De olho no pós-pandemia, empresas investem em ‘retrofit’ de escritórios
Há praticamente um consenso de que o trabalho híbrido será adotado por um grande número de empresas. Como haverá dias em que o trabalho será presencial, as companhias já começaram a preparar os escritórios para que eles sejam adequados para o “novo normal” no pós-pandemia. Dentre as principais mudanças, estão pontos de trabalho mais espaçados, dada a necessidade de distanciamento, e áreas de convívio social – com muito verde.
Na empresa de tecnologia Locaweb, que ocupa um prédio no Morumbi, zona sul de São Paulo, a decisão de reformar, principalmente para tirar os carpetes, já tinha sido tomada antes da pandemia. Com o home office que transformou a vida corporativa há um ano e meio, a empresa bateu o martelo e decidiu que a hora da reforma tinha chegado. No entanto, a pandemia mostrou que a obra deveria abarcar novas necessidades que surgiram com a crise sanitária, que foram incorporadas ao projeto, comenta a diretora de gente e gestão da empresa, Simony Morais.
“Decidimos por um ambiente mais descontraído e colaborativo”, diz a executiva. O retorno ao escritório, conta, ocorrerá com bastante cautela e de acordo com o avanço da vacinação dos funcionários. A ideia é ir levando os funcionários de volta aos poucos. “Vai demorar muito para termos o escritório cheio.” Para aqueles que conheceram o novo escritório, o retorno tem sido positivo. “Temos visto um encantamento em relação ao ambiente, um local onde eles gostam de estar”, conta.
A presidente da consultoria para o setor imobiliário Newmark, Marina Cury, afirma que há muitas empresas que miram uma mudança de configuração dos espaços. “Estão surgindo mais espaços de convivência e colaborativos. A sinergia entre as equipes é uma das grandes perdas com o trabalho 100% remoto”, avalia. Conforme a especialista, esse movimento de retrofit tem se concentrado em regiões onde o estoque de imóveis corporativos é mais antigo, caso da região da Avenida Paulista.
Um desses exemplos é o do banco norte-americano Citi, que ocupa o mesmo prédio na avenida há 35 anos. De olho nas necessidades no pós-pandemia, o edifício foi todo remodelado e adequado a questões de distanciamento social e à sustentabilidade, mais uma demanda da sociedade e dos próprios funcionários. Também passou a contar com espaços compartilhados, além do reforço tecnológico, em salas de reuniões abastecidas para receber os clientes. O investimento na reforma foi de R$ 150 milhões, conta Guilherme Mancin, chefe de recursos humanos da instituição financeira. “O Citi já vinha pensando no novo modelo de trabalho há uns três anos, e globalmente vinha se adaptando. A reforma do prédio veio nesse contexto”, comenta Mancin.
O executivo da instituição financeira diz que, apesar de o trabalho remoto ser um sucesso, os funcionários já demonstram interesse em voltar ao escritório, mesmo que em apenas alguns dias da semana. “Eles perceberam que ter um lugar para trabalhar é bom e estão sentindo falta”, comenta.
O presidente da BR Properties (que investe em imóveis comerciais), Martin Jaco, observa que uma mudança de perfil dos escritórios já vinha ocorrendo antes da pandemia, mas o processo acelerou. A demanda, segundo ele, é por escritórios mais flexíveis.
Entre os destaques, segundo o executivo, estão as áreas externas dos edifícios, que estão agora sendo olhadas com atenção pelas empresas, com o pedido crescente por mais áreas verdes e jardins – e com móveis que possam servir para o trabalho na própria área externa. Outra demanda nova é pela tecnologia “hands free” (mãos livres). Um exemplo é o maior uso do reconhecimento facial para acesso dos funcionários ao edifício, influência clara da pandemia.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.