República dos pesadelos
Saldanha Marinho é bairro desta Cidade Imperial que homenageia jurista que ajudou a destronar a Monarquia e redigir a Constituição republicana. Mas cujo desencanto ficaria na história: “Essa não é a República dos meus sonhos”. Hoje podemos dizer mais: essa República Odebrecht é a dos nossos pesadelos!
Fracasso do modelo de república jamais republicana, alternando ditaduras ou mares de lama, mas à cuja sombra havia uma esquerda que sonhava mundo melhor. Mas o PT – herdeiro de lutas, sangue e utopias da esquerda – fez-se catalizador-mor do crescimento da direita. Hordas de jovens migram alegremente ao conservadorismo, desiludidos com a hipocrisia e a mão grande da ladroagem petista. Há até saudosismo dos militares. Repetem-se histórias como a do irmão de Castelo Branco. Ganhou um Aero-Willys dos funcionários aos quais ajudara num projeto de lei. Recebeu do ditador ordem de devolver o carrão. Disse que não ia fazê-lo, isso o desmoralizaria no cargo da Receita. Castelo respondeu: “que cargo, meu irmão? Demitido você já está, estou resolvendo é se você vai preso!”. Os tempos tenebrosos que vivemos fazem de histórias como esta bálsamos ilusórios pois, se mostram reta moral, ocultam a imoral crueldade da censura e da tortura.
Independente de delações premiadas, urge que a esquerda brasileira pare com esse discurso irritante “não falei, nunca vi, nem ouvi, nada sei, é golpe” e confesse seus muitos pecados. Seria patriótico e purificador. Livraria petistas residuais de arrastarem o fardo desse Lula de circo, ainda endeusado por ingênuos como um olímpico Zeus. Maldade que está gerando esquizofrênicos políticos. Vi num zap da vida, a declaração: “Lula, meu herói, quanto mais te batem, mais confio em você!”. Olha que encrenca! O Olívio Dutra não aguenta mais esse Lula, Tarso Genro idem, para quase todos no PT que ainda detém algum senso Dilma e Lula são fardo. Mas há petistas ainda hipnotizados pelo Lula de 40 anos atrás, que não existe mais e, parece, jamais existiu. Por isso outros zaps cobram do Lula das 87 testemunhas, que metralha processos por calúnia, difamação e perseguição, contra jornais, juízes, procuradores e policiais, o fato de não processar os Odebrecht que puseram seus podres a céu aberto. Por que será?
Confissão de pecados é necessidade teológica, psicológica e espiritual. É cura. Carta de Tiago (5-16): “Confessai as vossas culpas uns aos outros (…) para serdes curados”. Psicanálise e psicologia trabalham com certa forma de confissão, com vivências e recalques postos em palavra, para compreensão e tratamento. E confissão pode ser necessidade política. Na África do Sul pós apartheid, quando Mandela assumiu a presidência, se temia um banho de sangue. Mas escolheram o caminho da cura. Pela confissão! Uma Comissão da Verdade e Reconciliação ouviu criminosos de ambos os lados (negros e brancos) assumirem graves culpas. Aos prantos, pediam perdão, no mais das vezes, concedido.
Que a esquerda faça autocrítica, que Palocci e Dirceu confessem, que Lula confesse. E Dilma também, e Aécio, Temer, Cunha e Renan. Que se acabem todas as ilusões, à esquerda e à direita! Fim às mentiras! Para que o Brasil junte seus cacos e recomece, libertado pela verdade, acesa por esse facho de luz chamado Lava-Jato. Mas confissão exige coragem, humildade e vergonha na cara. O que escasseia. Mas seria patriótico, não seria? E em meio ao pesadelo, sonhar não custa nada.
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