• Empresas ‘brigam’ por executivos de Finanças

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  • 03/10/2021 10:30
    Por Renée Pereira / Estadão

    Nos últimos meses, o executivo André Veloso já foi sondado para, pelo menos, 20 vagas de diretor financeiro, também conhecido como CFO (sigla em inglês para Chief Financial Officer). Nos últimos dois anos, ele trabalhou na T4F (Time for Fun) e ajudou a companhia a lidar com os efeitos da pandemia, que paralisou o setor de entretenimento. Havia tanto trabalho para preservar caixa, cortar custos e renegociar dívidas, que Veloso nem conseguia avaliar direito o que chegava até ele de proposta.

    No mês passado, no entanto, ele decidiu aceitar uma vaga e trocar a T4F pela Bemobi Mobile, que abriu o capital no início deste ano. “Contou a favor não só a questão financeira como também o ambiente e o projeto que será tocado”, explica. Veloso destaca que a parcela de incentivo de longo prazo, que normalmente pode envolver participação na empresa ou uma fatia da valorização das ações, foi bastante relevante na sua escolha pela nova vaga, até mais que o salário fixo.

    “Dependendo da proposta, você tem mais tranquilidade na condução do trabalho e sabe que terá reconhecimento de todo valor agregado, que vai ser premiado pelo esforço”, diz o executivo, que atua como CFO há 11 anos no mercado.

    Como Veloso, muitos outros profissionais estão sendo assediados por recrutadores para mudar de emprego em troca de salários altos e incentivos que variam de empresa para empresa, mas podem significar ter parte das ações da companhia. Segundo dados da consultoria Egon Zenhder, multinacional especializada em desenvolvimento e recrutamento de lideranças, os incentivos de longo prazo (ILP) tiveram uma alta de quase 60% entre 2020 e 2021.

    Ou seja, as empresas estão apostando nesse instrumento para atrair os profissionais e retê-los por períodos mais longos. Além de os valores terem aumentado mais em relação a pares de outras áreas, como diretor de marketing (19,03%), o prazo para receber os incentivos totais aumentou cerca de 12 meses, para quatro anos e meio (para os executivos de marketing esse prazo subiu metade, para três anos).

    “O mercado está mais acirrando. Uma das formas de manter os profissionais é incrementar esse incentivo de longo prazo e amarrá-los por mais tempo”, diz Luis Giolo, consultor líder da prática de sucessão de presidentes e Conselhos no Brasil da Egon Zenhder. Esses bônus variam muito entre as empresas, mas podem chegar a R$ 30 milhões por ano, com prazos de 2 a 5 anos para recebimento. Atualmente, o salário médio de um CFO é de R$ 130 mil por mês, segundo levantamento da consultoria. Entre o ano passado e agora, a remuneração cresceu 8% – acima da inflação. Os bônus de curto prazo praticamente não mudaram.

    Na avaliação de Giolo, a expectativa é de que esse movimento de demanda pelos diretores financeiros continue em alta nos próximos meses por uma série de fatores. Primeiro porque durante o ano passado houve uma demanda reprimida. Muitas empresas seguraram contratações e agora estão retomando. Outros estão tirando alguns projetos do papel e precisam de executivos experientes.

    Também tem o efeito dos IPOs (oferta pública de ações), que mesmo tendo esfriado um pouco devem ser retomados em algum momento. E, nesse caso, as empresas exigem profissionais que já tiveram experiência com abertura de capitais, diz o sócio do Grupo Fesa, de recrutamento executivo. “Há profissionais disponíveis no mercado, mas a maioria dos que contratei até agora estava em outras companhias. Isso gera uma inflação no setor.”

    Muitas empresas precisaram buscar esses profissionais para arrumar a casa por causa dos efeitos da pandemia. Além de ter de cortar despesas, algumas tiveram de reestruturar dívidas. O CFO André Veloso conta que foi procurado para ocupar vagas em diferentes empresas e setores. “Mas o motivo quase sempre estava ligado à agenda de crescimento. As companhias queriam se reestruturar para voltar a crescer ou para abrir o capital”, disse ele. O que o atraiu para a empresa escolhida foi o projeto de crescimento inorgânico, ou seja, por meio de aquisições, o que deve exigir uma atuação forte da área financeira. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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