• Livro ‘Olho nu’ reúne imagens de Rogério Reis em mais de 40 anos

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  • 19/09/2021 07:30
    Por Simonetta Persichetti, especial para AE / Estadão

    O Rio de Janeiro se inscreve, sem dúvida, entre as cidades mais fotografadas do mundo. Sua geografia, natureza, as praias, a arquitetura neoclássica e art nouveau e seu ar de cidade que nunca abandonou a pose de imperial. Mas é também um local de contrastes, abandono, violência e da vivência com as múltiplas comunidades que a cercam, além, é claro, do delicioso bem-viver de seus habitantes. É nesse cenário de contrastes que o fotógrafo carioca Rogério Reis circula há 40 anos, registrando as características do Rio e de seus personagens. São muitas as histórias que ele vivenciou e fotografou como fotojornalista. Algumas dessas múltiplas miradas estão no livro Olho Nu – Rogério Reis (Instituto Olga Kos).

    A publicação surgiu de um convite feito pelo editor e também fotógrafo João Farkas que, com Kiko Farkas, são os responsáveis pela edição das imagens e pelo design do livro. Além de excelente fotógrafo, Rogério Reis é também um bom contador de histórias, como podemos conferir no longo e despojado bate-papo entre o próprio Rogério, os fotógrafos João Farkas e Edu Simões, os historiadores Ana Mauad e Mauricio Lissovsky, e os professores Rosental Alves e Mayra Rodrigues, transcrito no livro e que antecede as imagens.

    Foi em um mergulho nos seus arquivos que Rogério Reis reencontrou fotografias feitas no início da carreira, como, por exemplo, a imagem da destruição do Mangue, realizada em 1979, para a construção de um novo bairro, até hoje não concluído. Apresenta também os surfistas do trem do ramal de Japeri, ensaios mais atuais como Ninguém É de Ninguém, e pequenos recortes da cidade, encontro de olhares: “Este livro, que pode ser definido como uma antologia do meu trabalho, é, na verdade, o reencontro editorial com a fotografia de rua”, conta Rogério, por telefone.

    Uma imagem em preto e branco que marcou fortemente o fotojornalismo dos anos 1970 e 1980, especialmente no Jornal do Brasil no qual o Rogério trabalhou no início da sua carreira, chegando a editor de fotografia: “Gosto muito da rua, da crônica de seus hábitos e costumes, de poder conversar com as pessoas. O que me fascina é a busca pelo acaso”, comenta.

    Uma procura que o próprio fotógrafo relembra. “Sempre penso na frase de Picasso que dizia: ‘Não sei o que busco, mas sei quando encontro'”, nós também encontramos em suas fotos, que fogem do senso comum.

    Seu olhar e sua formação de jornalista não se desviam pela beleza que a cidade oferece, a qual ele também se rende, mas prefere questioná-la, interpretá-la, criticá-la. Foi dessa forma que ele realizou o ensaio Na Lona, que iniciou em 1988, durante a época em que colaborou com a agência F4 (1979-1991), uma das mais importantes cooperativas de fotógrafos jornalistas, com sede em São Paulo, e que imprimiu uma nova forma de fazer fotojornalismo no Brasil, acompanhando de forma independente os movimentos políticos e sociais do País. “A pauta nasceu dentro do projeto da F4. Comecei a fotografar como uma crítica ao carnaval, maravilhoso, mas midiático do Sambódromo no Rio, que pôs à margem o carnaval da periferia, que deixou de ser documentado.” O resultado, muitos retratos de carnavalescos que se deixaram imortalizar sendo fotografados diante de uma lona que Rogério Reis carregava com ele. Um trabalho singular.

    Assim como também é especial o retrato que ele fez de Carlos Drummond de Andrade (1902-1987) em 1982, por ocasião dos 80 anos do poeta. Desde sempre, Rogério Reis foi vizinho de Drummond e na infância se acostumou a vê-lo pelo bairro. Foi natural para ele, no início de sua carreira, receber a pauta de fazer as fotos que marcariam a reportagem sobre as comemorações de aniversário. “Cheguei lá, toquei a campainha e ele abriu a porta.” Disponível, Drummond sugeriu alguns lugares onde Rogério poderia fotografá-lo, a varanda ou a biblioteca. Rogério recusou as duas propostas e, aproveitando a ousadia que acompanha os jovens, sugeriu ao poeta algo diferente: “Drummond comentou que gostava de sentar-se no chão. E assim foi. Ele se sentou no tapete e comecei a fotografá-lo. Foi quando entrou sua filha Julieta e a sessão de fotos acabou”, conta Rogério, rindo. Inexplicavelmente, essas fotos não foram publicadas na época, para, em seguida, ganharem vida própria e talvez, hoje, seja essa a imagem mais conhecida e divulgada. “Não é essa que está no livro”, explica Rogério. “A mais conhecida é dele com um olhar mais reflexivo. A que está no livro é inédita, eu a reencontrei nas minhas pesquisas.” Na foto publicada é o olhar do poeta que desafia o fotógrafo e sorri para ele. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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