• Mel Lisboa encara desafio de debater várias formas de expressões artísticas

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  • 31/08/2021 08:00
    Por Bruno Cavalcanti, especial para o Estadão / Estadão

    Foi interrompendo a aula de canto que Mel Lisboa atendeu rapidamente o telefone para pedir um pequeno atraso na entrevista. Embora não esteja se preparando para nenhum musical, a atriz faz aulas regularmente há alguns anos. “Eu não tenho a pretensão de ser uma cantora, mas sou atriz, me reciclo, e também cuido do meu instrumento de trabalho que é a voz”, diz a artista que, na última década, esteve à frente de obras como Rita Lee Mora ao Lado, Luz Negra e Roque Santeiro, todos musicais.

    “A gente vai avaliando as oportunidades que surgem, né? Às vezes, vem uma que eu paro, olho, avalio e penso: bom, por que não?” Foi assim em praticamente toda a carreira de Mel, desde que despontou para o grande público em 2001, na minissérie Presença de Anita, de Manoel Carlos, até hoje. Acostumada a se reinventar, agora é celebrada como um dos grandes nomes do teatro paulistano, desenvolvendo trabalhos com nomes como Márcio Macena, Zé Henrique de Paula, Débora Dubois e companhias como a do Pessoal do Faroeste.

    Agora, Mel Lisboa se prepara para uma nova reinvenção ao encarnar o papel de apresentadora de um talk show próprio. Com estreia agendada para esta terça, 31, no YouTube, Arte Talk Show marca um novo desafio para a artista. “Dá um certo frio na barriga porque não é a minha especialidade, mas é legal. O conceito é bacana, a ideia do projeto é ótima e, embora dê medo, há momentos em que é preciso dar a cara a tapa. É o que nos faz humanos.”

    Idealizado pelo produtor Marcelo Sollero, da Polo Cultural, o Arte Talk Show é um programa pensado para dar espaço não apenas às variadas formas de expressão artística, mas também – e principalmente – a artistas ligados à cena independente da música, do cinema, da literatura e das artes plásticas, temas da primeira leva de programas e que também permeiam a vida da apresentadora, casada com o músico Felipe Roseno, filha do artista plástico e músico Bebeto Alves e intimamente ligada à literatura e ao cinema.

    “Eu sou uma consumidora, tenho contato e vivo bastante nesse meio. E sou curiosa e interessada, então, ao entrevistar uma pessoa que é especialista em determinado assunto, você aprende muito com ela. De certa forma, eu faço o papel do espectador que quer ouvir aquela pessoa falar. Eu genuinamente me interesso pelo que as pessoas têm a dizer, e quando o assunto é arte e cultura tenho mais familiaridade com isso, é um universo que está ao meu redor.”

    Com transmissão gratuita, o programa chega à rede em momento de clara desvalorização da cultura das artes que a artista enxerga como um potencializador para a força do talk show, que tem a possibilidade de fazer com que o público olhe com mais profundidade para o fazer artístico.

    “É a figura do telencéfalo altamente desenvolvido e o polegar opositor da Ilha das Flores, do Jorge Furtado, ou seja, nós temos a capacidade de metaforizar a nossa vida e, quando nos vemos em ação, podemos representar isso. A gente faz isso o tempo inteiro, mesmo sem perceber. O ser humano faz arte desde o início de sua história, por isso foi capaz de pintar suas caças nas cavernas”, contextualiza a artista.

    “Quando a gente refletir de uma forma mais profunda, menos superficial, e se despir um pouco dos nossos preconceitos, vamos perceber que a arte está presente em tudo na nossa vida. É interessante que as pessoas possam valorizar mais a cultura e a arte de um modo geral, e que os brasileiros possam valorizar a cultura e a arte produzida aqui”, diz a artista, que espera furar bolhas com a proposta do programa, enxergando no futuro do Brasil a possibilidade de uma primavera das artes.

    “A arte e a cultura têm essa questão da resistência. Por mais que queiram nos destruir, nos calar, menosprezar. Faz parte da natureza do artista resistir e, infelizmente, isso faz parte da história da humanidade, você vê isso se repetindo com perseguições: queima de livros, censura, enfim, a gente acompanha isso e, sem querer romantizar, resistimos. E é triste que tenhamos que resistir. Devíamos ter o apoio do poder e estabelecer uma troca cada vez mais interessante com quem consome arte sem ficar lutando pelo mínimo”, diz.

    “Sem querer ter uma visão Poliana, espero que o momento que estamos vivendo, que é um dos mais obscuros da trajetória do nosso país, passe. Há as questões política e sanitária e o fato de a política se meter na questão sanitária. É catastrófico, mas tenho a esperança de que, em um futuro breve, haja uma primavera. É duro, mas acho que a gente vai passar por esse momento e vamos voltar com mais força. Quando essa tempestade arrefecer, vamos ver o solo mais fértil porque estaremos com mais gana de produzir e consumir com liberdade.”

    Gravados no Teatro Viradalata, em São Paulo, os episódios de Arte Talk Show vão ao ar às terças-feiras, de 31 de agosto a 21 de setembro, sempre às 21h, no canal da produtora Polo Cultural no YouTube. Na estreia, o tema é o cinema, depois as artes plásticas (dia 7), literatura (14) e música (21).

    As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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