• Correção: ‘Mercado de trabalho ainda está fragilizado’

  • 28/05/2021 14:49
    Por Cleide Silva / Estadão

    A nota enviada anteriormente, aproveitando reportagem da edição desta sexta-feira, 28, do jornal O Estado de S. Paulo, continha uma incorreção. O pico do desemprego deve ser alcançado em setembro, e não em junho, conforme Bruno Ottoni, economista e pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV) e da consultoria IDados. Segue a nota com o texto corrigido e ampliado, com a versão publicada e atualizada no Portal do Estadão:

    O recorde de desemprego verificado em março tende a ser superado até setembro, e chegar a 15,5% da população em idade para trabalhar, prevê Bruno Ottoni, economista e pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV) e da consultoria IDados.

    Pelo seus cálculos, que levam em conta a antiga Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), feita a partir de 1992, e depois substituída pela Pnad Contínua, em 2012, a taxa atual e o total de desempregados, de 14,8 milhões de pessoas, são os maiores em quase 30 anos.

    A seguir, trechos da entrevista.

    Qual sua avaliação sobre os dados divulgados pelo IBGE?

    Os números deixam bem claro que o mercado de trabalho está muito fragilizado. O que me chama a atenção é que essa taxa de 14,7% de desemprego é recorde não só em relação à série da Pnad Contínua, que começa em 2012, mas também em relação à série antiga, que era anual e começou em agosto 1992. Se retroagirmos os dados compatíveis com base na série que o Ibre criou para analisar o desemprego passado, vamos ver que é a maior taxa desde aquele período.

    O que deve ocorrer daqui para frente com o emprego no País?

    Minha projeção é de que a taxa de desemprego vai continuar aumentando até setembro e chegar a 15,5%. Daí em diante pode ser que o cenário comece a melhorar, mas vai depender de como avança a vacinação e o crescimento econômico. Se a vacinação deslanchar mais rapidamente podemos ter um terceiro trimestre razoável e chegar ao fim do ano com taxa de desemprego de 14,6%.

    Há chances de uma recuperação da economia?

    Há um crescimento econômico nesse início de ano que está surpreendendo positivamente alguns analistas, mas não é um crescimento suficiente para absorver todas as pessoas que saíram do mercado de trabalho. Muitas voltaram a procurar emprego pois não podem mais ficar em casa, precisam de sustento, por isso também que a taxa aumentou. O isolamento está caindo mesmo no auge da pandemia.

    O Caged divulgado na quarta-feira mostra saldo positivo na criação de empregos formais. Isso tende a continuar?

    O Caged é uma parte pequena do mercado de trabalho (envolve trabalhadores com carteira assinada), enquanto a Pnad é um retrato mais amplo. Mesmo que continue crescendo, não será suficiente para alterar de forma significativa esse quadro do mercado de trabalho porque muita gente está desempregada. E temos também recorde de desalentados e milhões de pessoas que estão fora da força de trabalho potencial.

    Uma eventual recuperação até o fim do ano deverá gerar mais vagas formais ou informais?

    Acredito que vamos ter um quadro de emprego com carteira assinada subindo, mas um quadro de emprego informal subindo mais. É comum em momentos de recuperação que as pessoas primeiro conseguem empregos informais e depois transitam para formais. Ainda mais numa situação atual, de elevada incerteza. A tendência é que empregador contrate informalmente pois, se tiver uma surpresa negativa tem custo zero de demitir. Mas se a recuperação se manter, se a economia começar a crescer e a incerteza começar a se dissipar, mais para frente o emprego se converte em formal.

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