A demagogia, o dinheiro e o carnaval
Não é de hoje que políticos recém-empossados utilizam de argumentos rasos como justificativa para suas diretrizes de governo. Junto ao já tradicional apelo da “herança maldita” – quando a culpa é toda do governo passado, surgem falsas mudanças, ditas novas prioridades, argumentadas em demagogia e sustentadas na simplificação da gestão orçamentária. Nesse desespero por cortes, é claro que o Carnaval não costuma escapar!
Antes de tudo, este debate deve sim novamente afirmar a importância cultural, social, turística e econômica do Carnaval. Não podendo deixar esquecer que, por toda a história, a festa sofreu muito com a discriminação e consequente perseguição sobre as suas tradições e legado. Como toda manifestação popular, ainda mais as de matriz negra, se sustentou na raça até ter algum tipo de reconhecimento ou respeito. Respeito? No caso de Crivella, oportuno e eleitoreiro.
Na desculpa de maior investimento em educação infantil, o prefeito, pegou de surpresa a LIESA (Liga Independente das Escolas de Samba do Rio de Janeiro) cortando 50% no subsídio dado às Escolas de Samba. Sendo que as mesmas contavam ao menos com a manutenção dos repasses – como prometido por Crivella ainda em campanha. Ato covarde que não só desorganiza o planejamento do Carnaval, como desestimula toda uma cadeia produtiva, boa parte local e comunitária, que tanto gera emprego e renda, além de financiar ações sociais nos espaços das próprias escolas.
Inviabilizando o grande espetáculo, gerando consequente incerteza no trade turístico e trazendo insegurança internacional, a medida prejudica a recepção dos mais de 1 milhão de foliões que passam pela cidade e muitas vezes aproveitam para conhecer outras regiões do estado. Uma grande irresponsabilidade que, como mostram os próprios dados da Riotur, ignora os ganhos econômicos do Carnaval: detentor de um impacto de R$ 3 bi e da gigante arrecadação de tributos em torno de R$ 90 mi. Números que podem ser ampliados com maior confiança e investimentos da iniciativa privada; o que obviamente precisa de mais estímulos do poder público, não o contrário.
Isto é, direita e indiretamente, na retórica simplista de Crivella ou em uma perspectiva sólida da gestão pública, que vá além de visões departamentais, o Carnaval é sim um bom negócio. Um bom negócio que antes de tudo é um patrimônio, nosso, vivo e capaz de contribuir até mesmo com a arrecadação de mais recursos públicos para a educação e saúde.
A ladainha de mexer na verba do Carnaval não é nova. Em Petrópolis, o ex-prefeito Rubens Bomtempo, usou da mesma ideia dizendo investir mais em saúde. Ninguém ainda entendeu muito bem como isto foi feito, mas todo mundo percebeu que o Carnaval quase morreu pela total desatenção de seu governo.
Por fim, Crivella bom sujeito não é… Nem se esforça mais para esconder seus preconceitos. Mas como sempre tivemos que resistir, entrei com Ação Popular que busca impedir na Justiça tal ato que fere nosso Carnaval. Pois com fé e esperança ainda lembro: o povo do samba também sabe rezar!