Caminhos e pousos
“- Dizei-me: qual é o modo por que pensais que hei de encher o vazio do meu temor, e trazer a lúcida claridade ao escuro caos da minha confusão?” – Miguel de Cervantes. Durante a nossa passagem pela vida encontramos a possibilidade de seguirmos inúmeros caminhos que nos levam a diferentes pousos. No quadro “Os dois caminhos” (ilustração popular pietista alemã), são visualizados “o caminho largo e o caminho estreito”, através dos quais e por opção, o homem chega ao mal ou ao bem. No filme “A encruzilhada” é dada, também, esta oportunidade de decisão. Na Bíblia e no I Ching inúmeras vezes é enfocado este assunto. Em numerosas outras referências podemos encontrar detalhes e mais detalhes esclarecedores. Sem dúvida nenhuma se pudéssemos escolher o nosso destino tomaríamos o caminho do bem. Porém, a ignorância, o meio e as circunstâncias, podem nos levar a atitudes desaconselháveis ou até mesmo condenáveis. O caminho do meio tem o sentido do equilíbrio. Durante toda a história incontáveis exemplos são descritos de decisões que levaram a situações do bem ou do mal. O Princípio é dual. O dia, a noite; o homem, a mulher; a alegria, a tristeza; o sol, a lua; o bem, o mal e assim segue… Quotidianamente enfrentamos situações em que os dois caminhos são colocados a nossa frente. Qual seguiremos e onde pousaremos? O equilíbrio é fundamental se quisermos beber no cálice do Santo Graal. Mas o que o cálice tem a ver com nossa decisão? Segundo a lenda, José de Arimateia teria recolhido no Cálice usado na Última Ceia (o Cálice Sagrado), o sangue que jorrou de Cristo quando ele recebeu o golpe de misericórdia, dado pelo soldado romano Longinus, usando uma lança, depois da crucificação. Em outra versão da lenda, teria sido a própria Maria Madalena que teria ficado com a guarda do cálice e o teria levado para a França, onde passou o resto de sua vida. Na literatura medieval, a procura do Graal representava a tentativa por parte do cavaleiro de alcançar a perfeição. Em torno dele criou-se um complexo conjunto de histórias relacionadas com o reinado de Artur na Inglaterra, e da busca que os Cavaleiros da Távola Redonda fizeram para obtê-lo e devolver a paz ao reino. Nas histórias misturam-se elementos cristãos e pagãos relacionados com a cultura celta. Na nossa história e no nosso momento continuamos a busca do Graal e aí sim o equilíbrio nos ajudará a encontra-lo. Não corra grandes distâncias. Tenha rotinas diárias, sempre que possível. Equilibre suas ações. Antes de tomar uma decisão, pense nas consequências. Uma recente matéria, publicada neste jornal (09.03.17), intitulada “Depois de fase de advertência Guarda vai reprimir flanelinhas”, nos leva a pensar que talvez o equilíbrio recomende que uma identificação social do indivíduo e uma oportunidade de emprego possa ajudá-lo a sair da marginalidade. Pense: todos somos humanos e muitos desconhecem as leis por não terem acesso a elas. Por que não se tomam atitudes contra o barulho das motos e a fumaça negra dos veículos? Todas devem obedecer um planejamento e uma fiscalização respaldados pelo equilíbrio. Decisões, caminhos e pousos as vezes não têm volta. Observemos que, tanto o sim como o não ou o bem e o mal têm três letras e as mesmas possibilidades. “As nossas opiniões são apenas suplementos da nossa existência e na maneira de pensar de uma pessoa pode ver-se o que lhe falta. Os indivíduos mais frívolos são os que se têm a si mesmos em grande consideração, e as pessoas de maior qualidade são apreensivas. O homem de vícios é descarado e o virtuoso é tímido. Deste modo tudo se equilibra: cada um de nós quer ser completo ou, pelo menos, quer ver-se como tal. ” – Johann Wolfgang von Goethe, em "Máximas e Reflexões".
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