• Bancos privados se antecipam ao BC e elevam os juros do crédito imobiliário

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  • 16/09/2021 19:23
    Por Márcia De Chiara / Estadão

    Enquanto a Caixa anuncia redução nos juros do financiamento imobiliário, mesmo com a Selic (a taxa básica de juros) em alta, grandes bancos privados estão aumentando suas taxas em cerca de 1 ponto porcentual nas linhas de crédito tradicionais. É um movimento que se antecipa à reunião na próxima semana do Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central (BC), que deve elevar a taxa básica de juros em pelo menos 1 ponto, levando a Selic para 6,25% ao ano.

    Quem puxou a fila dos aumentos foi o Santander, que subiu, no último dia 4, o juro do crédito imobiliário de 7,99% ao ano, mais variação da Taxa Referencial (TR), para 8,99%, segundo a instituição. Na sequência veio o Bradesco, que desde a segunda-feira tem taxas que variam entre 8,50% e 8,90% ao ano mais TR, dependendo do perfil do cliente. Desde ontem, o Itaú Unibanco cobra 8,30% ao ano mais variação da TR nos financiamentos tradicionais, ante os juros de 7,30% ao ano vigentes anteriormente.

    No crédito imobiliário com juros ligados à poupança, o Itaú reduziu a taxa de 3,45% para 2,99% ao ano, e o Bradesco manteve o índice em 2,99% ao ano. Mas, neste caso, essa parcela é somada à variação da remuneração da poupança, que corresponde a 70% da Selic. E, quando a taxa básica de juros aumenta, essa parcela acompanha.

    A alta do custo dos financiamentos não surpreende empresários e especialistas do setor, que relativizam o impacto desse freio de arrumação nas vendas. “É óbvio que cada vez que aumenta a taxa não é bom para ninguém, mas historicamente estamos trabalhando com juros baixos, se compararmos com tudo que aconteceu no passado”, afirma José Romeu Ferraz Neto, vice-presidente imobiliário do Sinduscon-SP, o Sindicato da Indústria da Construção Civil, que reúne construtoras e empreiteiras.

    Celso Petrucci, economista-chefe do Secovi-SP, o Sindicato da Habitação, concorda. Considerando todas as modalidades de crédito imobiliário, a mediana da taxa de juros antes desse reajuste girava em torno de 6,5% e, agora, vai para algo entre 7,5% e 8%. “Não é o melhor dos mundos, mas ainda está abaixo da mediana das taxas cobradas dois anos atrás, que variava entre 10% e 10,5% ao ano”, diz o economista.

    Ferraz Neto afirma não acreditar que a alta afete o mercado de maneira uniforme. Normalmente, os mais pobres são os mais castigados. No entanto, nesse momento, esse efeito poderá ser compensado pela redução dos juros do financiamento imobiliário que anunciada pela Caixa nesta quinta-feira, 16. O banco estatal responde por 67% do crédito imobiliário, e essa fatia pula para 99% no caso da baixa renda.

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    De toda forma, a alta de juros funciona como um obstáculo maior, principalmente aos mais pobres, à compra da casa própria. A cada 1 ponto porcentual de alta na taxa há encarecimento de 8% no valor da prestação e também um acréscimo de 8% na renda exigida para aprovação do financiamento, explica o economista-chefe do Secovi-SP. Assim, uma prestação que seria de R$ 1 mil antes do reajuste subiria para R$ 1.080. No caso de uma renda exigida de R$ 4 mil, o valor saltaria para R$ 4.320.

    O economista Eduardo Zylberstajn, coordenador do Fipezap, site especializado no mercado imobiliário, afirma que a alta dos juros do crédito imobiliário era um movimento normal e esperado pelo setor, diante dos problemas macroeconômicos atuais, como a inflação em alta e o desajuste fiscal, além da incerteza política que aumentou nas últimas semanas.

    Ele lembra que os recordes recentes de vendas e lançamentos batidos pelo setor são resultados das condições favoráveis de crédito. “Se voltarmos a ter juros de dois dígitos, isso impacta bastante o mercado, e aí poderemos ter dificuldade na safra de novos lançamentos”, afirma, ponderando que no momento esse não é o cenário mais provável.

    Quanto ao risco de encalhe de imóveis, Petrucci frisa que o mercado está “muito saudável”. A quantidade de imóveis lançados, em construção e prontos não vendidos na cidade de São Paulo, por exemplo, somava 45 mil unidades em 31 de julho. Enquanto isso, as vendas acumuladas nos últimos 12 meses foram de 65 mil unidades.

    As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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