Brasília em chamas
Ingenuidade inocentar – como li em crédulos textos – dos gravíssimos crimes de depredação e vandalismo ocorridos na quarta-feira os organizadores da manifestação de Brasília. Não há inocentes aí. Desde 2013 as manifestações de rua se tornaram preâmbulo à ação de black blocs. Parlamentares petistas e militantes da CUT se reuniram na véspera para preparar a manifestação. É notório que manifestantes experientes organizam segurança própria para inibir infiltrados. Então, por óbvio, se a selvageria não foi organizada, foi consentida por quem fez a manifestação.
Tudo no caldo de ódios fomentado pelo racha em que se meteu o país desde a eleição de 2014. Ali o PT "fez o diabo" (nas palavras da Dilma) para ganhar. Venceu perdendo, disse Marina Silva na época. Venceu e não conseguiu governar. O inevitável e necessário impeachment pôs em desespero as hostes petistas e a esquerda sequestrada pelo PT, pois Lula fez ali seu monopólio. Hoje, com o tsunami de lama que varre o Brasil de norte a sul, enoja-nos cada nova revelação, cada delação premiada que destampa os esgotos que emporcalharam o coração deste país esperançoso e ingênuo. E enoja-nos o clima em que nos meteram, de permanente tensão, constante intolerância, onde o medo liquida a esperança.
Há o drama do PT e de Lula, que veem o chão sumir sob seus pés. Há reformas que castigam mais do que deveriam a parte frágil da população. Há crescente erosão de Temer, chafurdado na JBS e outras falcatruas, querendo escapar da Lava-Jato. Tudo malandramente misturado pelo PT e centrais sindicais numa só bandeira, na mesma manifestação, mesma tentativa de, em verdade, vingarem-se de Temer e antecipar eleições diretas. Para fazer da presidência o plano de fuga de Lula. Daí, claro, a vista grossa que as manifestações fazem às tropas de choque clandestinas, mascarados de um anarquismo sem reflexão. Gente selvagem, que pixa num ministério "morte à burguesia" e se esquece, por exemplo, que o Lula do vinho mais caro do mundo só anda de jatinho. Mais burguês impossível.
A convocação das Forças Armadas foi explorada politicamente como estado de exceção. Não sei se havia ou não contingente suficiente da Força Nacional. Sei é que havia banditismo grassando nas ruas de Brasília incendiada e a PM não deu conta. Não é novidade neste nosso Brasil em crise de tudo, que Forças Armadas sejam empregadas para, em apoio à polícia, conter bandidos. E havia bandidos em Brasília. Mas os oportunistas aproveitam mais essa nuvem de chuva sobre Temer, para fazê-la cuspir mais relâmpagos do que realmente possui. A eles interessa a desestabilização, a qualquer custo e sem qualquer senso de moralidade.
Tempos de pobreza de espírito, analfabetismo político, arrogância virtual, imbecilidade como forma de expressão, selvageria como método. Vácuo, em que escasseiam lideres dignos. Fomos roubados em nossas esperanças, anseios, dinheiro, e futuro. Por óbvio, devia estar todo o povo na rua clamando. Por que não aconteceu? Quem capitaneia os gritos de hoje são os mesmos manipuladores de massas de ontem, que de nós se valeram para instalar quadrilhas nos palácios. Não merecem confiança, ainda mais porque o povo repudia a violência dos pseudorrevolucionários incendiadores de ministérios. Disso resulta: nunca antes na história uma esquerda fez tanto para atirar tantos aos braços de uma direita medíocre.
Em 10/06, 16 hs, lanço novo livro na Casa Claudio Souza. Aguardo você.
denilsoncdearaujo@gmail.com