• Uma história dos tempos do Império

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  • 06/04/2017 12:20

    “Chuva causa tragédia que se repete há mais de 100 anos”.

    Foi com essa manchete que a Tribuna noticiou dia 15 de março passado a última enchente em Petrópolis, que alagou o centro da cidade e as ruas Cel. Veiga e Washington Luís. Embora previsíveis, principalmente com as chuvas de verão, as enchentes parecem sempre nos pegarem de surpresa com as mortes (não poucas), e os prejuízos materiais. A cada quatro anos o prefeito recém-eleito precisa agir com rapidez para enfrentar as enchentes logo no início de sua administração.

    Uma das sugestões dos engenheiros é a construção de um novo túnel extravasor que facilite o escoamento das águas antes que inundem todo o Centro Histórico. Toma-se como exemplo o túnel extravasor inaugurado na década de 1970 e que tem sua entrada junto à rodoviária urbana – ele leva as águas do rio Palatinato diretamente para o rio Piabanha, no Itamarati. Embora importante, o túnel não funcionou adequadamente este ano na enchente que alagou a Praça da Inconfidência e arredores.

    Deixando as soluções para os profissionais, vamos nos ocupar das possíveis causas das enchentes na Rua do Imperador e arredores. O assoreamento e o estreitamento das calhas dos rios, a impermeabilização do solo com o asfaltamento das vias urbanas (consequências da urbanização crescente), as fortes chuvas nas cabeceiras dos rios Quitandinha e Palatinato; são fatores que, somados, fazem extrapolar a capacidade de escoamento no Centro Histórico. Sem esquecer a grande diferença de altura e pequena distância, das cabeceiras dos rios ao Centro – o que provoca transbordamento acelerado, surpreendendo a todos.

    Mas esse problema não é recente, e um “causo” relatado nos anos 1970 pode contribuir para esclarecer o mistério dos alagamentos constantes na região do Centro Histórico e ilustrar a manchete da Tribuna. Conta a história que, certo dia, o alazão preferido de Sua Majestade Imperial adoeceu, recebendo imediatamente todos os cuidados dos veterinários que atendiam os animais do Palácio em Petrópolis. No entanto, o tratamento não surtiu efeito e o pobre alazão piorava a cada dia. Pedro II não se fez de rogado e mandou subir à Serra os veterinários da Corte no Rio de Janeiro. Em poucos dias o Imperador recebia a notícia de que não havia remédio conhecido que curasse o mal de seu favorito.

    Estava já Sua Alteza conformado quando soube que havia chegado há pouco da Alemanha um jovem imigrante camponês com a fama de ser bom “curador” de animais. Esperançoso, o Imperador fez com que o jovem alemão cuidasse do pobre cavalo. Para surpresa geral, o tratamento surtiu resultado e o alazão se recuperou.

    Fez então Pedro II trazer à sua presença o campônio e ofereceu como recompensa parte da região onde hoje se encontra o Centro Histórico de Petrópolis. O jovem, com o conhecimento acumulado por gerações de camponeses de sua família, recusou. Ressabiado, o Imperador quis saber o porquê da recusa e o jovem de pronto respondeu: “De nada me serve esse charco! ”Porque o encontro dos rios de duas bacias numa área de baixada como é o centro de Petrópolis só podia redundar num imenso charco que, mais tarde, Koeller urbanizou com seu projeto.

    Para terminar esta história do Império, e encurtando a conversa, o que se sabe é que o jovem camponês não ficou de mãos abanando. Em sua magnificência, o Imperador perguntou quais terras queria então o campônio que, conhecedor dos segredos da terra, escolheu um trecho em um dos quarteirões de Petrópolis ali na região da atual avenida Barão do Rio Branco, onde plantou frutíferas e criou sua família. Ao que consta, seus descendentes estão por lá até hoje!

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