• Eu acredito em Papai Noel

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  • 25/05/2017 08:00

    O fato ocorreu há muitos anos.

    Encontrava-me na luta diária no sentido de me deslocar para o trabalho descendo e subindo a serra de Petrópolis, já naquela época enfrentando percalços outros que não os da atualidade.

    Desde cedo pude perceber, com relação à profissão escolhida, a partir do momento do primeiro estágio profissional, na capital do antigo Estado do Rio de Janeiro, que estaria obrigado a tal deslocamento, cansativo e maçante, eis que até a chegada ao Rio, ainda estava condicionado a me valer do serviço de barcas, com a finalidade de alcançar a sede do DER-RJ, situada nos andares superiores da Estação Rodoviária da então Capital.

    E lá se passaram seis meses das subidas e descidas, travessia pelas barcas Rio-Niterói, sem perspectivas de melhores dias. 

    Contudo, já naquela ocasião, ainda que muito jovem, sempre mantive absoluta persistência em todas as situações que se me afiguravam como quase impossíveis de serem equacionadas.

    Ao curso do terceiro mês do estágio, embora meu pai estivesse atento ao que ocorria, eu já demonstrava fadiga com tal percurso, todavia, sem deixar de lhe indagar, quase que diariamente, sobre novas perspectivas que poderiam advir. Entretanto, suas respostas sempre evasivas, já que não era de seu feitio pleitear algo em favor do filho, muito embora nunca houvesse deixado de acolher apelos partidos de amigos e colegas, a fim de lograr tal finalidade.

    Numa noite, ao chegar à casa, disse-me: “vislumbro e apenas vislumbro uma oportunidade; sua tia Mazinha, que tanto lhe ama, incumbiu-se da tarefa que não estou apto a realizar”.

    E fez concluir: “não fique certo de que obterá o novo estágio”; e eu a lhe refutar, com todo respeito, asseverando que tudo iria se concretizar a meu favor.

    De maneira hilária, lembro-me bem, dirigiu-se a mim dizendo, com firmeza: “até parece que você acredita em Papai Noel!”.

    A verdade é que a fé que comungo, aliada ao sentimento de esperança, que busco cultivar, fizeram com que em meados do ano de mil novecentos e sessenta e cinco, novo horizonte viesse a surgir em minha vida: o estágio acabara de ser autorizado.

    Lembro-me que, após investido na nova atividade, extremamente satisfeito, brinquei com meu pai dizendo-lhe que, realmente, acreditava em Papai Noel; e mais, percebi que ouvindo-me, sorriu de soslaio e afastou-se, todavia, demonstrando contentamento. 

    Por isso, como uma criança, continuo crendo na existência “do velho de barba branca”, convicto, contudo, que o poeta ainda não houvesse escrito as trovas abaixo:


    “Torna-me, ao peito, a ventura, / e até me volta a esperança, / sempre que vejo a doçura / nos olhos de uma criança” 

    “Cuidem, com fé, da criança, / com carinho e muito afã, / ela é, pois, nossa esperança, / na grandeza do amanhã!”.

    Foi, então, que tive plena certeza, que nunca perdera a esperança e a fé que cultivava dentro de seu grande coração.

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