um musical cujo único instrumento presente é um piano – dedilhado, aliás, também pela dupla. Esse é o mote de Murder por Two, comédia que estreou em Chicago em 2011 e que chega a São Paulo nesta terça, 2, no Teatro das Artes, no Shopping Eldorado, com o título de Assassinato para Dois.

    “Eles formam a própria banda”, comenta Zé Henrique de Paula, que dirige a montagem brasileira. “E isso se tornou o desafio para se encontrar o equilíbrio nos atores entre atuar a cantar.” Foi essa equação que ele (além da diretora musical Fernanda Maia) conseguiu resolver a partir das diversas habilidades dos atores Marcelo Octavio e Thiago Perticarrari.

    Juntos, eles contam uma história que começa com o assassinato de Arthur Whitney, um famoso escritor, que leva um tiro na sua festa de aniversário. Como o detetive mais próximo está a uma hora de distância da mansão, o policial Marcos aproveita a chance para testar suas habilidades de investigação, junto de seu parceiro silencioso, Lou. Eles interrogam os suspeitos, todos com algum motivo que justifique cometer o crime. “É a clássica trama inspirada em Agatha Christie sobre quem é o culpado”, observa o encenador.

    Assim, durante a investigação, Marcos (Perticarrari) busca na obra literária do assassinado elementos que possam incriminar os suspeitos, que incluem Dahlia Whitney, mulher de Arthur e agora viúva, a bailarina Barrette Lewis, o psiquiatra dr. Griff, além de um casal de idosos e um grupo de garotos marrentos – todos interpretados por Octavio. “Vivo nove personagens”, diverte-se ele, que ainda se reveza no piano com Perticarrari.

    O intrincado processo seguiu várias etapas e começou com o aprendizado das canções. “Como as músicas têm vários compassos e também marcam a presença deles no palco, era importante ter todo o conhecimento da trilha antes de começar o ensaio cênico”, conta Fernanda Maia que, na adaptação que fez dos ritmos, incluiu de valsas a jazz. “O importante era manter uma unidade estilística, assim me baseei nos musicais da antiga Broadway.”

    SÓS. É importante lembrar que o trabalho começou no início do ano passado, ou seja, antes do isolamento provocado pela pandemia da covid. “Começamos a ensaiar individualmente, mas o resultado era pequeno, pois a peça só acontece com a interação entre os atores”, conta Octavio, que aproveitou para fazer pesquisas para a composição de seus diferentes papéis.

    Quando finalmente a equipe pôde se reencontrar, há algumas semanas, o trabalho foi retomado praticamente do zero. “Não tem outro jeito, pois a peça é como um reloginho: tudo tem o momento exato para acontecer, seja um diálogo, seja uma canção”, explica Perticarrari. “E a música ajuda a preparação para a próxima cena.”

    A profusão de personagens feita por apenas dois atores fez o diretor Zé Henrique de Paula se lembrar de O Mistério de Irma Vap, que se tornou um clássico justamente pelos poucos segundos com que dois atores trocavam de figurino para viver novos personagens – escrito pelo americano Charles Ludlam (1943-1987), o texto curiosamente só fez um estrondoso sucesso no Brasil graças ao talento da dupla de atores que se revezou ao longo do tempo, começando por Marco Nanini e Ney Latorraca (1986-1997), passando por Marcelo Médici e Cássio Scarpin (2008) até chegar a Luis Miranda e Mateus Solano (desde 2019), cuja versão é situada em um trem fantasma de um parque de diversões macabro.

    “A diferença é que, em Assassinato Para Dois, não é a troca de figurinos que marca a mudança de personagem, mas a interpretação e a música”, diz Zé Henrique. “Há uma cena, por exemplo, em que Marcel faz um dueto com ele mesmo, enquanto toca piano.”

    A cena, de fato, é hilariante e mostra o nível de versatilidade da dupla de atores. Aliás, logo nos primeiros minutos, Octavio mostra ao público os nove personagens, quando são apresentados ao policial. “Antes, há uma cena sem diálogos, para a qual buscamos inspiração nas comédias do cinema mudo”, explica Octavio, que enumera seus inspiradores cinematográficos, de Charles Chaplin a Buster Keaton. “Em nossa busca pelo farsesco, usamos também elementos da Comédia Dell’Arte e do vaudeville”, completa Perticarrari.

    Para marcar a personalidade de cada papel (e também facilitar o entendimento do público), Octavio criou distintos maneirismos. Assim, dr. Griff tem uma forma quase fanha de falar, enquanto a sexy Lisette tem uma voz rouca, sensualíssima. “E, para as crianças, eu me inspirei nos Três Patetas.” São 90 minutos com bons exemplos de virtuosismo.

    As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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