• Músicas clássica e popular reunidas em concertos

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  • 24/08/2021 08:18
    Por Danilo Casaletti, especial para o Estadão / Estadão

    Encontros de artistas populares com orquestras não são novidade. Entretanto, sempre que ocorrem ganham um caráter especial. Nessas ocasiões, a música clássica se torna mais acessível para os ouvidos não acostumados aos concertos. Já a popular ganha novas texturas musicais, sobretudo com instrumentos que, muitas vezes, não estão nos arranjos originais das canções.

    Nesse segundo semestre, a Orquestra Ouro Petro, formada na cidade mineira de mesmo nome, e a Brasil Jazz Sinfônica, a big band paulista, trazem projetos especiais que contam com a participação de cantores e músicos de diversas vertentes.

    Ao lado da Ouro Preto, se apresentam Diogo Nogueira, Alceu Valença, Ana Carolina e Lulu Santos. Com a Jazz Sinfônica, há concertos com nomes como Gilberto Gil, Alcione, Martinho da Vila, Carlinhos Brown, Adriana Calcanhotto, Hermeto Pascoal.

    O projeto Orquestra Ouro Preto SulAmérica Sessions terá, além de música, outro atrativo: o cenário. A estreia foi no último domingo, 22, com o espetáculo O Tom da Takai, com Fernanda Takai, gravado no estúdio Sonastério, em Nova Lima (MG). A apresentação está disponível no canal da orquestra no YouTube. Do espaço, com paredes de vidro, é possível ver a paisagem, repleta de montanhas, que circunda a região.

    O espetáculo teve como base o álbum que a cantora lançou em 2018 só com composições de Tom Jobim. “Quando o maestro (Rodrigo Toffolo) ouviu o disco, ele teve a percepção de que a orquestra poderia se encaixar nos arranjos escritos por Roberto Menescal e Marcos Valle. É um álbum tranquilo, calmo, com muito espaço para a minha voz”, diz Takai.

    Os arranjos de cordas para a orquestra foram feitos pelo músico gaúcho Arthur de Faria. “Ele é um superapaixonado por Jobim, conhece tudo. Sabia que ele poderia fazer um trabalho bem bonito”, comenta Takai. Além dos músicos da Ouro Preto, a apresentação contou com Thiago Delegado (voz, violões e guitarra), Diego Mancini (baixo), Caio Plínio (bateria) Fernando Merlino (piano). De acordo com Takai, Toffolo preferiu que os músicos se juntassem à orquestra justamente para que a interação do popular com o erudito fosse completa. “Estou muito confortável. Há um diálogo que entende o meu canto. As músicas ganham novas cores. É sofisticado, mas popular. Isso, aliás, está no DNA do Jobim. Todo mundo assovia suas canções”, diz.

    O álbum Tom da Takai é focado em canções menos conhecidas de Tom Jobim, como Olha Para o Céu, Samba Torto e Ai Quem Me Dera. Para a apresentação com a orquestra, foram feitas algumas concessões. Os sucessos Insensatez, Corcovado e Chega de Saudade. “É para as pessoas cantarem em casa”, diz Takai.

    A apresentação foi gravada no fim de julho, em uma tarde. Takai cantou junto com a orquestra, cercada de todos os protocolos de higiene. Apenas ela e Thiago Delegado não usaram máscara. Em função do uso do acessório, os instrumentos de sopros ficaram de fora.

    A parceria de Takai com Ana Carolina, que será exibida em outubro, também foi gravada no Sonastério. Já as apresentações com Diogo Nogueira, Lulu Santos e Alceu Valença serão realizadas em uma casa no bairro do Joá, no Rio de Janeiro, com vista para o mar.

    Alceu vai mostrar parte do álbum Valencianas, feito com a Ouro Preto e vencedor do 26ª Edição do Prêmio da Música Brasileira na categoria melhor álbum de MPB de 2014, além de números inéditos da segunda edição do projeto, previsto para ser lançado em 2022. Diogo Nogueira vai cantar músicas de seu repertório e composições de Cazuza, Ivan Lins e João Nogueira, acompanhado por um regional de choro. Ana Carolina e Lulu Santos cantarão seus hits.

    “Esse projeto mostra o Brasil em todos os sentidos, não só a música, com cinco artistas de diferentes vertentes, mas um país diverso, de serra, de mar”, diz o maestro Rodrigo Toffolo.

