• ‘Dizer que o Brasil vai crescer mais de 2% é um exagero’

  • Continua após o anúncio
  • Continua após o anúncio
  • 05/10/2021 17:00
    Por Filipe Serrano / Estadão

    Sem a perspectiva de um crescimento robusto do Produto Interno Bruto (PIB) no ano que vem, o economista Luiz Fernando Figueiredo, sócio-fundador e presidente da gestora de recursos Mauá, diz que o cenário eleitoral contribui para o ambiente de incertezas e o desempenho fraco do PIB, uma vez que os dois candidatos atualmente favoritos na disputa eleitoral, Jair Bolsonaro e Luiz Inácio Lula da Silva, representariam riscos.

    Para o economista, o mercado já está mostrando preocupação com o futuro da economia brasileira, com a perspectiva de uma disputa polarizada. “É uma perspectiva de que, depois das eleições, as coisas não vão melhorar”, diz Figueiredo, que foi diretor de Política Monetária do Banco Central. “Dizer que o Brasil vai crescer mais do que 1,5%, 2% ao ano, nos próximos anos, é exagero.”

    Há um pessimismo nos mercados por causa dos riscos político e fiscal. Como isso afeta a trajetória da recuperação no País?

    Na minha visão, a percepção do que acontece (na economia) está descolada da realidade. Na situação fiscal, o que se projetava no início do ano era desastroso. Não foi o que aconteceu. A melhora é relevante. Mas, quando se olha para os mercados, parece que estamos na iminência de ter uma explosão fiscal. Os preços dos ativos sugerem que estamos indo para o caos. A nossa Bolsa tem o pior desempenho do mundo. Nossa taxa de câmbio, entre países relevantes, é a mais depreciada. A curva de juros reflete um risco de descontrole inflacionário.

    O que leva a essa percepção?

    Um fator é o estresse institucional (entre o presidente Jair Bolsonaro e as instituições, como o STF), que agora parece ter se acalmado. Por conta desse estresse, há dúvidas sobre como será a política fiscal. Outro fator é porque, num horizonte mais longo, a gente não vê nada bom vindo da eleição no ano que vem. A terceira via tem uma probabilidade relativamente baixa. Espero que cresça. Mas hoje a gente vê dois polos.

    Qual o impacto de um cenário com Lula e Bolsonaro no segundo turno?

    No final, é uma perspectiva de que, depois das eleições, as coisas não vão melhorar. E o Brasil precisa mudar muito. Ainda tem um Estado grande demais. Precisa reduzir. Precisa dar espaço para que o País possa ganhar dinamismo, possa prosperar. Lembrando que faz 15 anos que o País não cresce. E o mundo cresceu nesse período 3,5%, 4% ao ano. O Brasil não só está parado. Ele ficou, e está ficando, cada vez mais para trás.

    Há quem diga que houve avanços com algumas reformas. O sr. discorda dessa visão?

    Os problemas são estruturais. O Brasil está cuidando deles só na superfície. Por exemplo: a reforma administrativa que está no Congresso. É uma reforma sem-vergonha que, inclusive, coloca o Estado e o funcionalismo numa situação pior do que existe hoje. O Brasil teima em não cuidar dos problemas de uma maneira efetiva.

    Nesse ambiente, o que esperar para a economia em 2022?

    A perspectiva de crescimento mais razoável no ano que vem está indo por terra. Tem gente falando em menos de 1%. Na minha visão, os números não indicam um crescimento de menos de 1%. Muita coisa negativa precisa acontecer. Na Mauá, o nosso número é em torno de 1,5%. O que, na realidade, também é muito ruim. Infelizmente, a chance é muito grande de o País continuar patinando durante um tempo longo. O mundo vai voltar a crescer os seus 3% a 4% ao ano, ganhando dinamismo de novo. E o Brasil, com essa perspectiva de não ir para nenhum lugar. Dizer que o Brasil vai crescer mais do que 1,5%, 2% ao ano, nos próximos anos, é um exagero. A não ser que a gente tome medidas mais firmes de reformas. O Brasil não deveria ter a opção de ficar parado. Não poderia ficar parado. É um escândalo o Brasil não melhorar as condições de um contingente muito grande da sua população, que vive numa condição muito ruim.

    O sr. começou a entrevista dizendo que a situação fiscal melhorou. Essa melhora está sendo ignorada ou subestimada?

    Quando se leva o risco institucional ao nível que a gente viu, o mercado passa a levar o risco fiscal também lá para cima. O caminho é de uma melhora fiscal. E não estou fazendo juízo de valor. Isso é um fato. As coisas, desse ponto de vista, melhoraram, e não pioraram. Mas é uma situação frágil. Pode vir um novo governo e querer mudar tudo isso.

    As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

    Últimas