BCE: Lagarde defende globalização, mas alerta para necessidade de reformas
A presidente do Banco Central Europeu (BCE), Christine Lagarde, defendeu, neste sábado, a globalização como um sistema econômico “poderoso” que beneficiou a Europa nas últimas décadas, em discurso durante evento do Fundo Monetário Internacional (FMI).
Lagarde, no entanto, alertou para a necessidade de adaptações com objetivo de mitigar os riscos que a pandemia impôs a esse modelo. “Isso significa usar o peso econômico da Europa para apoiar a abertura comercial recíproca globalmente, ao mesmo tempo que fortalece sua própria demanda doméstica para se proteger de uma economia global mais volátil”, explicou.
A dirigente ressaltou que a integração do comércio global trouxe uma série de benefícios aos europeus, entre eles fortalecimento do mercado de trabalho. “Mas o outro lado de uma maior abertura comercial é uma maior exposição aos choques globais e, se as políticas corretas não estiverem em vigor, o potencial para que as pessoas se voltem contra a globalização”, ponderou.
Um dos subprodutos desse dilema foi o avanço do protecionismo nos últimos anos, de acordo com Lagarde. Ela lembrou que, em 2020, mais de 1,9 mil medidas restritivas foram adotadas por países em todo o mundo, cerca de 600 a mais que a média dos dois anos anteriores. “E há evidências de novas práticas discriminatórias sendo introduzidas este ano”, disse.
A economista francesa acrescentou que a economia global tem se tornado cada vez mais uma fonte de choques para a Europa, não mais um estabilizador contra volatilidade interna. De acordo com o BCE, as exportações na zona do euro teriam sido 7% maiores no início deste ano se não fossem pelos gargalos na cadeia produtiva causados pela covid-19.
“Mesmo depois que as perturbações criadas pela pandemia forem resolvidas, teremos que enfrentar as consequências de um clima em mudança e das estruturas industriais em mudança”, previu Lagarde.
Como resposta a esses fatores, a líder do BCE argumentou que a União Europeia deve evitar o protecionismo, ao mesmo tempo que toma medidas para ampliar a produção doméstica de itens vitais, como semicondutores.
“E a Comissão Europeia já está tomando medidas para reforçar o papel internacional do euro, o que pode, em última análise, tornar as empresas europeias mais resistentes ações desfavoráveis de terceiros”, pontuou.
Nesse cenário, a banqueira central argumentou que a política fiscal expansionista deve seguir em vigor enquanto houver ecos da crise, embora as medidas devam se tornar mais direcionadas aos setores afetados. Sobre a política monetária, ela disse que a ideia é manter o caráter acomodatício até a inflação alcançar 2% no médio prazo.
“E uma vez que a emergência pandêmica chegue ao fim – o que está se aproximando -, nossa orientação futura sobre as taxas de juros, bem como a compra de ativos, garantirá que a política monetária continue a apoiar o cumprimento de nossa meta”, reforçou.