Campos Neto: fatores persistentes na inflação geram alongamento do ciclo de juros
O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, admitiu nesta quinta-feira, 30, que o alongamento do ciclo de alta juros deve-se a fatores mais persistentes sobre inflação, que a autoridade monetária julgava temporários anteriormente. “Essa persistência tem contaminado outros índices de inflação, inclusive com os núcleos rodando bem acima das metas. O ajuste é necessário para endereçar isso”, afirmou, em coletiva sobre o Relatório Trimestral de Inflação (RTI). “Sempre atuamos de tal forma de levar inflação para meta no horizonte relevante e 2023 já está nessa janela”, completou.
O diretor de Política Econômica do Banco Central, Fábio Kanczuk, acrescentou que o BC acredita que conseguirá convergir a inflação para a meta ainda em 2022.
Campos Neto destacou ainda que o Comitê de Política Monetária (Copom) menciona há tempos sobre risco de inflação mais persistente no mundo, sobretudo nos Estados Unidos, além da reprecificação dos juros em diversas economias.
Emprego
Questionado se uma política monetária mais contracionista não irá prejudicar o mandato acessório de fomentar o pleno emprego, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, avaliou que é importante combater o processo inflacionário. “Um dos processos mais disruptivos para o emprego é o processo inflacionário. Quando esse combate é feito com credibilidade, a parte curta da curva de juros sobe, mas a parte longa se comporta melhor. Para o cenário de liquidez, o que é importa é o conjunto de variáveis”, afirmou.
IOF
O presidente do Banco Central disse que a autoridade monetária não participa da decisão fiscal de aumento do IOF sobre o crédito para compensar os pagamentos maiores do Auxílio Brasil a partir de novembro. “Usamos isso como input nas nossas decisões. Obviamente, qualquer coisa que impacte o crédito tem um efeito no que nós fazemos. As taxas de juros mais altas têm sido um tema recente. Ainda assim temos uma projeção de crescimento do mercado de crédito de 12,6% em 2021 e 8,5% em 2022 – ainda bastante saudável e com evolução positiva”, respondeu.
Dólar
Campos Neto afirmou também que a autoridade monetária enxerga uma demanda de US$ 17,4 bilhões para a desmontagem das posições de overhedge dos bancos até o fim do ano. “Entendemos que é um volume bastante grande. A característica do desmonte dessa operação faz com que as compras sejam muito concentradas na virada do ano. O BC começou a atuar antes (via swaps) porque entendemos que nos dá mais grau de liberdade ao longo do processo e atenua um pouco a volatilidade”, respondeu.
Ele acrescentou que o BC não tem nenhum compromisso de realizar atuações constantes. “Mas entendemos que é importante atuar, porque se trata de um fluxo bastante grande, em um ano com bastante incertezas”, completou.
O presidente do BC reforçou que o câmbio é flutuante e que os juros são usados em política monetária. “O câmbio é um input que usamos nos nossos modelos e as atuações são feitas para evitar disfuncionalidades no mercado”, acrescentou.
Campos Neto argumentou que o câmbio é uma variável que espelha diversos prêmios de risco, incluído o fiscal. “O câmbio obviamente espelha o que os agentes entendem que são as fragilidades do País no momento, e uma delas é a fiscal”, concluiu.
Criptomoedas
O presidente do Banco Central repetiu ainda que a regulação de criptomoedas com investimento está “sobre a mesa”. Ele evitou comentar a decisão do banco central chinês em proibir o uso desse tipo de ativos. “Os brasileiros têm usado isso com veículos de investimento, mas a criptomoedas não têm crescido muito no Brasil como meio de pagamento”, comentou. “Vamos primeiro regular as criptomoedas como investimento e depois como moeda”, completou.
Campos Neto afirmou também que a instituição está avançando nas soluções para a moeda digital própria e deve ter notícias em breve.