• ‘Meu fim. Seu começo’ mostra como ciência e arte têm investigado interação humana

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  • 03/10/2021 07:05
    Por Luiz Carlos Merten, especial para o Estadão / Estadão

    A alemã de ascendência japonesa Mariko Minoguchi, diretora de Meu Fim. Seu Começo, sempre foi atraída por arte e ciência. Seu irmão se tornou cientista, um físico quântico. Ela, cineasta. “Não teria feito a cena de abertura (do filme) sem ele (o irmão).” Um jovem professor numa aula de física. Aron fala sobre probabilidades, discute o déjà vu e sua tese de que os seres humanos podem ser afetados tanto pelo passado quanto pelo futuro. Em busca do tempo perdido – do passado, todos nos lembramos.

    “Por que não do futuro?” Entra em cena Nora, a aluna que também será a amada. Na discussão sobre o tempo, ela chega a dizer que nada é eterno. Ele retruca: “Tudo é eterno”.

    Mariko conversa com o Estadão por Zoom. Mora em Munique, mas está em Berlim para tratar de assuntos relativos ao próximo filme. Apesar de todas as diferenças, o repórter diz que não pôde deixar de pensar em Corpo e Alma, assistindo ao filme dela.

    No longa de Ildiko Enyedi, indicado para o Oscar de melhor filme internacional – ainda era estrangeiro – de 2018, um homem e uma mulher sonham o mesmo sonho. Qual é a probabilidade de isso ocorrer? Um sonho que remete a amor e morte. “Não creio que exista semelhança, mas entendo o que você quer dizer. Não são muitos filmes que abordam questões metafísicas e nos confrontam com nossas escolhas.” Aron e Nora. O leitor talvez ainda não tenha se dado conta, mas os dois nomes compõem o que se chama de palíndromo. Onde termina o nome dele, começa o dela. São opostos, como o Tenet de Christopher Nolan. “Esse é mais diferente ainda do meu filme”, brinca Mariko.

    Mas ela admite: “Como todo o cinema, meu filme foi afetado pela pandemia. A verdade é que, no atual estado do mundo, creio que um filme que levanta questões de vida e morte sem se reportar ao terror pode intrigar o público. Espero que ocorra aí no Brasil. Na Alemanha, não houve meio-termo. As pessoas amaram com a mesma intensidade que outras odiaram”. Não é que o filme tenha a ver exatamente com isso. Na política, a Alemanha está vivendo o fim de uma era, a de Angela Merkel, no poder por 16 anos. “Angela foi importante e teve seu papel na defesa dos refugiados, mas creio que sua aposentadoria poderá ser boa para a Alemanha. Precisamos de um recomeço.”

    O mundo todo precisa, ela acrescenta. Na trama de Meu Fim. Seu Começo, e não vai spoiler nisso, porque ocorre rapidamente, no início, Aron morre durante a tentativa de assalto a um banco. Nora nem tem tempo de fazer seu luto. Talvez não queira, reage mal. E aí surge Natan, com sua filha que está hospitalizada, morrendo de câncer. A garota precisa de um transplante. Conseguirá sobreviver? Acaso, destino, muitos autores já abordaram esses temas. O escritor e cineasta Paul Auster, por exemplo.

    A ciência e a arte têm investigado como as vidas humanas interagem e como as ações de uma pessoa podem repercutir em outra, ou outras. “É tudo muito complexo, não verdadeiramente complicado, e tentei tornar o meu roteiro o mais simples possível.” Mariko elogia a entrega de seus atores, Saskia Rosendhal e Julius Feldmeier. A dor de Edin Hasanovic diante do sofrimento da filha parece genuína. São mais que bons, ótimos. Mariko diz que, às vezes, eles se sentiam confusos em relação ao tempo. “Quando isso está ocorrendo? É antes ou depois?” Depois do quê?

    A história de Aron e Nora é também a história de Nora e Natan. Parece que os dois últimos são aproximados pela morte de Aron, mas já se conheciam – preste atenção. Meu fim, seu começo. Não são só os nomes, é a vida. Todo o filme é o desenvolvimento das teses iniciais de Aron. Você não precisa ser místico para entrar no espírito. A vida vem.

    Em O Jardim Secreto de Mariana, de Sérgio Rezende, que também acaba de estrear, o desejo de uma mulher de ser mãe encontra respaldo na natureza. Interessante como, a despeito das diferenças notáveis, todos esses filmes – Jardim Secreto, Sem Tempo para Morrer e Meu Fim. Seu Começo – conseguem dialogar.

    As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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