• Uzo Aduba assume protagonismo em ‘In Treatment’, série que fala de covid

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  • 23/05/2021 07:15
    Por Mariane Morisawa, especial para AE / Estadão

    A quarta temporada de In Treatment estreia em um mundo e panorama televisivo muito diferentes daquele do capítulo final de seu terceiro ano, em dezembro de 2010. Por isso, era necessária uma atualização para sua volta, neste domingo, às 22h, na HBO e HBO Go, com dois episódios de meia hora cada, com sessões de terapia de dois pacientes diferentes.

    Amanhã, entram no ar outros dois, às 22h30, focando em outros dois pacientes. “Nós pensamos muito sobre como honrar o original ao mesmo tempo em que fazíamos uma renovação para tempos modernos e um público moderno. Os espectadores são muito diferentes hoje em relação há dez anos”, disse Jennifer Schuur, showrunner em parceria com Joshua Allen, em entrevista com a participação do Estadão, por videoconferência.

    No lugar do Dr. Paul Weston (Gabriel Byrne), o terapeuta branco de meia-idade das três temporadas anteriores, entra a Dra. Brooke Taylor (Uzo Aduba), uma mulher negra, solteira e sem filhos. A locação também mudou. Em vez de um sobrado chique em Nova York, as sessões agora acontecem numa casa com vista em Los Angeles, com muito sol e palmeiras, onde ela pode se movimentar mais livremente. “Assim pudemos trazer um ar diferente para a série, sem abandonar o formato de terapeuta e paciente falando sobre assuntos difíceis semana a semana”, disse Schuur.

    Para Uzo Aduba, foi empolgante ocupar esse espaço. “Nós vimos histórias sendo contadas sobre saúde mental. Eu, inclusive, estive do outro lado dessa discussão”, disse ela, referindo-se a Orange Is the New Black, pela qual recebeu dois Emmys por sua interpretação de Crazy Eyes. “Mas raramente vimos essa conversa acontecer com alguém como eu no papel de condutora dessa história.”

    A atriz espera que sua presença sirva como catalisadora para que pessoas não brancas se enxerguem não apenas como pacientes, mas também como terapeutas, que existem e estão por aí – embora estejam em número muito menor do que brancos. O estigma é grande ainda para essa parcela da população. “Eu trabalhei em Empire por cinco temporadas, um dos personagens tinha transtorno bipolar e não recebeu a ajuda de que necessitava. Nem seus pais entendiam o que estava acontecendo”, disse o co-showrunner Joshua Allen, comentando a série sobre uma família negra, dona de uma gravadora. Ele mesmo tem dificuldades em admitir que enfrenta depressão e ansiedade há 25 anos. “Eu não tenho vergonha de dizer que tenho asma, mas tenho de falar desses outros problemas”, disse. “Então a gente quer mesmo desestigmatizar isso, porque não significa que você é louco, só que precisa de ajuda. Mostrando uma paciente que tem uma aparência um pouco diferente do Dr. Paul Weston, e um grupo de pacientes um pouco diverso dos anteriores, gostaria que as pessoas se enxergassem na situação e percebessem que podem se beneficiar da terapia.”

    Os pacientes da Dra. Brooke Taylor são três. Eladio (Anthony Ramos, de Hamilton) é um jovem colombiano que trabalha como cuidador de um rapaz de uma família rica. Colin (John Benjamin Hickey) é um milionário que acaba de sair da prisão por ter cometido um crime de colarinho branco e precisa passar por sessões de terapia obrigatórias. Laila (Quintessa Swindell) é uma adolescente forçada pela avó a visitar a Dra. Brooke para tirar de sua cabeça a ideia de ser lésbica. A quarta paciente é a própria Dra. Brooke, que recebe a visita de sua amiga e confidente Rita (Liza Colón-Zayas) para lidar com seus problemas. Joel Kinnaman faz Adam, um ex-namorado de Brooke que reaparece.

    A diversidade dos personagens permite que a série aborde uma grande variedade de assuntos. “Desde o privilégio do homem branco até a injustiça racial, a experiência de ser uma mulher negra no mundo, a disparidade de classe que existe em muitos países, mas principalmente nos Estados Unidos”, disse Schuur.

    “São questões além das dificuldades de ser uma pessoa no mundo, com as quais todos lidamos, vindos das famílias de que viemos, dos lugares de onde somos, e das situações que enfrentamos”, completou ela.

    Além de atualizar para 2021 um programa lançado nos Estados Unidos em 2008, a ressurreição de In Treatment parecia oportuna num momento em que o mundo sofre com sua saúde mental por conta da pandemia. “Por isso resolvemos fazer a série de novo”, disse Allen. “Estamos vivendo um nível inédito de trauma, ansiedade, confusão e desespero, sem contar o custo econômico. Todos precisamos de ajuda para absorver tudo isso.”

    Logo de cara, ficou claro que não seria possível ignorar a covid-19. Mas ninguém queria ver atores de máscara, e os showrunners não sabiam como estaria a situação na data do lançamento. Há referências a vacinas, a Dra. Taylor atende em casa porque o consultório está num prédio com áreas comuns e elevadores, e Eladio faz terapia por videoconferência porque cuida de uma pessoa com comorbidades.

    A quarta temporada também fala de luto, com a própria terapeuta, que perdeu seu pai recentemente, mas não de covid. “Perdemos centenas de milhares de pessoas só nos Estados Unidos. Então temos esse luto coletivo acontecendo”, disse Schuur.

    “Ter a Dra. Taylor lidando com seu luto parecia importante, para que vissem o caminho percorrido, as dificuldades. Que é normal ter esses sentimentos e procurar ajuda. E que até mesmo uma terapeuta precisa de ajuda com isso”, completou. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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