De Lula a Temer, a tragédia
Não há outra saída para Temer, a não ser a renúncia. Segundo a Constituição Federal, a ser cumprida à risca, será possível eleger um presidente tampão pelo Congresso, com um nome limpo, vocação de estadista, que presida a transição até as eleições gerais de 2018. A decisão acalmará os mercados e haverá a possibilidade de um acordo que permita a aprovação das reformas Trabalhista e da Previdência, indispensáveis para o reencontro do país com seu futuro.
Temer é o que é. Inseguro e vacilante, terminou caindo na armadilha da JBS. Renan Calheiros, o velho Renan, por exemplo, não entrou na mesma arapuca. Convidado para jantar com Joesley Batista, em encontro que seria gravado, não aceitou o convite. E Temer, de mansinho, escancarou as portas do Palácio do Jaburu e a conversa correu com poucas limitações. Em hora imprópria, na calada da noite, como o fazem os infratores da lei, no melhor estilo.
Restaram expostas as vísceras do Planalto, as relações promíscuas, ou melhor, delituosas, entre o público e o privado. Entre o Estado brasileiro e a maior empresa do mundo de industrialização de produtos de origem animal. Uma união de profundos interesses aviados durante a gestão lulopetista, durante a qual o grupo JBS obteve empréstimos de bilhões de reais junto ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social – BNDES, em condições excepcionais, prazos longos e juros especiais. Com recursos do erário, os empresários goianos adquiriram várias empresas do setor, mui tas nos Estados Unidos. Como se não bastasse o mesmo Banco tornou-se sócio da JBS, comprando um volume considerável de ações, a preços superavaliados
No centro dos negócios escusos, o lulopetismo, em razão de uma política que privilegiou algumas poucas empresas, com injeção de grandes aportes financeiros, selecionadas com aval de Lula e Dilma. Joesley Batista e seus irmãos antes já haviam baixado âncora no poder, que se estenderia sobre o governo Temer. Há pagamentos de US$ 150 milhões a Lula e Dilma, por meio de depósitos em contas abertas no exterior, ainda segundo depoimento do dono da JBS.
As gravações com Temer se mostram devastadoras. Há relatos de uma sucessão de crimes praticados por Joesley Batista, com informações trocadas sobre obstrução das investigações e aliciamento de magistrados e procuradores. Tudo sob as barbas coniventes do presidente, que chegou a aprovar tal comportamento criminoso. Expressões do tipo “ótimo, ótimo” foram usadas pelo presidente, até chegar ao ponto de dizer que “tem que manter isso, viu”, em relação ao controle exercido sobre Eduardo Cunha, com pagamento mensal do silêncio do ex-deputado pelos Batistas. H& aacute; ainda a nomeação do deputado Rodrigo Rocha Loures, que foi assessor especial de Temer, para resolver as pendências da JBS com o governo. Recebeu inicialmente R$ 500 mil em espécie, tudo devidamente filmado e documentado.
Lá atrás Lula escapou do Mensalão. Foi reeleito e elegeu a sucessora. Com o lulopetismo engolfado na corrupção e na incompetência, Dilma terminou fulminada pelo impeachment. Agora é a hora e a vez de Temer. Naufragará inapelavelmente, ainda que sustente que jamais renunciará. Mudando o que deve ser mudado, com comportamento ético condenável, vem repetindo os erros e crimes de Lula e Dilma. Ao tratar com o Congresso, alimentou o deletério presidencialismo de coalizão, na base do “franciscanismo” do é dando que se recebe.
Temer não tem como escapar, em momento tão dramático e incerto da história da Nação. Já vai tarde.
paulofigueiredo@uol.com.br