País vê total de agentes autônomos de investimento crescer 51,6% em um ano
Cinco vezes campeão brasileiro de wakeboard, o paulista Luciano Rondi, o Deco, de 32 anos, trocou em outubro do ano passado a prancha e colete de competição pelo terno preto e o sapato lustrado. Como milhares de pessoas nos últimos meses, ele foi atraído pelas oportunidades da profissão de agente autônomo de investimentos (AAIs), intermediário de investidores com corretores de valores.
Dados da Associação Nacional das Corretoras e Distribuidoras (Ancord) mostram que o País tinha em junho 12.624 agentes autônomos, 51,6% a mais em relação ao mesmo mês do ano passado, quando o total de profissionais era de pouco mais de 8,3 mil. O movimento ocorre em um período de crescimento do número de investidores pessoas físicas na Bolsa de Valores, em busca de aplicações financeiras mais rentáveis após um período de queda dos juros.
Levantamento exclusivo da Ancord, obtido pelo Estadão/Broadcast, traça o perfil desse agente autônomo. Segundo o levantamento, 51% têm entre 18 e 35 anos e 79% são homens. São qualificados (73,8% têm ensino superior completo), embora o exercício da profissão exija somente o ensino médio. Do total, 41% vivem no Estado de São Paulo, seguido pelo Rio de Janeiro (12,9%).
Formado em marketing, Deco chegou à profissão por indicação de um amigo. Não era preciso experiência, mas sim ter bons contatos para atrair clientes. “O meu forte é a minha rede de relacionamentos”, conta. “Eu recomendo a profissão só para quem é muito sociável, é bom na parte comercial. Em geral, para ganhar algo como R$ 5 mil por mês, é preciso ter uma carteira de R$ 12 milhões sob gestão.”
Os agentes autônomos podem ser remunerados de diversas formas, como receber parte do valor da taxa de corretagem paga por investidores ou receber rebates (comissão) por vendas de cotas de fundos e ações em ofertas públicas. Outra forma de remuneração é receber das corretoras e bancos parte dos spreads de operações com títulos de renda fixa.
O presidente da Associação Brasileira de Agentes Autônomos de Investimentos (Abaai), Diego Ramiro, afirma que a maior qualificação reflete, em parte, a migração de bancários para as assessorias de investimento. O setor vive há anos tendência de fechamento de agências e corte de pessoal. “No passado, um bancário dificilmente trocaria bancos tradicionais para ser autônomo”, diz Ramiro.
Uma nova carreira
Camila Vieira de Moraes, de 29 anos, fez a transição de gerente de banco para agente autônomo 12 meses atrás. Ela percebeu o interesse crescente de clientes por novos produtos financeiros, após a queda dos juros, e pediu demissão no Itaú. Pós-graduada em gestão financeira, ela reconhece a dificuldade de trocar um emprego com carteira assinada por um trabalho autônomo.
“Consegui levar alguns clientes comigo, mas parte deles, mesmo com o bom relacionamento, tem apego ao banco”, conta. “Não me arrependo da troca. Moro em Campinas, mas, como todos estão em trabalho remoto, passei a ter clientes em São Paulo e no Sul do País. Agora, é possível cuidar da carteira de clientes até que estão em outros países”, diz Camila, agora na Miura Investimentos.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.C