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  • 05/03/2017 13:10

    Cursei o Admissão e o Ginasial no Colégio Santo Inácio no Rio de Janeiro sob a batuta dos padres jesuítas. Durante estes cinco anos tive aulas de latim. Sempre me saí bem nas provas pois era uma das minhas matérias preferidas. Certa vez foi passada como “dever de casa” uma dissertação sobre o Livro de Jó. 

    O Livro de Jó é um dos livros sapienciais do Antigo Testamento, vem depois do Livro de Ester e antes do Livro de Salmos. É considerada a obra prima da literatura do movimento de sabedoria. Também é considerada uma das mais belas histórias de prova e fé. Conta a história de Jó, onde o livro mostra que era um homem temente a Deus e o agradava. As inúmeras exegeses presentes neste livro são tentativas clássicas para conciliar a coexistência do mal e de Deus (teodiceia). A época em que se desenrolam os fatos, ou quando este livro foi redigido, é controverso. A autoria de Jó é incerta. 

    Alguns eruditos atribuem o livro a Moisés. O livro de Jó também é considerado o livro mais antigo da Bíblia, mais até que o livro de Gênesis. Um dos versículos que eu mais gostava, foi o utilizado no título deste artigo e muito apropriado aos dias que vivemos: “Depois das trevas espero a luz”. Todos esperamos, pois Petrópolis merece. Merece ser considerada e certificada como modelo para outras cidades do Brasil e até do exterior. Para isso precisamos de três pré-requisitos considerados indispensáveis ao sucesso: planejamento, conhecimento e intenção. No planejamento Petrópolis, no passado, deu exemplo. Em 1843, D. Pedro II começa a dar forma ao projeto "Povoação-Palácio de Petrópolis", de forma mais efetiva, graças à orientação de dois ilustres patronos: o mordomo da Casa Imperial e administrador dos bens de Sua Majestade, Paulo Barbosa e o major alemão Júlio Frederico Koeler, já há alguns anos servindo na engenharia das Forças Armadas. As dificuldades da empreitada não eram poucas. 

    A área onde hoje se encontra o Centro Histórico era pouco mais que um charco, cujo clima úmido e frio assustava os brasileiros. A distância era considerada impeditiva, já que vir até Petrópolis era uma viagem que incluía a travessia da Baía de Guanabara por barco e depois, uma áspera subida de 14 léguas em lombo de cavalos ou carruagem em declive acentuado. Koeler uniu-se à Paulo Barbosa, para convencer o Imperador a fundar uma colônia agrícola na fazenda do Córrego Seco. Entusiasmado, o Imperador assinou, em 16 de março de 1843, o decreto que criou Petrópolis – primeira cidade planejada do Brasil. D. Pedro II – e, em consequência, toda a sua corte – passava na cidade seis meses por ano, de novembro a maio: neste período, Petrópolis era, de fato, a capital administrativa do Império. Soberano afeito às artes e à ciência, D. Pedro II inaugurou a tradição que estabeleceu, em Petrópolis, uma concentração incomum de pessoas ilustres, reconhecidas ao longo destes anos: França Júnior, Afonso Arinos, Raimundo Correia, Rui Barbosa, Santos Dumont, Stephan Zweig, Gabriela Mistral, Alceu Amoroso Lima, Sylvia Orthof, e muitos outros. 

    Para dar seguimento a tradição devemos ter por base o planejamento da cidade e seus distritos e como subconjunto o das secretarias de administração. Perde-se o foco quando se tomam medidas “para apagar incêndios”. Perde-se tempo quando se analisam assuntos não prioritários. Atualmente o exemplo mais gritante disso é o caso das Vitórias, que se extintas, sem dúvida deixarão um rastro de despesas para a Prefeitura como, também, contribuirão para a descaracterização histórica e turística da cidade. Só uma pergunta não se responde: o que será feito dos cavalos?

    achugueney@gmail.com

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