    Para Toffolo, a orquestra, criada há 21 anos, tem em sua característica esse olhar para a música popular. “É sempre um pêndulo. Quando gravamos Vivaldi, mostramos nossa excelência. Quando gravamos com Alceu Valença ou tocamos músicas dos Beatles, é a nossa versatilidade que aparece. Uma orquestra tem um poder ilimitado, pode acompanhar qualquer tipo de música”, diz.

    No palco

    O projeto Encontros Históricos, da Brasil Jazz Sinfônica, teve início em 2020. Depois de uma interrupção por conta da pandemia, foi retomado no último dia 14, com uma apresentação que uniu João Bosco e Zizi Possi no palco da Sala São Paulo. Com o fim das restrições anunciadas pelo governador João Doria no último dia 17, a sala passou a receber 638 pessoas.

    Segundo o diretor executivo da Fundação Osesp, idealizadora da série, Marcelo Lopes, Encontros Históricos nasceu após uma conversa com o ex-diretor da Jazz Sinfônica, Antonio Ribeiro, quando foram apresentados os concertos Popular-Sinfônico, no Festival de Inverno de Campos de Jordão. “Era um desejo de juntar as duas linguagens. Trouxemos para a Sala São Paulo, que é um palco muito querido para o público, um pouco mais incrementado, com dois artistas”, diz.

    No dia 28, será a vez de a cantora Jane Duboc e de o pianista e arranjador Gilson Peranzzetta dividirem o palco com a orquestra para interpretar músicas de Tom Jobim, Edu Lobo, Lô Borges, Lenine, entre outros. Até dezembro serão outras 9 apresentações – além de uma excursão da Jazz Sinfônica para 14 concertos em Dubai, no mês de outubro.

    Apesar de todo trabalho e dos arranjos diversos de cada apresentação, escritos por 18 arranjadores, o maestro Ruriá Duprat, na Brasil Jazz Sinfônica desde novembro de 2020, diz que todos estão entusiasmados, sobretudo após meses de afastamento dos palcos em razão da pandemia.

    Ele cita a apresentação de Edu Lobo e Mônica Salmaso, no dia 25 de setembro, ainda sem programa anunciado, e outro que juntará Hermeto Pascoal, Hamilton de Holanda e Arismar do Espírito Santo, em 4 de dezembro. “Pensei em pedir que a Sala São Paulo tire as cadeiras para que a gente assista de joelhos, mas acho que não vai rolar”, brinca.

    Assim como no caso da Ouro Preto, a Brasil Jazz Sinfônica também sobe ao palco sem os sopros, ou seja, estão fora os trompetes, trombones e saxofones – são 40 músicos no palco em vez dos 70 habituais. “Estamos sofrendo com isso, mas entendemos o cuidado. Os músicos de sopro estão abalados. Mas nosso protocolo é rígido. Fazemos teste toda segunda-feira, antes do primeiro ensaio”, afirma Duprat.

    Esse cuidado poderá interferir nos concertos que encerrarão a série, nos dias 18 e 19 de dezembro, com Gilberto Gil e o maestro e compositor italiano Aldo Brizzi como convidados. A ideia é que seja apresentada a ópera-canção Amor Azul, uma criação dos dois baseada no poema Gita Govinda – Cantiga do Negro Amor, escrito no século 12 por Jayadeva Goswami, sobre a história de Krishna, o deus do amor, e da camponesa Rhada.

    “Estive olhando as partituras e com metade da orquestra no palco não dá. Mas é uma decisão mais para frente”, diz Duprat. Ele já tem um plano B: o tropicalismo, com arranjos escritos por seu tio, Rogério Duprat (1932-2006), para grande orquestra e jamais executados. “A Jazz Sinfônica não faz concerto. Faz show. E bem para caramba. É para cima! Não estamos nos aproximando do pop. Nós somos pop. Esse é o babado”, diz o maestro, que escreve arranjos para a orquestra há 25 anos.

    Programe-se

    Brasil Jazz Sinfônica

    De R$ 50 a R$ 180, na Sala São Paulo: salasaopaulo.art.br

    28/8: Jane Duboc e Gilson Peranzzetta

    4/9: Chico César e Elba Ramalho

    25/9 Edu Lobo e Mônica Salmaso

    9/10: Geraldo Azevedo e Marcelo Jeneci

    Orquestra Ouro Preto

    No Canal 500 da Claro TV e no youtube.com/OrquestraOuroPreto

    Setembro – Diogo Nogueira

    Outubro – Ana Carolina

    Novembro – Alceu Valença

    Dezembro – Lulu Santos

    As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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